9. Olhe para mim

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Katsuki estava agarrado à grade olhando para o chão distante, sua respiração ainda estava levemente descompassada. Decidiu que ficaria ali até o período da tarde acabar e todos os que estão nos clubes irem para suas casas ou até que uma funcionária da limpeza o mandasse ir embora.

Não acreditava no que havia feito, mostrar-se tão sensível na frente de outras pessoas é vergonhoso. Tentava esquecer o que o havia feito agir daquela forma.

Apesar de dizer à si mesmo que havia superado, sabia que no fundo nunca se livraria do sentimento de incapacidade ao fazer qualquer coisa. Pois tudo que tocava inevitavelmente o lembrava de sua mãe, e de como no fim, a deixou ir sem ao menos ter a deixado feliz

Perder a pessoa mais importante da sua vida sem dúvidas é bem impactante para qualquer um. É ainda pior se você convence a si mesmo que nunca foi importante de verdade na vida desse alguém.

Katsuki sempre sentiu que sua mãe não o amava, pois, o moldava para ser algo que não era. Moldava nele, o que queria ter sido.

Mitsuki desistiu de um futuro promissor ao descobrir que estava grávida. Não pôde recomeçar por ficar doente, então, a solução que encontrou foi tornar seu filho o sucesso que não pôde ser. Vendo sua situação piorando, acabou perdendo o carinho e afeto que tinha pelo filho, fazendo-a esquecer-se de como é ser uma real mãe.

Isso teve inúmeros impactos negativos no loiro, crianças não deveriam ser submetidas à esse tipo de pressão, e Mitsuki sempre deixou claro o que esperava do filho.

Isso foi um gatilho.

Depois da morte da mãe, Katsuki realmente acreditava que sua vida havia perdido o propósito. Agora quando tocava, lia, caminhava pela biblioteca, navegava na internet, passava pelos cômodos da sua casa, ouvia música e até mesmo quando se alimentava, era assombrado pela imagem de sua mãe o encarando para ter certeza de que ele não procrastinaria. Uma das formas de acalentar os sussurros sôfregos no seu âmago foi diminuir sua rotina, tornando-a algo básico e totalmente precário. Monocromático para dizer o mínimo.

Encontrou refúgio no teto abandonado da sua escola. Quase ninguém ia lá, e, por alguma razão, sentia-se bem ali.

Ainda ouvia os murmúrios abafados dos alunos, indicando que o período ainda não havia acabado. Ficou levemente frustrado, não queria permanecer mais tempo naquela escola sabendo que havia diversos alunos curiosos à respeito do seu estranho comportamento aparentemente fragilizado.

Frustrante.

Até mesmo sua casa vazia e fria parecia melhor que a escola.

Isso até sentir um toque caloroso em seu ombro. Como se pegasse fogo.

Sim... Era ele. Sabia disso sem nem precisar encara-lo.

24 tons de vermelho.

_ Hey... Está tudo bem? Jiro me contou o que houve.

_ ... Eu só... Não sei. - Disse ainda sem encara-lo, soltando em seguida um suspiro sôfrego.

_ Quer tentar conversar? - Questionou o ruivo amigável e compreensivo.

_ E-Eu... Não sei o que eu sinto, droga! - Suspirou - É tudo tão... Confuso. Merda, não sei nem me expressar!

_ ... Apenas encontre.

_ O... Quê? - Olhou com uma expressão confusa.

_ Encontre formas de se expressar. - Bakugou mudou sua expressão para um semblante compreensivo. - Música é uma forma. Você se expressou naquela hora, não é? Você tocou com o que estava sentindo.

_ Mas... Eu sequer ouvia os sons.

_ Não limite-se à somente um sentido! Sinta a música em você. Toque com a alma, não com as mãos. Foque em você e nos seus sentimentos, não nos pratos e tambores. Não olhe para baixo... Olhe para mim.

Bakugou que estava com a cabeça baixa levantou seu olhar de supetão para encarar os firmes orbes vermelhos flamejantes que queimavam seu interior.

_ Quando estiver perdido - continuou- Olhe para mim. Perca-se em meus olhos, mas não perca-se no desespero. Você vai tocar no festival.

_ Mas eu-

_ Não se preocupe. Tome o controle e quebre baquetas, mas não desista. Você disse que gosta de tocar, essa é sua chance de mostrar para que veio. Lembre-se... Quando se perder em desespero, procure meus olhos e perca-se neles.

_ Você... É bem presunçoso, não?

_ Só um pouquinho hehe.

_ Eu... Ainda não sei o que sinto.

_ Então sinta através da música.

_ Você sente através de quê?

_ De tudo uai.

_ Através de que você se expressa, animal.

_ Dos desenhos e das pinturas. Aliás vem comigo! Você tem que ver as paletas de cores selecionadas para formar a composição do show...

  "Você é um show de cores quentes."

Bakugou ainda não sabia o que fazer à respeito de seus sentimentos. Sentia medo. Não se livraria tão fácil assim da sensação de sufocamento que viver o trazia, mas o mundo não era mais tão frio assim.

O mundo agora era caloroso, brilhante, flamejante.

"Igual seus olhos."

Se os olhos são as janelas da alma, a alma de Eijiro é mais pura que as águas cristalinas de um lago desconhecido pela humanidade.

Calmaria... Excelente descrição. Apesar de o portador não possuir exatamente calma como traço principal da personalidade. Eijiro era calmo, mas com uma alegria e animação contagiantes.

O calor natural que emana de Eijiro o faz sonhar durante as noites solitárias em sua casa assombrada por lembranças ruins. Sonhos estes que jamais poderiam se tornar realidade.

Não sabia qual o efeito de Kirishima agia sobre si. Uma pessoa que conheceu à pouco tempo é capaz de fazer mudanças tão significativas assim?

_ Aqui, come isso! É muito bom! - Disse Eijiro com um espetinho de Dango próximo à face de Bakugou.

"Doce..."

Todos os momentos ao lado de Eijiro eram adocicados.

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Desculpe a demora. Espero que tenham gostado 💛

Obrigada por ler.

O Menino do TelhadoOnde histórias criam vida. Descubra agora