Sombra da terra

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Em memória de todas as neves de antano.

Weh mir, wo nehm ich, wenn
Es Winter ist, die Blumen, und wo
Den Sonnenschein,
Und Schatten der Erde?
Friedrich Hölderlin

Attends, attends, lui disait-il, attends,
j'ai plaint, pleuré, il y a dix ou onze matins,
plusieurs minutes, mon réveil
Alexandre Bonnet-Terrile

Introdução

prego piedade
                       pois já não sei falar
fui em rádios de pé na lama inferno meu sem quando
fui o terrível de monstro e ventral
chuva na rua que o grito sem secreto
a esfinge elétrica como em cada cristal absurdo roto
prego piedade
                       pois não sabia ser o humano uma ave
com a boca feita para o canto

mas ouvi
tenho uma fouce no pulso em aberta
de névoa que as manhãs
     roda que sou
e em cada cão os quantos relógios
vida que eu medi chegada em
manhãs de não de novo
vomita vinho a minha parede Internet
               como arranjo
isto? e hop a noite o ninho de vespas na mão
pulando numa botelha um há
alguém aí?

cada carro um nado fui
          o automatismo que não espero perder
anadiemeno sempre com numisbeiços   a sombra ainda vagando na rua
e olho a janela o reflexo sorrindo
a luz sopapo pouco gentil
e grito
          odeio o estilo
aceito a corrente do ônibus
o deus buscando o nihil
sem mudança já
                          por enquanto
a sua mão com só três nomes
a morte   o sol   a galáxia

fiz o que pude
prego piedade
ouvi

I
Figuras de evolução

nigredo
albedo
citrinitas
rubedo

tato-espelho
nele reconheço-
te reconheço-
me e
quem sou eu senão o solo a pedra
sobre o sol?

olho a fitar pineal sem   pálpebras nesta areia azul da   luz que em cegos
e a morte é um país de semente de ser constância nonato 
                        de ave de ser decembrino
esta consciência do bem que vem com o golpe
vez
       após
                 vez
que vem com o golpe em raio de terra

quem és?
o tordo ergue cinza da terra
e tudo vem de vez

em alfaias por sangue ou passo de mar enlutado
voltaremos a este lugar?
aberta ardendo gardênia

          homem velho só não é mui tarde ainda
onde habita a destra bailarina
como discernir a chave da corola?

tremer acaso pola ração da sombra?
o albor trazeria escamalho e redes
a águia girando na cima do monte o seu espelho

fui apanhar a erva da noite
natura está morta     lembra o seu nome
                             lembra
pregado nome mais alto que fosse encher
se luz iremos
na tua mão buscá-lo
na tua areia
dançar iremos neve e soluço
se treva

e deus criou o ser humano e   deu-lhe livre-arbítrio
as células que em gritando
baixo a peste de vime
lua por chuva     lua por dádiva
aura santa e morada a
                             ternura
e mesmo os olhos tão azuis
podre em goma o pelo
que se ergue em confuso
e o intre tão
                      delicado
momento cessão ou lástima
e deus criou-te e   deu-te livre
          redime-te

cascos batendo em eterno de vento
voltaremos a este lugar?
voltaremos a este lugar?

e o ter em rosto teu em mãos de inverno
e gris repetir do delírio meu

e o ter em rosto teu os teus
                                        membros
e o sofrer os passos do sangue meu

e o ser deus preto em cada verbo teu
fetal de outra vez em astro meu sangrando
          a pele

e o ser longínquos pássaros teus a forma
terrível da minha vida ou nada cosida em cadavres

SABÍAMOS QUE ERA A MORTE NOSSA
CHAMÁRAMO-LA

o sangue corre à lua pola rocha
e a testa do galo   rodou sem canção

triângulos de água
os seus segredos cantos
por fim na casa ardente
da larva da moreira

II
Plenilúnio

gate gate pāragate pārasaṃgate bodhi svāhā

sem comprender
que as trevas
são diversos graus
de luz

Poemas IIOnde histórias criam vida. Descubra agora