14. A Beira

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Quatro semanas, se passaram quatro semanas desde a visita do meu irmão, aparentemente ele e Daniel realmente viraram melhores amigos, pois trocam mensagens pelo celular todos os dias! Confesso que isso já está me irritando, pois, adivinha qual o tópico mais comum nas conversas deles... exatamente eu sou o tópico mais comum, eles ficam confabulando nos bastidores sobre a minha pessoa, como se não bastasse agora o Daniel olha para a minha cara e fica se segurando para não rir, eu fico sem saber o que está acontecendo e isso me deixa possesso. Mas o pior de tudo é que eu não tenho coragem de perguntar para o Daniel sobre como está o meu irmão, sobre a viagem, se está tudo certo... isso me corroía por dentro, eu não conseguia ser a droga do irmão que eu devia ser, perdi as contas de quantas vezes eu travei olhando para ele sem ter coragem de falar, quanto tempo eu passei no chuveiro ensaiando perguntas simples que no final não passaram de um desperdício de água, embora elas tenham me rendido uns bons sustos no Daniel que achou que eu tinha ido pelo ralo do banheiro... tudo bem não foi isso que ele achou, mas ele tinha uma parcela de culpa no que estava acontecendo então ele merecia sofrer um pouco... ah está bem ele não tinha culpa nenhuma, eu só estou frustrado e quero um motivo para descontar nele! É claro eu jamais teria admitido isso em uma situação normal, mas quem eu quero enganar discutindo comigo mesmo? Sim, até eu percebo o quanto o eu sou sem noção de vez em quando, mas sei lá esse tipo de situação é nova para mim e pode ser que eu esteja pensando demais, ou talvez eu esteja só evitando o que eu mais queria fazer, que seria ligar desesperadamente para o meu irmão e saber se Aurora disse sim.

Como se o universo quisesse jogar na minha cara o quanto eu era covarde, Daniel entrou no quarto falando no celular:

"Ele está acordado sim, apesar de estar me olhando como se eu fosse um ET... hahaha... Vou passar para ele... É seu irmão"

Ele estendeu o celular na minha direção enquanto exibia aquele sorriso sonso, com aqueles dentes brancos e brilhante... que vontade de quebrar aqueles dentes, ele insistiu um pouco mais com o celular e eu entrei em pânico, acabei estapeando a mão dele como uma criança que faz birra para não comer, o celular voo pelo quarto e aterrissou de quina no chão perto da porta, Daniel olhou para minha cara incrédulo, eu corri para a cama e me sentei encostado na parede abraçando as pernas enquanto fitava o chão nervoso, não sabia o que tinha dado em mim, e não sabia como encarar o Daniel agora que provavelmente espera de mim uma explicação e talvez um celular novo, fiquei em silêncio torcendo para ele ir embora, mas obviamente isso não aconteceu, ele pegou o celular e analisou o estrago enquanto soltava um suspiro audível, é com certeza vou ter que comprar um novo para ele, não demorou muito para ele sentar ao meu lado na cama me encarando, claramente esperando alguma explicação por mais esdrúxula que ela fosse. Mas logo ele desistiu de esperar por minha espontaneidade.

"E então? Temos algum motivo para isso ou você só queria reafirmar sua opinião sobre os Iphones para mim? Juro que eu já tinha entendi que você não gosta deles na nossa última conversa..."

Ele disse isso com um meio sorriso e com a cabeça curvada para entrar no meu campo de visão, eu tentei sorrir de volta mas estava muito constrangido pelo que eu fiz e acabei virando o rosto para o lado oposto antes de responder ou melhor murmurar um pedido de desculpas, mas obviamente isso não foi o bastante para ele, devagar como se eu fosse um gato arisco ele colocou a mão no meu rosto e me forçou a encara-lo.

"Wil... Não precisa me contar se não quiser, mas pode pelo menos me dizer se eu te fiz alguma coisa?"

Eu o encarei por um longo tempo pensando em como me explicar, mas nada fazia sentido na minha cabeça.

"Daniel... você... você não fez nada... Eu só estou um pouco confuso hoje, e ..."

E de repente minha tempestade emocional estava totalmente fora de controle e as lágrimas caiam como uma cachoeira dos meus olhos , eu chorava como se fosse uma criança assustada, mas acho que era exatamente isso que eu era, toda essa história de pedido de casamento acabou me levando de um estado de felicidade extrema para completamente apavorado, se ela dissesse não eu ficaria arrasado, meu irmão ficaria triste e eu teria perdido minha única amiga oficialmente, se dissesse sim, eu seria o padrinho deles, teria que sair da minha redoma vidro e encarar o mundo lá fora, teria que me esforçar para os médicos me deixarem ir ao casamento, eu teria que me manter estável, e bom eu estou aqui há um tempão então dá para imaginar que eu não faço ideia de como fazer isso!

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⏰ Última atualização: May 10, 2021 ⏰

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