13.Irmãos

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Já se passaram dois dias e não terminei minha "lição de casa", mal consegui responder as perguntas: "o que eu estou fazendo aqui?" E "se eu estou feliz aqui?", como eu vou saber o que eu quero fazer? Eu não sei nem se vou sair daqui ... Eu não sei nem se eu quero sair daqui... é difícil admitir, mas eu gosto de ficar aqui, mesmo com o Daniel de babá, mesmo com os medicamentos, mesmo sabendo o que isso significa, eu me sinto muito mais leve dentro dessas paredes do que me sentia no meu apartamento, eu não sei se isso é só pela comodidade, se é o meu medo de encarar o mundo lá fora falando ou se realmente eu não vejo mais lugar pra mim no mundo lá fora. O que eu faria da minha vida se eu saísse daqui? O que tem lá fora para mim agora? Não fiquei muito mais tempo nesse dilema. Não chegaria muito longe pensando sozinho, eu não sabia como estavam as coisas lá fora, o que me levou a outro dilema: como estavam as coisas na minha casa? Eu não sabia nada sobre o que se passava por lá, eu não sabia como estavam meus pais, meu irmão, meus primos, já fazia tempo desde a última vez que alguém veio me ver, não havia me dado conta mas foi a primeira vez que eu fiz uma proeza e não ligaram pra minha família, bom eu acho que não ligaram, ou isso ou minha família desistiu oficialmente de mim, eu não sabia o que pensar sobre isso, quando o Daniel entrou no quarto me impedindo de continuar meus devaneios que provavelmente oscilariam entre autocritica e auto piedade.

"Como está o seu humor hoje?"

Foi engraçado ouvir isso, a única pessoa que me perguntava isso era o meu irmão, quando precisava de dinheiro. Achei a pergunta meio estranha vindo do Daniel, era a primeira vez que ele me perguntava algo do tipo, e pra ele o meu humor não importava muito, ele seria animado e falante não importa o quão emburrada minha cara estivesse, ele já sabia o meu humor depois de cinco minutos comigo não precisava perguntar e duvido que ele fosse me pedir dinheiro, mas achei que seria uma brincadeira válida .

"Depende, quanto você precisa?"

Ele ergueu as sobrancelhas, não entendeu minha resposta obviamente, era como eu respondia meu irmão, mas eu me sentia mais confortável respondendo dessa forma, era sarcástico, era uma piada, era familiar, era o que eu precisava.

"Como assim "quanto eu preciso"?"

" Meu irmão..."

"Seu irmão?"

"Ele me fazia a mesma pergunta quando precisava de dinheiro..."

"Ah isso faz muito sentido agora..."

Ele sorriu, deu uma risada leve e negou com a cabeça, antes de prosseguir

"Seu irmão está aqui, me pediu pra te perguntar isso antes de te avisar..."

Não pude evitar de sorrir, foi como se universo quisesse jogar na minha cara que eu tinha que parar de ser dramático.

"Pergunte pra ele quanto ele precisa"

Daniel saiu rindo, acho que foi falar com ele, fiquei imaginando o que seria, meu irmão nunca veio sozinho, por um momento eu temi que algo tivesse acontecido, mas logo desisti desse pensamento, se fosse algo ruim ele teria entrado direto e falando pelos cotovelos desesperado, como quando nosso pai foi internado para remover uma pedra do rim, ou quando a nossa mãe quebrou o braço, lembro bem que enquanto ele tagarelava desesperado, meu pai ou minha mãe tentavam sutilmente fazer ele calar a boca, com medo da minha reação, era até engraçado, eu gostava de como meu irmão se irritava com os meus pais depois, ele não gostava de ter que agir diferente ou me tratar diferente, para ele não importava o que eu tivesse feito, eu era o irmão dele e pra ele acabou, acho que por isso ele não gostava de vir com os meus pais.

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