11. Bom Dia!

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Eu não tinha certeza se era uma boa ideia, mas resolvi que seria no mínimo engraçado, eu era a única coisa entre ele e o sonho dele, e não importava o que eu fizesse, ou o que eu dissesse ele nunca desistiu ou perdeu o sorriso, não sei se foi ele quem me atingiu, ou se fui atingido por mim mesmo, quando ele entrou no quarto, me levantei e fui na direção dele , ele me olhou e tentou me analisar, mas acho que nada o prepararia para o que eu estava prestes a fazer, eu o abracei, um grande abraço de urso, ele ficou tão pasmo que nem retribui-o, quando eu o soltei ele me olhava com a careta mais hilária do mundo, queria ter uma câmera para registrar o momento, eu segurei seus ombros e disse "BOM DIA", em alto e bom som, com um enorme sorriso no rosto, porem pela reação dele acho que eu estava meio enferrujado nesse negócio de sorrir, o sorriso que eu esperava que fosse parecer radiante, devia estar mais pro sorriso de psicopata que eu costumava fazer para assustar meus primos, porque eu realmente assustei ele, ele começou a checar meus pulsos, meu pescoço, foi até a minha cama e revirou os lençóis, arrancou a fronha dos travesseiros, correu até o banheiro, e pelo barulho ele deve ter quebrado alguma coisa, eu já não estava entendendo nada, não fazia sentido nenhum, foi quando me dei conta, ele achou que havia tentado, ou que ia tentar de novo alguma das minhas proezas, ele deve ter lido sobre sinais e mudanças de comportamento, eu não sabia se ficava chateado, ou se ria da situação, eu fiquei com pena dele, me lembrou o que aconteceu no dia que o conheci, cara depois de cuidar de mim, ele que vai precisar de muita terapia.

Quando ele passou por mim novamente eu segurei seu braço.

" Daniel relaxa, eu não tentei, nem vou tentar proeza nenhuma, será que eu não posso uma vez na vida acordar de bom humor."

Ele me olhou nos olhos, e seus olhos começaram a marejar, não demorou muito para lagrimas rolarem livremente por sua face, eu não conseguia entender, ele cuidava de mim tinha pouco mais de duas semanas, e eu definitivamente não era uma pessoa pela qual as pessoas se apegam com tanta facilidade, ao ponto da simples ideia de eu tentar deixar esse mundo fazer a pessoa sofrer dessa forma, não mesmo, acho que mesmo que ele estivesse pensando que perderia o estágio, essa reação seria no mínimo exagerada, fiquei sem saber o que fazer por um tempo, gente chorando ou em desespero não é bem o meu forte, acho que nada é o meu forte quando se trata de gente, mas eu fiz o que eu sempre vi os outros fazerem, eu o abracei, dei tapinhas nas costas dele e disse que ia ficar tudo bem, eu me senti meio ridículo, não só pela cena que devia ser no mínimo estranha, tipo o cara era bem maior do que eu , eu devia parecer uma criança consolando um adulto, e também porque se eu não sabia nem o porquê dele estar nesse estado como eu podia dizer que ia ficar tudo bem?

Eu estava começando a entrar em desespero quando, não sei se o universo decidiu terminar de me avacalhar, ou se ele decidiu me ajudar, minha psicóloga entra no quarto, sem bater pra variar, ela me olhou com uma cara engraçada e fez menção de sair, eu estiquei o braço, e gesticulei me ajuda da melhor forma que consegui, acho que Daniel voltou a si nessa hora, ele se afastou e se virou, quando viu a Dra. Zoraide , tentou rapidamente se recompor e enxugar as lagrimas, mas foi em vão, parecia que quanto mais ele enxugava mais elas brotavam, era como tentar matar um Hidra cortando a cabeça, para cada cabeça cortada duas nascem no lugar. Zoraide me olhou desconfiada e nos fez sentar no chão perto da janela, as lagrimas de Daniel cessaram, mas ele ainda tinha os olhos inchados, ele ficou com a cabeça baixa olhando para as mãos, eu sentei e apoie minha cabeça no meu punho, esperei a Zo se acomodar e fiquei encarando o Daniel, sério eu estava muito perdido.

Mas quando eu achei que não tinha como eu ficar mais confuso, eis que minha amada psicóloga vira para mim e me pergunta:

"O que foi que você fez?"

Eu fiquei indignado, como ela pode achar que aquilo foi culpa minha? Está certo que eu não sou o cara mais legal do mundo, mas nunca fiz ninguém morrer de chorar desse jeito... bom talvez eu tenha feito a última estagiaria de enfermagem chorar de raiva por insinuar que ela era incompetente , e pode ser que um ou dois enfermeiros tenham se demitido aos prantos por eu ter dado a impressão de que tentei uma das minhas proezas por culpa deles, e semana passada eu disse alguma coisa que fez a irmã de um interno ter um ataque de choro no meio do saguão, mas em minha defesa nessa última eu estava em um apagão e não faço ideia do que eu disse para ela, ok ... eu confesso a culpa podia muito bem ser minha, não que eu faça de propósito, mas eu sei que faço, porem a não ser que eu tenha tido um apagão muito bizarro, eu não fiz nada dessa vez, tenho certeza.

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