Capítulo 9

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Santos guiou Taís até uma mesa e se sentou de frente para ela e para a cozinha, assim caso alguém tentasse sair ele perceberia de imediato. Taís se ajeitou na cadeira tentando encontrar uma posição mais confortável para se sentar. Santos pegou o celular e abriu o notas.

- Me diga Taís... A pensão possui alguma porta dos fundos? Ou algo assim?

- Não, não. Só temos a porta de entrada mesmo.

- E janelas? Todos os quartos dessa pensão tem uma?

- Sim.

- Inclusive a cozinha e aquele cômodo ao lado dela? – Taís olhou de relance para trás e depois tornou a encarar Santos.

- A cozinha tem duas janelas, mas o quartinho, que é aquele cômodo que o senhor falou não tem nenhuma.

- Essa foi a única vez em que você veio na cozinha essa noite?

- Sim. Acordei com um pesadelo... – ela limpou os olhos com as costas da mão –, e desci para pegar um copo de água.

- Certo. Presenciou qualquer movimentação ao chegar aqui embaixo?

Ela hesitou por um instante e limpou a garganta antes de falar.

- Não. Não notei nada.

- Nem mesmo na escada que dá para o segundo andar?

- Não.

- Percebeu algo de anormal acontecer com Inácio durante a semana? Algo que ele tenha falado... Qualquer coisa assim?

- Eu não tenho muito contato com Inácio – disse. – Essa semana mesmo, ele só veio um outro dia... mas foi como outro dia normal. Ele só bebeu e foi embora. Aí hoje... – ela avistou o cadáver e sua expressão mudou para o medo –, isso aconteceu. E teve as brigas mais cedo. Ele discutiu com dois hóspedes.

- Sei. Mais alguma coisa?

- Não que eu me lembre.

- Tente se focar. Eu preciso que seja sincera comigo, então vou te perguntar novamente: Taís, você viu alguém quando desceu na cozinha para pegar seu copo de água?

Ele percebeu a inconveniência que a pergunta causou. Os olhos dela se arregalaram e Taís levantou o tronco assustada. Sua boca se abriu mas ela parecia ter perdido as palavras.

- Eu... eu, não vi ninguém – falou.

- Mentir não vai ajudar a resolver o caso.

- Eu estou falando a verdade – sua voz se tornou mais alta e mais rápida. Ela estava ofegante.

- Ei, calma! O fato de você ter visto alguém aqui embaixo, não significa que foi essa pessoa quem matou Inácio.

Não é bem assim. Mas ela precisa se acalmar, ou não vai me dizer mais nada.

Taís ponderou por alguns segundos, então se acalmou ao se conformar com a afirmação dele. Seus olhos se fecharam por um curto tempo e depois se abriram novamente acompanhados de um suspiro.

- Então... O que você viu na hora em que desceu aqui?

- Na verdade, eu não vi ninguém – ela se apressou em dizer. – Eu ouvi um barulho vindo do quartinho. Quando olhei na direção percebi André se deitando no colchão.

- Acha que ele estava indo dormir?

- Não tenho certeza. Ele é suspeito?

- Todos são suspeitos. Mais alguma coisa?

- Não, só isso.

- Tudo bem. Agora você pode ir. Chame a hóspede, por favor.

Ela assentiu e saiu devagar deixando Santos sozinho na mesa. Ao adentrar na cozinha foi logo se encontrar com o namorado que permanecia próximo de sua mãe, o lugar estava silencioso e o barulho da chuva era constante.

- Ele disse que você é a próxima – ela apontou para Suly que se desencostou do tanque, ajeitou seu cabelo debaixo do pequeno chapéu e seguiu em direção ao saguão.

- Como foi? – André sussurrou assim que ela se acomodou debaixo de seu braço.

- Foi bem. Normal.

- Normal? – seus olhos se estreitaram com a informação. – Como assim normal?

- Não foi a primeira vez que Inácio arrumou problemas por aqui. Já tivemos que passar uma noite inteira na delegacia até que recolhessem o depoimento de todos depois de ele brigar com um hóspede.

André se aproximou dando-lhe um beijo no alto da cabeça.

- Você não vai mais ter que passar por esse tipo de situação – ele disse.

- É... – ela falou, mas sua voz não era de alívio.

Santos ouviu passos. A hóspede se aproximava. Ele a olhou de relance e depois fez o mesmo para o corpo coberto ao lado.

Sangue No CarpeteOnde histórias criam vida. Descubra agora