Capítulo 10

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Elegância. Essa era a palavra que veio à mente de Santos assim que Suly despontou na porta da cozinha. Apesar de claramente não estar em posse de suas melhores roupas, ainda assim se mantinha com classe. Parecia até caminhar de um jeito próprio, tinha um rosto bonito, e que só melhorava com aquele pequeno chapéu escuro.
Ela se aproximou e arrastou a cadeira devagar.

- Vi que teve um imprevisto envolvendo a senhora assim que chegou na pensão...

- Sim, está certo.

- Qual é o seu nome?

- Suly, com “y” no final – Santos não levantou os olhos, continuou digitando no celular.

- No que você trabalha, Suly?

- Sou atriz. Bastante conhecida aliás, fiz várias novelas muito famosas, algumas inclusive, lembradas até hoje.

- Bem... Infelizmente não tenho costume de acompanhar, caso contrário teria a reconhecido.

- Provavelmente – ela concordou enquanto balançava a cabeça.

- Qual o número do seu quarto?

- Número cinco.

- Então, Suly... Relate para mim o que aconteceu desde a hora em que chegou até o momento em que foi dormir.

- Pois bem, assim que cheguei fui até a recepção e pedi um quarto. Fui muito bem atendida, só que esse homem – ela olhou para o cadáver de relance – ele tentou pegar meus brincos. Eu afastei sua mão e ele começou a discutir comigo. Depois tomou a chave da mão de Dulce, a atendente, e me ameaçou dizendo que eu não ficaria aqui se não me desculpasse.

- Pelo quê?

- Eu não sei, um motivo qualquer. Ele estava bêbado, pessoas assim ficam loucas. O senhor já deve ter visto muitas.

- Sim. Prossiga. O que aconteceu depois?

- Fui para o meu quarto, tranquei a porta e me deitei, ainda com receio.

- Receio de quê?

- De que ele tentasse invadir meu quarto durante a noite, é claro. Ele estava desorientado, tentou pegar minhas joias de mim. Eu não sei se ele sabe a diferença, mas meus brincos não são bijuterias, então talvez ele pudesse querer roubá-los. Não sei, talvez ele tentasse arrombar a porta do meu quarto durante a noite. Resolvi me precaver.

- Mais alguma coisa?

- Não tenho certeza – ela meneou com a cabeça cautelosamente decidindo se falaria ou não.

- Está se lembrando de algo?

- Humm... – ela suspirou pensativa e voltou sua atenção para o homem do outro lado da mesa. – Depois de um tempo no quarto, eu escutei uma voz no corredor.

- Um voz?

- Sim, uma voz.

- Quando exatamente?

- Não sei, mas foi pouco tempo depois que eu tinha passado pela recepção.

- E você conseguiu entender o que essa voz dizia?

- Sim. É... Eu não escutei a frase toda, acredito que só peguei o final. E era "... seu último erro, seu velho idiota". É, acho que foi isso.

O olhos de Suly estavam naturalmente abertos e sua voz não vacilava.

- E depois disso? Mais alguma coisa?

- Pode ser.

- Diga – encorajou santos. – Mesmo que seja algo pequeno.

- Eu acho que escutei um barulho no andar de cima. Parecia uma porta se abrindo.

- Tem certeza?

- Parecia, mas não tenho como garantir. Estava deitada e ouvi um barulho que agora eu raciocínio como tendo sido uma porta sendo aberta. Eu tenho um pouco de insônia, às vezes demoro para dormir e nessa hora o sono estava começando a aparecer então estava sonolenta, porém quando estou dormindo meu sono é pesado, diferente do reto da minha família. Alguns assim como eu tem insônia e outros são piores já que são sonâmbulos, coitados.

- Entendo. Quanto tempo depois de ir se deitar você pensa ter escutado essa porta se abrindo?

- Foi um bom tempo depois de escutar a frase que eu lhe falei.

- Certo. A senhora carregava um canivete mais cedo, e como disse que estava com receio de ter o quarto invadido eu suponho que esteja com ele agora, não é mesmo?

Ela pareceu incomodada mas retirou devagar o objeto de dentro do bolso da blusa e o estendeu para Santos. Ele o pegou usando a barra do terno e abriu o objeto o analisando

- Mais alguma informação a acrescentar? – ele perguntou enquanto o metal refletia a luz da lâmpada.

- Acho que não.

- Certo. Mas antes de ir – ele levantou o olhar da lâmina para ela –, me diga como você acabou nessa estrada horrível?

- Ah, eu tenho parentes no município, então aproveitei para vir visitá-los – ela ofereceu um sorriso largo. – Aproveitando as férias um pouco, fazia tempo que não os encontrava.

- Aproveitando as férias né?! Que inveja. As minhas teoricamente começaram ontem à noite... – ele rui de leve por um momento. – Mas enfim, o trabalho me chamou e eu não posso recusar, afinal alguém está precisando de ajuda.

- Tem razão.

- Bem, era isso. Você já pode ir. Chame um dos homens para mim, por favor.

- Claro.

Suly se levantou e segundos depois ela já estava distante passando pela porta da cozinha. Da mesa onde estava, Santos viu quando ela pronunciou algo e um hóspede atravessou a porta vindo em sua direção.

Sangue No CarpeteOnde histórias criam vida. Descubra agora