Capítulo 19

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O luz do sol invadiu o lugar pelas gretas da janela e o alívio no peito de Santos aumentou timidamente.

- O que está acontecendo aqui? – Dulce perguntou.

- Afaste-se deles senhora – Santos falou e ela se moveu mais para o lado puxando a filha. Suly também deu um passo mais distante, mesmo a ordem não sendo para ela.

- O que eles fizeram? – Suly questionou. – Você não é policial, no final das contas? É isso?

- Não.

- Então o quê?

- Minha senhora, esses homens são criminosos procurados pelo país inteiro.

- Criminosos? – Dulce repetiu para si mesma. – Então... Inácio... estava mesmo fazendo negócios...

- Ele recebia dinheiro demais pelos poucos serviços que fazia – Bernardo disse. – Nunca desconfiou?

- Silêncio – Santos alertou.

- Tão autoritário... – Bernardo se virou na direção dele. – O sucesso subiu à cabeça? Detetive Santos?

Santos piscou de surpresa.

- Desde quando você sabe?

- Desde sempre.

Um pingo desespero passou por sua cabeça ao se dar conta de que nunca esteve realmente disfarçado. Bernardo sorriu do outro lado do cômodo.

- Eu sempre esperei que você tentasse se infiltrar na nossa gangue – Bernardo continuou.

- Bem... espionagem não é... – Santos fez um gesto de leve com a cabeça –, minha área.

- Ah, que pena. Você seria muito bem recebido. Eu faria isso pessoalmente.

- Sei... e seria uma recepção tão calorosa quanto a trilha de corpos que você deixou na antiga fazenda onde ficava a sede da sua organização?

- Com você eu faria diferente – ele disse.

Um segundo se passou e Santos iria respondê-lo, mas uma sirene familiar soou no exterior e ele apertou ainda mais a mão em volta da arma deixando bem claro o que aconteceria se um dos dois tentasse qualquer coisa. 

Os policiais fizeram uma rápida pausa ao passarem pela porta e darem cara com os dois criminosos os encarando, Santos manteve sua outra mão firme atrás do pescoço de André. O rapaz começou a se mexer na cadeira e a ficar nervoso ao ver as algemas chegando mais perto, ele até tentou se levantar mas Santos o empurrou novamente para baixo.

Bruno apareceu e pegou André, os outros se aproximaram ainda relutantes mas algemaram os irmãos Lima e os empurraram com arrancos e sorrisos tímidos até saírem da pensão.

Bruno levou André em seguida. As mulheres desabaram nas cadeiras ao ficarem livre daquela situação. Santos se aproximou e perguntou se alguma delas precisava de algo, mas as três o tranquilizaram ao afirmarem que estavam bem.

- Obrigado – Dulce falou. – É uma desgraça esse resultado... Inácio não era uma pessoa nem um pouco fácil  mas nem ele merecia... isso – sua voz falhou por um momento e a filha a abraçou mais forte.

Santos assentiu e saiu na sequência, mas não foi para o lado de fora, ficou parado na porta observando André ser colocado no banco traseiro da viatura, o rapaz já não lutava mais para escapar. Ele olhava pela janela com um olhar de desespero que Santos conhecia pelos vários que já viu presentes naqueles que faziam algo pelo impulso e depois acabavam se arrependendo. Porém já era tarde demais e o olhar de André deixava Santos triste pelo futuro que o garoto ainda poderia ter com a namorada e com seu sonho de entrar na polícia, um futuro jogado fora. Uma pessoa que poderia fazer a diferença do jeito certo, mas que acabou escolhendo um caminho diferente.

Bruno subiu as escadas e deu um leve toque no ombro dele.

- Tudo bem? - perguntou, e em seguida olhou na mesma direção que o amigo.

- Tudo - Santos respondeu sacudindo a cabeça. - A... arma do crime está jogada na escada.

Bruno assentiu e entrou, em seguida passou por ele novamente descendo a escada e entregando o canivete para um outro policial que estava dentro de uma viatura.

Santos se desencostou da parede em que poiava o ombro e aprumou o corpo novamente. Seus dedos estavam sujos pelo sangue do canivete, ele os limpou na calça e cheirou o lugar para saber se estava fedendo. O odor ainda continuava de leve... e... seus olhos se arregalaram, a mente disparou a funcionar imediatamente. Ele cheirou mais devagar dessa vez. Santos deixou a varanda... se virando e entrando na casa novamente como se caminhasse em câmera lenta enquanto organizava seus pensamentos.

Dois homens estavam pegando o corpo de Lucas na cozinha, e na sala mais dois levantavam o de Inácio para colocá-lo em uma maca amarela. Ele olhou ao redor como se seus pensamentos estivessem pairando no ar e pudesse vê-los. Estava imerso em teorias que só se dispersaram ao se virar para conferir o corpo de Inácio e algo chamar sua atenção.

- Espera – interrompeu o trabalho do homem que mexia no corpo de Inácio. - O que é aquilo? – perguntou apontando para o chão.

O homem se abaixou pegando o objeto quadrado metade vermelho pelo sangue e o entregando para Santos que usou uma luva para poder segurá-lo.

Assim que o fez, uma luz, que antes era só uma ideia, se tornou um refletor duzentas vezes mais potente, um alívio estranho, euforia, rápida frustração por ter sido enganado e então raiva. Ele saiu de dentro da casa a passos largos, foi até a viatura onde André estava e parou em frente a janela do motorista.

- Espere um pouco aqui – disse. 

Santos seguiu até a lateral da outra viatura onde dois homens estavam sentados no banco da frente e os irmãos Lima no banco de trás. Ele deu dois tapas repentinos na janela e Bruno quase deixou o celular cair da mão. O outro se virou assustado o fitando.

- Preciso de você lá dentro. Traga algemas.

Bruno não entendeu e não teve tempo de perguntar nada, apenas guardou o aparelho o mais rápido que pôde e seguiu o amigo que já estava terminando de entrar dentro da pensão.

Santos passou pela porta se encaminhou para o saguão e jogou o objeto em cima da mesa fazendo o leve barulho pelo choque da luva contra a madeira.

- Eu quero uma explicação. O que uma foto sua estava fazendo debaixo do cadáver de Inácio?

Houve grunhidos de susto, cadeiras se arrastaram...

...e então silêncio.

- Responda Suly.

Sangue No CarpeteOnde histórias criam vida. Descubra agora