Capítulo 20

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Suly olhou para a foto manchada de vermelho e então mirou o Policial em pé na sua frente. Ele aparentava estar furioso vista a pressão que suas mãos faziam na beirada da camisa na altura da cintura. Dulce e Taís se levantaram rapidamente.

- O que está havendo? – perguntou olhando para Suly, depois para Santos.

- Suly... foi a responsável pela morte de Inácio, e não André como tínhamos pensado - a senhora fitou a mulher com um olhar afiado de raiva. - Você é realmente muito esperta – Santos comentou se virando para ela. - Fria. E muito inteligente.

- Às vezes é necessário - ela afirmou. Um silêncio se seguiu.

Dulce e Taís que não conviviam com esse tipo de situação pareciam assombradas com a confissão sem o menor temor. Bruno estava confuso, parado ao lado do amigo.

- Se você queria matar Inácio - Taís balbuciou ao lado da mãe -, então o infeliz do Lucas...

- Era um inconveniente que eu precisava resolver – Ela se escorou no assento da cadeira cruzando as pernas e colocou os cotovelos em cima da mesa apoiado o rosto. Depois pegou a foto com a luva. – Lucas era um idiota egocêntrico, ninguém vai sentir falta dele.

Santos arrastou uma cadeira e se sentou de frente para ela.

- O talento pode ser usado de formas assustadoras.

Ela olhou de canto para ele então voltou a mexer nas unhas com desinteresse.

- Não foi meu melhor papel.

Já havia acabado, tinha chegado ao fim. Suly soube disso no momento em que viu o Policial entregando o objeto para Santos. Não adiantava fugir, ser pega já era uma possibilidade em seus planos. Na verdade ela não tinha muita pretensão de escapar, seu objetivo ali fora cumprido. Depois disso, ela não se importaria se tivesse que ir parar na cadeia. 

- Mesmo assim, conseguiu enganar a todos.

- Pelo visto, não todos.

- Mas foi ardilosa a ponto de desviar minha atenção.

- Claro, eu te enfeiticei a ponto de você ficar completamente vidrado em mim - desdenhou ela, Santos não rebateu, sabia que ela não estava falando sério. - Eu conheço meu charme, e conheço o tipo de homem que é facilmente ludibriado por ele... Você está bem longe de ser esse tipo de homem. Acha que eu não percebi a forma com que me olhava durante o interrogatório?

- É o que?! – Bruno falou ao fundo.

- Isso mesmo, seu amigo aqui resolveu desviar um pouco o objetivo da investigação - ela voltou o olhar para Santos ainda sorrindo - Que falta de profissionalismo!

- Nem tente. Não havia nenhum olhar diferente. Eu estava apenas te observado, assim como a todo mundo.

- Como uma atriz de televisão, famosa, elegante, bonita e que chama a atenção, posso dizer com certeza que recebo vários desses todos os dias.

- Eu não me apresentei dizendo que era um Padre.

- Que ótimo, porque seria um desperdício.

- Ok. Já chega – Santos alertou. – Agora, porque você não nos conta como fez.

- Você não sabe? - ela sorriu parecendo incrédula. - Pensei que fosse um "grande detetive"?

- Eu mereço a reputação que acabei ganhando, mas ainda não sou onisciente. Trabalho com teorias. Então não, não sei como você fez, eu suponho como você tenha feito.

- Então me conte as suas suposições detetive, dependendo do que eu ouvir, eu digo o que você quer saber.

Quer que eu elogie seu trabalho, não é mesmo? Ele se ajeitou na cadeira, não pretendia exatamente parabenizá-la pelo planejamento, mas se dar a entender isso fosse o suficiente para fazer com que o narcisismo dela a fizesse confessar o assassinato então tudo bem.

- Deixe me ver... – ele começou. – Você chega e tem aquela discussão com Inácio. Depois sobe, espera chegar a madrugada, desce e o mata de um jeito que ele não consiga gritar. Você volta e limpa seu canivete com um pano que é jogado pela janela para que fosse limpo pela chuva torrencial que caía – ela arqueou a sobrancelha com a afirmação, parecia satisfeita ou algo assim. – Então se deita e espera que alguém encontre o corpo. Quando isso acontece você desce e começa a atuar, faz até uma cena de compaixão que seria linda se fosse verdadeira. Então vai para a cozinha, e espera. Mas nem tudo dá totalmente certo porque Lucas descobre algo, e você decide que precisa matá-lo antes que ele revele isso. É nesse tempo da cozinha que você consegue o canivete de André...

- Então... – Taís o interrompeu, e Santos a olhou curioso. A moça estava gesticulando para si mesma e depois de colocar uma mecha de cabelo atrás da orelha voltou a falar. – André sempre carrega seu canivete na cintura, e ela tropeçou em um momento... André a ajudou a se levantar e ela se escorou nele. Deve ter sido aí que ela pegou seu canivete.

- E depois disso ela se ofereceu para ajudá-lo a pegar os lampiões que estavam no quartinho – Dulce concluiu.

- Como eu disse, muito esperta. Você finge um tropeço, pega o canivete de André e aproveita a queda de luz para matar Lucas, depois desenha os símbolos no chão, e então se oferece para pegar os lampiões porque é a oportunidade perfeita para esconder a arma do crime. Bem que eu senti um cheiro forte vindo do seus dedos quando você fingiu um desmaio no meio do saguão, pensei até que fosse seu creme de pele.

- Símbolos? - Bruno perguntou. - Que símbolos?

- Na cozinha – Santos apontou e o outro saiu em direção ao cômodo para verificar.

- Continuando, você espera que eu termine a revista e encontre o canivete para então contar sobre o que Lucas te disse e assim influenciar a opinião de Dulce e Taís levando-as a acreditar que o rapaz sempre foi alguém frio e violento, e que elas deveriam ter percebido isso antes.

- Sua fama não é mentira, afinal – ela disse por fim. – Raciocínio muito bom.

- Obrigada. Sabe, para uma pessoa acostumada a controlar e malear emoções à sua própria vontade, é muito curioso que justo elas tenham sabotado você.

- Como assim? – Taís perguntou de trás.

- O ódio, ele foi o responsável por fazer com que ela cometesse os erros que a entregaram - Santos fez uma pausa a encarando. - Primeiro, as três facadas. Se a primeira fosse a do coração, ele teria morrido instantaneamente, então só odiando muito a pessoa para continuar com o ato mesmo depois de a vítima não estar mais sentido nada. Ao mesmo tempo em que se a do coração tivesse sido a última, isso significa que você queria que ele sentisse dor antes de dar um fim a tudo. De qualquer forma, quem fez aquilo definitivamente odiava a vítima, e as três facadas deixavam isso bastante claro.

- Odiava ele?... – Dulce sussurrou sozinha.

- Depois, subiu apressada para o quarto e limpou seu canivete do sangue, daí jogou o pano sujo pela janela e não verificou onde ele teria caído já que estava desesperada demais para se livrar daquilo. Só resta uma questão: o motivo de tudo isso. Agora que eu expus minhas suposições, me conte porque uma atriz famosa como você acabou vindo até aqui no meio do nada apenas para acabar com a vida de um bêbado qualquer?

Sangue No CarpeteOnde histórias criam vida. Descubra agora