Os passos de Dulce condiziam com sua idade e estado emocional. Ela chegou arrastando os pés e diminuiu ainda mais a velocidade ao se aproximar de onde o corpo estava. Quando seus olhos o avistaram ela rapidamente virou o rosto e fez uma pausa, depois encurtou a distância e arrastou a cadeira para se sentar.
- Se a senhora preferir podemos mudar as posições dos assentos para que a senhora não veja o corpo – Santos falou.
- Não – ela esfregou o nariz com as costas da mão e fungou firme. – Está tudo bem.
- Certo. Fale para mim sobre todas as suas memórias de hoje, por favor.
- Eu... – ela fungou novamente. – O dia estava normal como qualquer outro, quase nenhum cliente, o que já está comum há um bom tempo. Durante à tarde, Inácio... – ela engoliu em seco por um momento, depois inspirou firme de olhos fechados. – Inácio esteve aqui horas antes e foi embora, mas passou alguns minutos e ele reapareceu segurando umas garrafas de cerveja e com certeza com alguns bons goles na cabeça. Depois a hóspede loira chegou, Inácio tentou tocar seus brincos e ela se assustou com o gesto porque eles não se conhecem. Eles trocaram algumas palavras e ele se irritou com a atitude dela.
- Eles chegaram a ofender uns aos outros?
- Não. Só conversaram.
- Mas o clima ficou tenso, pelo que percebi.
- Sim, ficou. Inácio começou a me intimidar depois que tentei pegar a chave da mão dele e nisso a hóspede entrou na frente pra me defender. Depois disso ele brigou de novo, dessa vez com o hóspede em quem ele deu um soco. É isso, nada mais de importante aconteceu.
- Tem certeza? - Santos sinalizou um olhar em direção à cozinha e voltou o olhar para ela. Dulce assentiu confirmando.
Santos abaixou o olhar para o celular por um momento.
- Por que André estava brigando com a vítima? – perguntou.
- Ele não estava – sua postura de tristeza desapareceu e ela ficou ofegante, suas mãos se levantaram por cima da mesa em posição de defesa. – Não estava.
- Dona Dulce eu recebi um relato de alguém que afirma ter visto o rapaz e a vítima brigando aqui embaixo. Eu peço que não tente mentir, pois pode ser pior.
- Eu não… ele não... – sua boca ficou entreaberta por um período longo como se ela tivesse perdido as palavras, mas seus olhos ainda demonstravam seu medo em continuar aquela conversa.
- É melhor que me diga a verdade, assim posso chegar mais rápido ao culpado de tudo isso – ela se manteve do mesmo jeito sem formular nenhuma palavra. – A menos que a senhora não queria que eu descubra quem matou seu ex-marido.
- Não é isso – ela suspirou finalmente se rendendo. – André estava apenas me defendendo – ela começou, gesticulando com as mãos. – Inácio tentou roubar o caixa, eu tentei impedi-lo e André veio me ajudar, ele estava me defendendo apenas. Só isso. Inácio poderia ter me agredido se ele não tivesse chegado.
- Ele já te agrediu antes? – Santos a questionou.
- Não. Mas ele estava bêbado.
- E André? Ele tem algum histórico violento?
- Não! – ela se apressou em negar balançando a mão e a cabeça ao mesmo tempo. – Ele é um bom rapaz, ele jamais faria isso.
- Então por que a senhora tentou esconder a briga entre ele e a vítima?
- Eu... porque não queria que o senhor desconfiasse dele.
- Bem, então essa não foi a melhor decisão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sangue No Carpete
RandomEm uma noite qualquer, Taís acorda para beber um copo d'água e desce para o andar de baixo da pensão de sua mãe. Ao chegar no saguão, o que ela vê a deixa assustada, em choque, paralisada no lugar. Ela grita, e passos são ouvidos. Todos os hóspedes...