Capítulo 22

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    Sinto que há mais alguém no quarto antes mesmo de abrir meus olhos. Vejo Sebastian inclinado contra o batente do banheiro, com uma sobrancelha levantada e um sorriso presunçoso no rosto.
    Percebo que ainda estou deitada em cima de Elizabeth e sinto minhas bochechas ferverem. Tento esconder a vermelhidão olhando para o relógio.
    – N-Nós não... N-n-não – tento formular uma frase mas ele dispensa minha explicação com um aceno de mão.
    – Não precisa dizer nada– ele aponta para uma mala perto da porta – Nós temos que sair cedo, senão não chegaremos a tempo.
    – Não sabia que existia um horário determinado para me matar – digo e nós dois rimos baixo.
    Tento levantar o mais devagar possível para não acordar Elizabeth, mas não funciona e ela desperta com seus doces olhinhos carregados de sono. Ela está tão fofa e ao mesmo tempo tão engraçada, que não sei se rio ou a abraço.
    – Estava pensando no nascer do sol, parece uma vista bonita. Já que... – Sebastian  pigarreia – Bem, vai ser a última vista que você vai ver – ele diz um pouco envergonhado pelo assunto. Tento esconder o sorriso que brota em meu rosto e ando até o armário.
    Sebastian repete tudo para Elizabeth, que logo vem e coloca suas roupas em sua mala, assim como eu.
         
                              **********

    Nós subimos no táxi, e de algum modo conseguimos ficar os três na parte de trás. Não sei como fizemos tal proeza, o carro é minúsculo. Mas acho que nenhum de nós quer se aventurar e ir na frente. Afinal, o motorista não parece estar inclinado a ser gentil conosco.
    A viagem demoraria o dia todo, mas nenhum de nós queria conversar. A tensão e a ansiedade eram palpáveis.
    Nunca pensei que morreria assim, achei que talvez fosse em uma guerra ou lutando contra um bruxo poderoso. Estranhamente, não me sinto mal pela minha iminente morte. Me sinto um pouco estranha, de certo modo preocupada. Não pude nem me despedir de papai, nem ao menos sei se ele sabe sobre mim.
    Sinto falta dele, de seus ataques de raiva quando alguém faz algo contra nossa família, de como ele me fazia rir, de como ele sempre esteve ao meu lado quando mamãe morreu, mesmo que eu o visse chorando em seu escritório. Sinto falta de como ele era carinhoso, e de como era engraçado, e, principalmente, de como adorava me ensinar sobre tudo que sabia.
    Espero que ele não sinta tanta falta minha. Não gostaria de vê-lo triste. Não depois de tudo que ele passou.

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