23 de setembro

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Está um dia maravilhoso no mercado de pulgas, e estou encarando um espelho antigo rachado, experimentando um poncho neon de alpaca.

— Fica ótimo em você — a vendedora diz, e quando me viro percebo que é Kate Moss.

— Você usaria? — pergunto.

— Querida, é claro — ela murmura em seu sotaque britânico sexy. Puxo algumas franjas amarelas, incerta.

— Quero saber o que Max acha. Você sabe aonde ele foi?

— Acho que o vi indo na direção da seção de livros — ela responde, ajeitando alguns vestidos de renda retrôs. Eu me afasto, ainda vestindo o poncho. Mais à frente, vejo Max dando passos largos para longe de mim entre as barracas de cores brilhantes. Grito seu nome, mas ele não se vira. Hoje está lotado, e estou desviando de compradores de todos os lados. Então eu o perco. Chego até os vendedores de livros, e Max não está ali. Mas o reitor Hammer está.

— Você viu Max? — pergunto.

— Ele disse que queria tomar sorvete — o reitor responde. — O que você acha destes? — Ele se vira para me olhar, usando óculos de sol vermelhos em forma de coração.

— Amei! — grito. E dessa vez não caminho, eu corro. Consigo sentir o pânico surgindo dentro de mim. Passo pelas carrocinhas de comida, o cheiro de crepes de Nutella frescos me seguindo. Atravesso uma parede de lenços coloridos, debatendo-me para chegar ao outro lado. Em todo lugar que vou, eu pareço tê-lo perdido por pouco.

— Ele acabou de sair — minha avó diz na seção de joias. Ela está em pé na barraca ao meu lado em um terno rosa Chanel, experimentando um broche de diamantes com gigantescas penas de pavão. Jerry está encoleirado ao lado dela usando uma gravata-borboleta de veludo.

— Aonde ele foi? — imploro.

— Ele parecia infeliz — vovó diz. — Vocês brigaram?

— Vovó, me ouça. — Coloco uma mão em seu ombro pequeno e frágil. — Aonde o Max foi?

— Acho que ele disse que queria dar um mergulho. — Vovó sorri, sua mente já em outro lugar. Corro para fora do mercado e pela avenida Vanderbilt até chegar ao Navy Yard, de alguma maneira sabendo com precisão aonde ir. Ele está esperando por você, como sempre, digo a mim mesma enquanto disparo para as docas. Mas, quando chego ao final, sem ar, ainda não tem nenhum Max. Apenas um sem-fim de água. Quando me viro para voltar por onde vim, encontro água neste lado também, cinzenta e nada acolhedora. Não há caminho de volta, não há aonde ir e, pior de tudo, ninguém aqui para me dizer que tudo vai ficar bem. Estou completamente sozinha.

O garoto dos meus sonhos - Lucy KeatingOnde histórias criam vida. Descubra agora