Capítulo 28

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Eu poderia dizer que minha vida vem sendo ao redor da Clara, e digo isso sem peso nenhum na consciência.

Aos poucos ela vem crescendo e eu quero estar cada segundo mais perto dela, estou ao seu lado nas descobertas, presenciando a felicidade pelos detalhes do seu novo mundo. Ela é o que me faz feliz.

É nessa hora que posso pegar o ponto da minha mãe (aquele da última conversa que tivemos) e dizer que sim, o pai vem de brinde.

Porra! Com certeza aquele pai tem uma parcela bem generosa de culpabilidade na minha felicidade.

Mas como não ter né... Estou tentando não suspirar, já que tenho feito isso excessivamente depois da Clara.

Os dias vem e vão cada vez mais rápido, só parei para notar o quanto minha vida mudou radicalmente quando eu estava diante da minha bebê comemorando seus nove meses.

Nove meses.

Nove meses ao lado da Clarinha. Nove meses em que tudo estava totalmente do avesso e do lado certo. Nove meses que eu descobri o verdadeiro significado do amor, do cuidado e do afeto.

Posso amar o Emerson, mas foi ela quem mudou minha vida.

Além de tudo faziam oito meses que a Clara não viaa mãe, e só vê a avó em raras ocasiões em que a tia Su consegue conciliar as coisas.

Ela está cuidando do escritório de arquitetura sozinha e disse que nunca passou por uma fase tão difícil, nem quando o marido a deixou ou quando a filha mais velha decidiu ir morar longe. Para ela foi um baque o estado que Letícia chegou, nenhuma mãe está preparada para isso.

A tia tenta vir pelo menos uma vez por semana e toda vez que vem passa vinte minutos me agradecendo por tudo. Por ser o anjo na sua vida.

Quando paro para pensar sobre isso não vejo bem assim, por isso evito a todo custo ir por essa linha de raciocínio.

— Por favor Angel, aceite minha ajuda, não é nada comparado ao que está fazendo por mim — a tia tentava me entregar um envelope branco com dinheiro, mas eu nem preciso listar os milhões de motivos para não aceitar.

— Tia, tia — tive que a chamar algumas vezes, até que se acalmasse e passasse a prestar atenção em mim. — Você não tem noção do presente que me dá a cada minuto que estou com a sua neta — sorri quando ela juntou nossas mãos, deixando-as apoiadas entre nossos joelhos. — Não preciso de dinheiro, pelo contrário, quero te ajudar nessa fase difícil que está passando.

— Pelo amor de Deus Angel, você já faz muito — ela não conseguiu conter algumas lágrimas.

Cada vez que eu a vejo ela está mais calada, suas olheiras estão sempre aparentes, os olhos vagueiam e cada dia com menos vida, parece que seu brilho vem se apagando, reparei isso algumas vezes e cada dia piora mais.

Se ela continuar assim vai acabar se deprimindo também, está sozinha e precisa saber que tem alguém ao seu lado para passar por essa fase ruim.

— Posso te ajudar, não entendo muito de arquitetura, mas vamos dar um jeito — prometi desviando o olhar para checar a bebê dormindo preguiçosamente no carrinho a poucos metros de distância.

— Ela está cada dia mais parecida com o pai — comentou olhando para a neta com um sorriso de lado. — Como ele está? Ainda não tive coragem de encontrá-lo — a tia abaixou a cabeça e desfez nosso contato.

Desde o episódio que levou a Letícia para o tratamento a tia Su não viu mais o Emerson, toda vez que vem é quando tem certeza de que ele não vai estar e a cada barulho externo que escuta ela fica atenta. Desde que a conheço sempre foi muito reservada e acha que dependendo do que for, é melhor evitar do que enfrentar.

Ardentemente SuaOnde histórias criam vida. Descubra agora