Capítulo 22

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Passar pelo luto é uma merda.

Última vez que conversei com a Gina ela me falou que eu teria que passar por ele para conseguir seguir em frente, mas por algum motivo eu me recusava.

Tentei me resguardar como fiz a vida toda e até estava dando certo, pelo menos até eu assumir estar completamente apaixonada pelo Emerson.

Então depois disso foi tudo ladeira abaixo.

Novamente optei por fugir, mas diferente das outras vezes foi por pouco tempo. Atendi todos os pacientes marcados até o final do mês e organizei minha agenda para ficar uma semana fora, então voltei para Florianópolis, me acolhi no hostel da Gina e visitei o túmulo do João.

— Me desculpa — sussurrei encarando a placa de bronze com o nome do meu marido, sua data de nascimento e a de morte.

Pedi para vir sozinha sabendo que somente eu teria que passar por isso, mas tudo o que eu mais queria diante daquele lugar fúnebre, era um abraço apertado.

"Tudo o que eu sempre quis foi a sua felicidade, gostaria muito que fosse ao meu lado, mas se eu não for capaz, vou torcer ainda mais para que a encontre", lembrei das palavras do João após uma das nossas piores brigas. "Eu amo você Angel, tento te mostrar isso todos os dias, mas sou falho também, amo a adrenalina e me desculpe se não consigo ser perfeito".

Ele me amava e deixou claro mais de uma vez que nunca deixaria um amor pelo outro.

O amor pela alta velocidade o matou, mas olhando para a lápide fiquei me perguntando se seu amor por mim não estava o matando também.

Eu era fria a maior parte do tempo, o sexo era o que me fazia quente. Sempre preferia o trabalho ao lazer, e mesmo o João insistindo, nunca o coloquei como prioridade.

E agora só Deus sabe o que eu faria para voltar ao passado e fazer tudo diferente.

As pessoas ficam procurando a vida toda por uma paixão, do tipo arrebatadora, que ferva o sangue, excite a pele e amarre o coração. Mas quem procura não faz ideia de como é angustiante quando o sentimento está dentro do peito, nos deixa instáveis, qualquer detalhe te leva as alturas e no instante seguinte tira seu chão.

Vou ser uma vaca em dizer que preferia mil vezes sentir pelo João o que sentia por Gupper, mesmo que meu marido esteja morto.

Não respondi nenhuma das mensagens dele, nem mesmo quando voltei de Floripa. Quando nos trombamos no elevador do nosso serviço ele só me olhou e mais uma vez respeitou minha decisão, me dando o tempo que eu precisava.

Só conversamos quando a Letícia completou trinta e duas semanas e fizemos o chá de bebê, dessa vez ela ajudou com os detalhes da festa e tudo ocorreu como planejado.

O Emerson sentou na mesma mesa, de frente para mim, e então eu senti o peso da falta que ele me fazia, minhas mãos soaram e meu coração acelerou como se eu estivesse pronta para ganhar uma corrida olímpica.

— Oi — foi eu quem iniciei a conversa quando percebi seu olhar queimar na minha direção. — Está nervoso? Clarinha está quase chegando — tentei descontrair.

— Estou contando as horas — seus lábios deram a vez para os dentes brancos iluminarem seu rosto.

Céus, ele parecia ainda mais bonito do que a última vez que o vi.

— Também estou — confessei.

Contava as horas para ver sua filha, e ainda mais para estar ao seu lado.

— Sinto sua falta.

Desviei o olhar para ver se alguém prestava atenção em nós e encontrei Letícia de costas conversando com as amigas.

Ardentemente SuaOnde histórias criam vida. Descubra agora