Decidir me mudar foi uma decisão unicamente minha, fiz essa escolha em uma madrugada qualquer depois que três orgasmos com três homens diferentes, me vi ali sozinha e ao mesmo tempo rodeada por diversas pessoas, todas muito atenciosas e solicitas a dar o que eu queria receber, mas era só aquilo, minha vida tinha passado a ser aquilo, cheguei em um ponto onde minha rotina era acordar, trabalhar e escolher meu próximo homem para o abate. Vício é o nome.
Então juntei minhas coisas, pedi minhas contas do trabalho e fui recomeçar em uma cidade em que eu não conhecia ninguém, ninguém me conhecia e principalmente: eu não sabia onde era a casa de swing mais próxima.
Letícia, minha melhor amiga e companheira de apartamento da época, tentou me convencer de todas as formas a ficar, na verdade não sei nem a quanto tempo já vivíamos grudadas uma na outra, mas eu entendi que ela era o gatilho principal a me fazer perder a cabeça, então me afastei.
O começo foi difícil, me hospedei em um hostel com a ideia inicial de ficar alguns meses até me estabilizar, mas lá conheci a Gina, dona do lugar e que acabou se tornando uma segunda mãe para mim. Ela me ofereceu um emprego, acabei aceitando pela praticidade, mas com o tempo foi impossível não me apaixonar por ela, pelo seu albergue e pelas pessoas que passavam por lá.
Os primeiros meses precisei de muito autocontrole, Gina acabou sendo minha psicóloga toda vez que eu surtava querendo ceder e ir para cama com algum hóspede que me atraía — mas entendam meu lado, estava em um lugar cheio de almas livres e aventureiras, todas com ótimos papos e histórias incríveis sobre um mundo que eu não conhecia, é óbvio que eu iria cair nos encantos.
E cai mesmo, de quatro, em vários deles.
Foi uma dessas almas aventureiras que me fez apaixonar pela nutrição, o nome dele era João, me fez entender que éramos o que comemos e que até mesmo algumas compulsões e vícios conseguiam ser curados pelo o que nos alimentamos. Ele ia ficar somente duas semanas no hostel, mas nossa sintonia era tamanha e tínhamos tanta coisa em comum que ele alugou uma casa e pediu para que morasse com ele por um tempo, até que eu me enjoasse dele e das suas chatices e fosse embora.
Aceitei, mas não deixei de trabalhar para Gina, todo dia depois que voltava do serviço ele me ensinava um pouco da sua profissão e até mesmo me dava alguns livros de estudo, até que no meu aniversário ele se ofereceu para pagar minha faculdade, de início não aceitei, mas ele tinha seu jeitinho e sabia como me ganhar e me fazer ceder — e nisso não estava incluso o sexo... Talvez só um pouco.
Fiquei quatro anos com ele, me formei, parei de trabalhar com a Gina e passei a ser uma das nutricionistas da sua plataforma online que fazia muito sucesso, nossa relação era maravilhosa e praticamente não brigávamos; na casa cada um já tinha suas tarefas pré-estabelecidas, no trabalho cada um sabia seu lugar e amávamos o que fazíamos, o sexo então nem se fala, com o tempo nos adaptamos e fizemos ficar muito bom, o João entendia minha vontade de ter mais alguém na relação vez ou outra e amava os ménages assim como eu.
Eu não o amava do jeito que acho ser o certo, mas sofri quando ele partiu em um acidente de moto que deixou seu corpo estraçalhado, um maldito acidente que poderia ter sido evitado se ele me desse ouvidos e vendesse aquela bosta. Foi fatal e mais triste ainda porque ele só tinha a mim; com milhões na conta, dono de uma plataforma online mundialmente conhecida, com muitos amigos virtuais, mas no fim não tinha muito mais do que eu e Gina no seu enterro.
Então me radicalizando totalmente novamente, decidi abandonar Gina — porque é só isso que sei fazer com as pessoas — e voltei para São Paulo para um novo recomeço.
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Ardentemente Sua
RomanceNa mesma proporção que o sexo te dá tudo, você não tem nada. Praticamente como na música da Rita Lee, Angel se viu em meio a uma selva de epiléticos, envolta no antro da putaria e prazer ilimitado, mas tão sozinha como nunca esteve. Apavorada por...