Capítulo 35

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A vida tem um toque de humor peculiar.

Aquela comparação sobre os altos e baixos é real. Eu sempre me vi em uma montanha russa, entre os extremos, uma hora no alto e na adrenalina máxima, e em outra hora na merda literal. Já cheguei a achar engraçado esse toque especial que a vida sempre teve para mim, mas tenho que confessar que estou torcendo para que chegue logo a hora em que acaba a turbulência e tudo fica tão parado ao ponto de ficar chato.

Queria poder pular e ir direto para uma vida tranquila com meus filhos e meu marido, mas parece que essa hora nunca chega.

— Vai logo Otho — gritei pela terceira vez com ele, pulando para tentar pegar o papel que estava lacrado na sua mão.

— Anda logo caralho — até Emerson que nunca cai na pilha do primo estava nervoso.

Depois de três semanas tentando descobrir o sexo dos bebês, a sementinha um abriu espaço para que conseguíssemos saber o sexo da sementinha dois. O doutor Roger perguntou se gostaríamos de saber e por mais que eu quisesse muito nós decidimos nos reunir a noite para celebrarmos todos juntos.

Somente nós; eu, meu homem, a Clarinha e o Otávio — chamei a tia Su e ela não conseguiu vir, disse que estava com um problema na entrega de um projeto, eu postergaria para ela estar presente, mas percebi que essa foi somente uma desculpa, então combinei de lhe contar depois a descoberta.

Letícia já estava foragida há dois meses. Sem sinal nenhum dela, do Peterson ou do bebezinho.

Em prol da minha sanidade mental e saúde das minhas sementinhas eu estava tentando não pensar muito nisso. As consultas com a psicóloga estão ajudando bastante, mas ninguém tem ideia do quanto é difícil a situação em que me encontro, esse medo e aperto no coração toda hora que o pensamento é nela — em como está se sentindo e o que deve estar pensando.

A doutora Ana diz que não posso colocar a Letícia a frente das minhas prioridades, fala sobre possibilidades e o poder da atração... Eu juro que venho pensando o mínimo possível no assunto, mas muitas vezes é inevitável.

Eu estaria mais em paz se já estivéssemos nos mudado de vez para Sorocaba.

Apesar do Emerson já ter adiantado praticamente toda a parte da escritura, a casa não estava mobilhada e precisou de algumas reformas na parte da cozinha. Contratamos os melhores profissionais da região, pagamos um pouco a mais buscando a agilidade, mas mesmo assim a obra iria demorar pelo menos mais quinze dias.

Os quartos, banheiros, sala de jantar e área de lazer já estavam prontos. Até conseguiríamos nos mudar do jeito que está, porém optamos por esperar pelo menos o prazo imposto para que a Clara não fique doente com a poeira ou se machuque no meio dos materiais.

Nós temos pressa, porém estamos tentando fazer as coisas como faríamos se não fosse o detalhe chamado Letícia.

— Deixa que a Clarinha faz as honras — o padrinho babão a deixou de pé no meio do tapete e deu o envelope lacrado para ela.

Nós três (os adultos muito inteligentes) sentamos no sofá na expectativa.

Ela estava tão linda e grande, os cabelinhos lisos um pouco acima dos ombros e os olhos amendoados pareciam que tinha o poder de hipnotizar a gente. Estava um pouco magrinha por ter dado uma espichada repentina, cresceu alguns bons centímetros desde a última ida ao pediatra e vestia um moletom rosa quentinho por conta do frio.

— Abre filha — Emerson incentivou também, deixando-a momentaneamente agitada.

Ela começou a pular com o envelope na mão e antes mesmo que conseguíssemos impedir o rasgou em dois, fazendo um bico de choro em seguida, quando percebeu que tinha feito caca.

Ardentemente SuaOnde histórias criam vida. Descubra agora