Capítulo 34

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As duas semanas seguintes a notícia do desaparecimento da Letícia e do Peterson eu fiquei completamente aérea, beirando a paranoia. Não consegui trabalhar direito, não fui as consultas com o obstetra e nem com a psicóloga, até mesmo para cuidar de Clarinha estava desatenta.

Eu não me conformo.

Não imagino a dor que a Raissa (ex-mulher do animal nojento que sequestrou o próprio filho) está sentindo. Não imagino minha vida sem a Clarinha e a cada segundo que passa tenho mais medo de algo acontecer comigo, com a minha filha e/ou com o bebezinho que estou gerando.

Emerson pediu um ifood no sábado e eu cheguei a soar frio com medo do entregador — e olha que ele só foi até a portaria do prédio.

Mas o que estou sentindo não é algo que consiga explicar. Simplesmente estou com medo e nem sei se posso culpar a gravidez pelos meus sentimentos confusos.

Ou será que posso culpar os hormônios?

— Te falei que não poderia fugir de mim para sempre — a doutora Ana falou assim que ficamos a sós na varanda do meu apartamento.

Quando o Emerson abriu a porta e vi minha psicóloga com sua bolsinha de lado e óculos quadrado eu quis matar meu noivo, só não o fiz porque entendo que ele está preocupado com a minha saúde mental — e também não estou preparada para ser mãe solteira.

Tentei disfarçar o desconforto e desagrado, mas acho que nem minha melhor cara de nada ajudou, então o doutor deu um sorriso amarelo, selou nossos lábios, pegou a Clarinha e disse que poderíamos ficar à vontade.

— Não acho que eu esteja fugindo de você — suspirei permitindo que o sol das duas da tarde aqueça o meu corpo.

— E está fugindo de alguma coisa?

Desviei o olhar para o céu azul.

— Estou com medo — assumi me ajustando na cadeira, fechando meus olhos.

— É normal ter medo.

— Sabe doutora, sempre lidei com os meus próprios demônios. Antes do João eu vivia entre altos e baixos, sempre apertada em relação a dinheiro, era normal não ter condições para pagar o aluguel e quando me mudei não tinha mais meu pai para me ajudar caso o calo apertasse... — me perdi no raciocínio e tentei voltar ao foco. — O que quero dizer é que não tenho medo por mim, eu sei me virar, mas agora não sou mais só eu.

— O seu medo é em relação a passar necessidade?

Abri os olhos percebendo que não soube me expressar bem.

— Não, graças a Deus não tenho mais problemas financeiros — respirei buscando coragem para trazer o assunto. — Acontece que a Letícia está foragida, saiu até uma reportagem na televisão; ela e um homem foram até a casa da ex-mulher, a espancaram e fugiram com o filho — expliquei bem resumidamente.

— E o seu medo é que ela possa fazer algo contra a Clara?

Bingo. Acertou em cheio.

— Contra a Clara, o Emerson, meu bebê... — acariciei minha barriga onde nosso bebezinho crescia a cada dia. — Eles foram atrás do filho do cara, a lógica é que ela venha atrás da minha filha também.

— É uma possibilidade — a Ana concordou cruzando as pernas. — A probabilidade é de cinquenta por cento para que ela venha atrás de vocês e a mesma porcentagem para que não venha.

— Não quero arriscar.

— E o que pretender fazer?

— Preciso fazer alguma coisa?

Ardentemente SuaOnde histórias criam vida. Descubra agora