O1 - como uma raposa para uma toca (como uma águia para uma ninhada)

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(capa feita por @/insyndiar no twitter)

Ele deveria ter uma vida antes disso. Uma mãe, um pai, um lar. Talvez irmãs, ou irmãos. Mas faz tanto tempo—tempo até demais—e agora tudo que conhecia era este maldito jogo. Suas mãos não conheciam outro formato do que punhos firmemente enrolados em torno de uma espada, eternamente golpeando, achando sua marca em pele e osso.

Todos eles tentaram correr, é claro. Construíram muralhas e se encolheram em cantos, mas ele sempre os achava. Às vezes, imploravam. Às vezes, escolhiam pular de penhascos ao invés de encarar seu cômputo. E às vezes, encaravam de volta à ele com olhos vazios como os dele e recebiam a morte com braços abertos. Esses eram o que ele mais invejava.

Technoblade nunca morre, eles sussurravam em volta de fogueiras e piras funerárias.

Ele rezava que não fosse verdade.

As vozes o guiaram para reinos e condados e cidades—não importava o que o oferecia em troca; as vozes não demandavam moeda, demandavam sangue. Ele lutou por homens ousados e homens estúpidos, reis gananciosos e rebeldes com olhos brilhantes. Ele lutou por exércitos condenados a falhar e os arrastou até a luz da glória. Ele perdeu a conta de quantos aliados lutou ao lado—depois de um tempo, seus nomes e rostos desapareceram nos recessos de sua obscura memória.

E então tinha o Anjo da Morte.

Ele era uma das poucas pessoas com a reputação que combinava com a de Technoblade. Ele ouvia sobre o anjo através de histórias sussurradas e trechos de fofoca de taverna. Eu ouvi que ele tem asas de obsidiana, um cidadão dizia ao outro durante um copo de cerveja. Eu ouvi que ele já massacrou um exército inteiro, tudo sozinho. Ele faz até mesmo o Deus Verde ter medo.

Technoblade começaria a imaginar um impiedoso homem—um matador imortal com o mesmo desgraçado sorriso que o dele. Mas Philza não era um anjo vingador. Ele só era o Philza.

Eles só se conheceram por coincidência, em uma terra de gelo e neve. Era árida, mas eles faziam um breve trabalho com ela, juntos—primeiro como aliados e então como amigos. Por tudo isso, Philza sorria ao invés de sorrir largo, ria ao invés de gargalhar. Em dias calmos, eles jogariam tempo fora com chá e xadrez, e silenciosas meditações que acalmavam a gritaria na cabeça de Techno, mesmo por pouco tempo.

"Sabe," Techno tinha dito durante uma de seus duelos (eles tinham que manter a forma, é claro, pois tempos de paz nunca duravam muito como as pessoas esperavam), "as histórias nunca falavam sobre esse seu lado."

Philza pausou, um pequeno, divertido sorriso no seu rosto. "Oh?" ele disse. "O que as histórias falavam, então?"

"Elas te chamam de Anjo da Morte." Techno cravou os calcanhares enquanto Philza retomou com um ataque de golpes com sua cega espada. "Elas disseram que você deixava um caminho de destruição em seu rastro que nada—ha!" Techno defendeu-se e partiu para a ofensiva. "—que nada é considerado sagrado para você."

Suas lâminas se encontraram. Eles se empurraram um contra o outro, tentando obter uma vantagem, e só porque estavam tão próximos que Techno notou a mudança nos olhos de Philza: uma frieza momentânea que era tão brutal como a forte nevasca lá fora. Estava lá e desapareceu em um instante. Luz retornou, e Philza riu enquanto retrocedia contra a espada de Techno.

"Histórias são coisas curiosas," Philza disse enquanto golpeava novamente, mal dando tempo para Techno se esquivar. "Algumas são verdadeiras..."

Ele se moveu tão rápido. Techno podia fazer nada além de ficar lá enquanto Philza correu contra ele com um golpe nas costelas, derrubando Techno para trás no chão da sala de treinamento. Techno colocou-se de joelhos, mas Philza já estava em pé sobre ele com sua espada segurada alto acima de sua cabeça, seus olhos brilhando com uma emoção Techno não conseguia identificar. Pela primeira vez em sua vida imortal, se ajoelhando ali de frente para a primeira pessoa que ele chamou de amigo, Technoblade se sentiu caçado.

E então Philza abaixou sua arma. Ele sorriu gentilmente para Techno—o suave sorriso que Techno estava acostumado—e ofereceu a Techno uma mão enluvada.

"... e algumas delas não são," Philza finalizou. "Então. Melhor de três?"

"Você é um bastardo," Techno disse brincando, até mesmo enquanto as vozes gritavam, corra, corra, corra. Ele alcançou a oferecida mão de Philza e se puxou-se para cima ao lado do homem que tinha certeza que poderia ter o cortado ao meio, não importa o quão cega a ponta da espada estava. Enquanto Philza pacientemente moveu Techno através todas as coisas que ele errou (pequenas coisas como localização do pé e seu punho estando uma polegada fora do lugar), Techno igualmente achou divertido e assustador que mesmo suas eras de lutas sangrentas, demorou alguns minutos de duelo para Philza encontrar defeitos em sua técnica. Mas então novamente, a técnica de Techno não estava particularmente polida; só demorou um brutal golpe para derrubar a maioria das pessoas. Algo o dizia que Philza seria mais difícil de matar do que isso.

Eles conquistaram nações, ele e seu amigo de cabelos de ouro. Eles estavam banhados em glória, deuses gêmeos brilhando no meio de campos sangrentos. Mas à medida que seu império crescia, o mesmo acontecia com seus inimigos. Eles vieram em massa, dia após dia, e em pouco tempo Techno esqueceu como era o gosto da paz. Os dias eram longos e as noites mais ainda; cada lampejo de movimento era um espião nas sombras, cada aliado era um possível traidor, cada palavra era uma declaração de guerra. Sua casa teria virado um alvo para centenas de exércitos.

Por tudo isso, seu único constante era Philza—até não ser mais. Technoblade simplesmente olhou para cima durante um dia de detalhamento de linhas inimigas em um mapa e realizou que ele estava falando com ar vazio. Ele não tinha ideia de quanto tempo ele estava sozinho, sentado em uma empoeirada biblioteca com chá velho intocado no canto. Ele não tinha ideia se Philza o tinha dito que estava indo embora, ou se ele simplesmente foi como chegou de repente, brevemente, como uma tempestade de neve.

Após isso, quase não tinha sentido em manter o império. As vozes estavam ficando entediadas, de qualquer jeito. Elas queriam sangue fresco. Elas queriam mais histórias. Então Techno pegou sua espada e seu escudo, e abandonou o navio. Ele já fez isso milhares de vezes antes, mas o pensamento de um tabuleiro de xadrez parado intocado em um castelo em ruínas fez ele sentir algo parecido com arrependimento.

Technoblade viajou pelo mundo, saciando sua sede, tentando satisfazer as vozes. Nenhuma delas estavam satisfeitas. Não importava quanto caos ele lidava, sempre tinha mais trabalho para ser feito. Então ele trabalhou. Ele não tinha ideia por quanto tempo. Tudo que ele se lembra daquele maldito tempo é uma sensação de insatisfação, como uma história que foi deixada inacabada pela metade. Anos. Décadas. Talvez mais. Dificilmente importava.

No final, ele sabia, tudo seria a mesma coisa. O mundo iria acabar, e ele iria permanecer—sempre lutando, sempre sozinho.

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀________________

Ele não sabia o que o trouxe para o reino em primeiro lugar. Ele realmente queria ver por si mesmo? Foi simplesmente para saciar a sua curiosidade? Ele estava entediado? Ou ele ouviu sobre um reino intocado por guerras e mesquinhos rancores de seus vizinhos—mantendo sua paz e neutralidade por um século—e aceitar como um desafio? O que quer que fosse, quando Technoblade ficou sob a sombra de um dourado castelo, observando suas bandeiras balançarem preguiçosamente na brisa de verão, ele sentiu um lampejo de uma emoção antes familiar agitar em seu coração. Tinha algo sobre as muralhas de pedregulho e torres subindo em direção ao céu que o recordava de um palácio diferente, em algum lugar frio e longe daqui.

"Olá, estranho!" um dos guardas nos portões disse. "Está de passagem?"

Technoblade pausou no tom alegre do homem. A maioria dos guardas que avistavam sua espada e capa cor de sangue eram rápidos em sacar suas armas, mas apesar de lanças que pareciam mais decorativas do que ameaçadoras, os guardas nos portões não pareciam estar em guarda de jeito nenhum. Húbris, as vozes disseram, esse é um reino de húbris.

"Talvez," Techno falou pausadamente, satisfazendo o guarda. "Apesar, eu suponho que estou mais curioso com o interior, ao invés do exterior."

"Por que não disse logo!" O guarda o gesticulou a frente. "O castelo está sempre aberto para turistas. Basta entrar!"

Assim foi como Techno se achou vagarosamente caminhando pelos corredores de um castelo que, sob normais circunstâncias, ele estaria atacando, lâminas sacadas. Os guardas sim, estabeleceram o limite no seu armamento, e o fizeram descartar suas espadas na porta—como se Technoblade precisava de algo a mais além de suas mãos (e às vezes, nem elas) para causar estragos. A frouxidão do castelo na segurança era desproporcional à opulência dentro: carpete exuberante amaciava os passos de Techno, tapeçarias elegantes decoravam as paredes, flores desabrochavam em vasos tão altos quanto ele, e pinturas de óleo em molduras douradas. Pinturas de paisagens solenes, de animais selvagens vagando por um jardim cultivado, de um garoto de cabelos escuros montado em um cavalo branco, um indício de um sorriso no canto de sua boca, e do rei—

Technoblade parou sob a pintura, aninhada entre vasos de íris. Oh, ele pensou. Esse é o porquê. Não eram húbris fazendo este reino pensar que estão protegidos de tudo. Era seu rei.

Renderizado em tinta e sombra, ele parecia exatamente como Technoblade lembrava, os anos deixando nenhuma marca em seu rosto imortal. Ele estava parado atrás de um modesto trono, sua mão colocada suavemente no ombro de uma mulher de cabelos escuros que deve ser sua rainha. Nos braços da rainha estava um bebê de cabelos dourados, dormindo pacificamente. No chão aos seus pés, com suas pernas cruzadas embaixo dele, estava outra criança, mais velha, com um diadema de ouro aninhado em seus cachos castanhos.

"Wilby!"

A voz estridente de uma criança soou pelo corredor. A mão de Technoblade instintivamente coçou por sua espada enquanto virava da pintura e achou si mesmo encarando o exato mesmo garoto da pintura.

O príncipe. Ele era uma coisinha alta e magra, seu rosto ainda carregando os leves traços da infância. Ele não poderia ser mais velho do que quatorze. Na pintura, estava sorrindo largo, para sempre imortalizado em encanto. Mas aqui, ele estava encarando, seus escuros olhos focados de forma não natural, como Techno fosse particularmente um interessante livro que estava silenciosamente separando em sua cabeça. Techno já viu aquela expressão muitas vezes estampada nos rostos enrugados de generais olhando acima de arranjos de campo de batalha.

"Oiê," O príncipe cautelosamente disse.

Technoblade achou si mesmo levantando sua mão em um pequeno aceno. "Olá."

"Wilby! Espere por mim!" a primeira voz chamou novamente, agora mais perto, e apresentando a aparição de outra criança na curva do corredor. Por seu luxuoso traje e o pequeno exército de servos inquietamente o seguindo, esse só poderia ser o príncipe mais novo, quase não mais que uma criancinha na pintura mas agora uma criança de seis anos bastante barulhenta.

O príncipe mais novo propositadamente marchou até seu irmão mais velho—Wilby?—e decididamente se apegou ao seu lado enquanto ambos encaravam Techno.

"E quem é você?" o pequeno príncipe disse, no que ele deve ter pretendido ser um tom ameaçador. Mas soou apenas como ele realmente é: uma criança.

"Um visitante," disse Techno, incerto do que deveria dizer agora.

"Você veio ter uma audiência com nosso pai?" o príncipe mais velho o perguntou em um tom decididamente mais nivelado.

"Você não pode," o príncipe mais novo explodiu de uma vez, apertando seu segurar na frente da camisa de seu irmão mais velho. "Papai prometeu que hoje era nosso dia com ele, então você pode ir embora agora, obrigado!"

"Tommy, se acalme."

"Mas Wilbur, Papai disse—"

"Eu sei o que o Pai disse, Tommy." O príncipe mais velho—Wilbur, agora, não Wilby; deuses sabem o que Techno teria dito e feito se o homem teria verdadeiramente nomeado seu filho Wilby—estava ainda encarando Techno como um abutre aguardando um animal moribundo cair. "Então, visitante, qual é o seu negócio aqui?"

"Não tenho nenhum negócio," Technoblade disse. "Estou visitando. Passeando. Sou um viajante."

"Primeiro você é um visitante e agora você é um viajante." Um sorriso apareceu nos lábios do príncipe. "Esta troca seria bem mais fácil se nos dissesse seu nome."

Technoblade olhou para os servos alinhando o corredor atrás dos príncipes, claramente com os ouvidos abertos mas obedientemente mantendo a ilusão de privacidade. Mas se ele realmente conhecia o pai deles, ele deixaria saber que a maioria dos guardas parados em volta de seus filhos seriam assassinos letais—ele só não tinha antecipado a chegada de um deus. O que eles iriam fazer se escutassem seu nome? Algum deles irá reconhecê-lo? Eles saberiam o que significaria ter ele de pé perto de seus jovens príncipes? Quanto tempo durariam contra ele?

Enquanto olhava para os dois irmãos abaixo de si, as vozes sussurravam quão frágil seus pescoços devem ser. Sangue para o deus do sangue, elas cantaram em coro.

Mas em vez disso, Techno se achou dizendo, "Meu nome é—"

"Technoblade?"

Technoblade levantou seus olhos dos jovens príncipes e achou a si mesmo encarando seu pai.

"Philza?"

Philza estava parado no final do corredor, sem dúvida, seguindo a familiar cadência das vozes de seus filhos. Ele os olhou agora, ainda parados a frente de Technoblade como involuntárias ovelhas aguardando pela matança. Mas os olhos de Philza não mostravam medo. Invés disso, quando olhou de volta para Techno, ele só sorriu, seu rosto suavizando com um alívio familiar—a expressão de um homem após uma longa, lutada guerra, vendo paz no horizonte finalmente.

"Velho amigo," disse Philza. "É bom lhe ver novamente."

Traidor, clamavam as vozes, traidor traidor traidor traidor

"Pai!" A voz de Wilbur trouxe-os de volta à realidade; desta vez era um castelo diferente, um tempo diferente. "Você conhece este estranho?"

"Bom, é claro, Wilbur." Tommy revirou seus olhos. "Papai acabou de dizer seu nome, não disse? Technoblade. É um nome estúpido."

"Tommy!" Philza o repreendeu, com nenhum calor real atrás de suas palavras. Chegou perto deles, seus passos quietos e equilibrados. Os servos que seguiam os dois garotos se curvaram em deferência ao seu soberano, apesar dele estar usando nenhuma coroa. Na verdade, ele parecia um viajante tanto quanto Techno—trajado em simples calças e camisa, perfeitas para se misturar, perfeitas para um homem em fuga.

"Faz muito tempo," Philza disse quando os alcançou, colocando uma mão gentil no topo da dourada cabeça de Tommy. O garoto se arqueou para o toque como um girassol alcançando o sol. Technoblade não sabia se o movimento era calculado, ou um simples ato de afeto. Ou, conhecendo Philza, ambos. "Como esteve?"

"Como eu estive?" Techno repetiu entorpecido, sentindo um familiar frio rastejar em seus ossos. "Phil, eu—"

"Na verdade," Philza interrompeu, antes de se ajoelhar para olhar para seus garotos nos olhos. "Wilbur, leve seu irmão para o jardim um pouco, certo?"

Wilbur fez beicinho, pela primeira vez parecendo um garoto de sua idade. "Mas você disse—"

"Eu sei o que prometi, e eu mantenho minhas promessas, não mantenho?" Philza bagunçou os cabelos de Wilbur e então os de Tommy. "Eu irei me juntar com vocês em um momento. Eu só preciso ter uma conversa com Technoblade aqui."

Wilbur encarou seu pai por um longo tempo, como se estivesse pesando a verdade das suas palavras, até acenar com a cabeça. Ele levou a mão de seu irmão com a sua e começou a guiá-lo para fora. "Vamos, Tommy," ele disse. "Vamos brincar lá fora."

"Technoblade é ainda um nome estúpido," Tommy resmungou enquanto passavam por ele, sendo cautelosamente seguidos por seus servos.

Wilbur encontrou os olhos de Technoblade, só por um momento, antes de irem embora—pelo corredor, fora de vista, deixando Technoblade sozinho com o rei. Technoblade virou para Philza, seu velho amigo, e achou o sorriso limpo de seu rosto.

Philza gesticulou para o corredor. "Ande comigo?"

Technoblade só conseguia acenar com a cabeça, e seguir Philza.

Eles eram quietos enquanto andavam. Techno recordava de dias como esse durante seu tempo juntos, longos dias de silêncio companheiro enquanto eles simplesmente existiam juntos. Mas tinha algo diferente desta vez. Tinha uma borda. Techno conseguia sentir Philza o avaliando, contando suas ocultas armas, calculando suas melhorias. Em retorno, Techno mapeava suas rotas de fuga enquanto Philza o guiava pelos corredores, e então um amplo lance de escadas. Ele não queria imaginar violência de Philza, mas ele não tinha imaginado ser deixado para trás, também.

Eles chegaram em uma varanda com vista para um jardim, de onde a maioria das flores interiores vieram, sem nenhuma dúvida. Glicínia e hera cresciam em volta de pilares de mármore; arbustos de rosas e dentes-de-leão e cravos desabrochavam em massa no pé de elaboradas estátuas de pedra. No centro do jardim tinha um salgueiro-chorão, seus galhos providenciando sombra para os dois meninos perseguindo uns aos outros pela grama. Suas risadas ecoavam pela clareira, alcançando até mesmo Techno e seu pai lá em cima na varanda.

Por um tempo, os dois só observaram os dois príncipes. Wilbur era obviamente mais rápido que Tommy, mas ele diminuiu seu passo o suficiente para seu pequeno irmão se divertir perseguindo seus calcanhares.

"Eles são mão-cheia." O tom delicado de Philza afastou a atenção de Techno dos príncipes. O rei estava quase sorrindo, mas o forte brilho em seus olhos não desaparecia. "Wilbur era mais quieto, antes de Tommy nascer. Uma pequena traça de livro, entocado no seu quarto todo dia. Mas eu tenho uma sensação que você não veio aqui para histórias bobas como essa." Philza virou em direção à Techno. "Então, prossiga. Deixe-me ouvir."

Techno não sabia o que deveria sentir. Ele não sabia o que deveria dizer. Por anos, ele teria colocado Philza fora de sua mente, determinado a esquecer aquele interlúdio de paz. Ele deixou as memórias apodrecerem como ferimentos não tratados, e agora ele pensou que preferia morrer com a infecção do que admitir que era real, que a dor estava lá afinal.

"Eu não pretendia vir até aqui," Techno disse eventualmente. "Eu não sabia que esse lugar era seu. Eu posso ir embora, se você—"

"Não." Philza sacudiu sua cabeça. "Não vá embora. Verdade seja dita, essa reunião era inevitável. Ou, eu espero que seja."

"A quanto tempo esteve aqui?"

Philza considerou. "A quanto tempo esse reino esteve em pé?"

"Phil, isso é—"

"Eu sei. Pessoas como nós não podem estar em um lugar por muito tempo." Philza suspirou e virou de volta para o horizonte. Ele encostou seus braços contra o parapeito de ferro forjado e olhou para a terra a frente—a inclinação de distantes montanhas, o reino que só se esticava, sem ideia de que seu rei imortal era tudo que permanecia entre eles e destruição. "Eu encontrei uma pequena cidade enquanto estava viajando, fiz disso algo a mais. Eu disse a mim mesmo que iria ir embora após um ano, mas então se tornou dois anos, três anos, uma década. Eu sim fui embora eventualmente, antes que eles descobrissem por que seu prefeito da cidade nunca envelhecia. Mas então eu descobri, no momento que eu saí..." A expressão de Philza se tornou fria. "Eles foram aniquilados. Eu voltei e tudo, todo mundo foi incendiado até o chão. Só era cinzas. Tudo que eu construí... Tinha sobreviventes, é claro, e eles culparam seu líder por ir embora, é claro—como eles deveriam. Então eu fiquei. Eu construí tudo novamente, de uma pequena, dizimada cidade para oque você vê hoje. Até onde as pessoas sabem, liderança foi passada por um rei para outro que parecia vagamente como ele, eu tenho certeza que o mais velho deles tem seus rumores, mas é realmente tão ruim ser conhecido?"

Technoblade não tinha notado, até Philza virar novamente para olhar para ele, que ele esperava uma resposta para sua pergunta. Mas tudo que Technoblade poderia dizer era, "É por isso que você me deixou para trás?"

"Techno—"

"Eu entendo. Você ouviu que o lugar que você ama estava com problemas, então você voltou, mas eu não—eu só—por que você não me levou?" Aqui estava, finalmente. Catarse, ou algo parecido. "Eu os caçaria com você, Philza, as pessoas que fizeram aquilo com sua cidade. Eu lhe daria a sua vingança em uma bandeja de prata. Eu lhe daria o mundo."

Philza não parecia culpado. Só parecia cansado. "Entretanto, eu não os cacei."

"O que?"

"As pessoas que incendiaram minha cidade. Eu não os cacei, mesmo querendo muito. Eles já estavam muito longe quando eu cheguei, e naquele momento, meu povo precisava de um líder, não um caçador. E eu não lhe trouxe porque—"

Eles ficaram lá, deixando as palavras se acomodarem no silêncio que se esticou mais e mais como uma corda em volta do pescoço de Technoblade.

Negue, ele queria gritar, me diga que estou errado.

Philza não negou.

"Eu não preciso ouvir isso de você," Technoblade cuspiu as palavras. Um poço de velha dor e raiva, uma vez seco, começava a encher novamente. "Seus filhos sabem o que você é? Quem você é? O Anjo da Morte, domesticado. Uma grande farsa."

Philza enrijeceu. "Você não sabe do que fala."

"Uma vez, já vi você partir um homem no meio com suas próprias mãos, e agora você está me contando sobre liderança? Sobre gentileza?"

"Eu não disse nada de gentileza. Se eu tivesse completamente renunciado aos meus caminhos, meu reino não seria o que é hoje. Cachorros domesticados ainda mordem."

Philza deu passos até ele até que estivessem cara a cara. Apesar das acusações Techno o arrojou, apesar do histórico ensanguentado de ambos, Techno nunca tinha verdadeiramente visto Philza irritado. Mas ele tinha uma sensação de que se ele continuasse correndo por esta estrada de cabeça, ele talvez fosse se achar sabendo todo o extenso da ira do seu velho amigo. Os olhos de Philza estavam duros como pederneira—uma faísca longe da combustão.

Technoblade olhou abaixo, para o jardim. Phil seguiu seu olhar até que ambos estivessem encarando de volta para os dois garotos ali embaixo, que interromperam sua brincadeira para admirar seu pai e o estranho.

Eles não conseguiriam ouvir uma coisa que Philza ou Techno disse, mas Wilbur estava de pé com sua cabeça inquisitivamente inclinada para o lado, como se estivesse revirando as palavras.

"Papai!" Tommy disse em voz alta. "Você já está acabando?"

"Quase!" Philza chamou de volta. "Eu já estarei aí embaixo, crianças!"

Tommy acotovelou Wilbur e disse algo que fez o outro garoto jogar sua cabeça para trás de tanto rir. E então ambos correram, de volta para seus jogos, de volta para sua doce infância. Quando Technoblade voltou para Phil novamente, a expressão do rei teria convertido para algo consideradamente mais agradável. Techno poderia viver mais mil anos e nunca entender quão facilmente Philza conseguia esconder sua fúria.

"Eu não estava tentando... me instalar," Philza disse, quietamente agora, como se estivesse implorando a uma criança para parar sua birra. Seus olhos ainda estavam em seus filhos abaixo. "Eu estava contente, por um tempo, para observar o reino crescer. Mas esses mortais e suas curtas, incertas vidas... Elas atraem você, Technoblade. Eu costumava pensar que eles eram mariposas atraídas por chama, condenadas a pegar fogo por as coisas mais inconsequentes. Nós vimos suas guerras, você e eu. Nós lutamos elas. Nós dois sabemos das coisas que fazem para eles mesmos." Philza segurou o parapeito da varanda como se fosse a única coisa evitando que ele flutue. "Mas ao passar dos anos, eu também aprendi coisas que fazem por eles mesmos. Suas vidas sempre irão ser um ano, uma semana, um dia, mas isso não parece importar muito para eles. Eles vivem de qualquer jeito. Eles amam de qualquer jeito. Perdoe um velho deus por querer um pedaço disso para si mesmo."

Uma brisa de final da manhã passou, carregando consigo mesma o aroma de flores e os farrapos do resto da angústia de Techno. A fúria ainda estava lá, e o sentimento de uma traição tão grande que nunca pode ser superada, mas a exaustão começou a se acomodar. Techno estava acostumado com breves brigas e longas caçadas, mas altercações verbais não era algo que ele teria treinado—geralmente porque ele nunca ligou de falar com alguém que importava desde... desde sempre, talvez.

E talvez Philza estivesse cansado, também, da sua vida antes. Sempre lutando, nunca seguro. E apesar de Techno pensar que seria apenas uma questão de tempo até que esse jogo de paz acabasse, ele pensou que talvez pudesse começar a entender o porquê de Phil ter aproveitado essa chance. Era um movimento tolo, e Technoblade iria zombar disso pelo resto das suas vidas imortais, mas isso não seria a pior escolha que alguém já teria feito. Technoblade já viu o pior, e isso mal era uma gota no oceano de ruins decisões.

Ainda, era estúpida. Um olhar a Philza e Technoblade notou que ele deve saber, também.

"Eles são como você?" Techno perguntou afinal, incerto de qual resposta ele estava esperando. "Seus meninos?"

Philza suspirou. "Eu não desejaria o meu destino ao meu arqui-inimigo, menos ainda aos meus próprios filhos." Suas mãos apertaram em volta do parapeito. "Eles seguem sua mãe. Mortal. Bom, em todos os modos. Eu agradeço a cada deus que já existiu por isso. Mas às vezes..."

"Às vezes?" Techno induziu quando o silêncio se esticou demais.

Philza cerrou sua mandíbula. "É o Wilbur. Ele fala de vozes—"

"Vozes?"

Philza encontrou os olhos de Techno. Uma conversa de vidas atrás repetiu na cabeça de Techno—um momento de vulnerabilidade em um castelo não muito diferente deste, onde ele derramou seus segredos tão fácil quanto derramava sangue. As vozes, Phil, elas demandam sangue. Houve um mundo de agonia no olhar de Philza, um incômodo somente compreendido por um parente temendo por uma criança.

"Estou feliz que ele não é como eu," Philza disse. "Mas às vezes eu temo que ele está crescendo mais e mais como você."

A respiração de Techno deu um nó em sua garganta. Ele resistiu a vontade de olhar para baixo novamente, para procurar na grama o garoto com antigos olhos.

As vozes começavam a cantar.

Não está sozinho, elas disseram. Não está sozinho, não está sozinho, não está

"Não," Techno disse, encolhendo suas mãos em punhos e enterrando suas unhas em carne até derramarem sangue—sua penitência diária. "Ele é apenas uma criança"

Techno pausou. O que ele estava falando? Por que importava o que Wilbur era? O que foi essa repentina dor em seu peito, algo que diz de uma ferida muito mais profunda, uma antiga aflição? Ele não conhecia esse menino. Ele não deveria ligar. Ele não ligava.

Mas então Philza o segurou pelo pulso, como se soubesse que Techno estava prestes a sair correndo, e o forçou a encontrar seu torturado olhar.

"Isso era o motivo que eu mantive a expectativa que você viria. Verdade seja dita, eu estava muito próximo de procurar você eu mesmo. Eu não consigo fazer isto sozinho, Technoblade, tanto quanto eu quero. Você é o único—"

"Você quer minha ajuda," Techno disse aborrecido "Minha ajuda, após você me abandonar. Após você denunciar meus caminhos e me chamar um monstro."

Philza hesitou. "Eu nunca lhe chamaria disso, meu amigo."

Amigo. A palavra que Technoblade verdadeiramente entendeu nos dias de neve e doce chá.

"Eu não te devo nada," Techno quietamente disse. "Eu não devo a aquela—aquela criança nada."

"Eu sei."

"E eu tenho melhores coisas para fazer com meu tempo."

"Eu sei."

"Depois de tudo que você fez, eu não deveria nem estar lhe escutando agora. Eu só deveria ir embora."

"Eu sei, Techno, eu sei."

E então Philza fez algo Technoblade nunca, em cem ou milhões de anos, imaginaria que ele fizesse. Ele ajoelhou na sua frente, pateticamente segurando sua capa, seus dourados cabelos curvados. As vozes eram um coro de desgosto e desdém—oh, como os poderosos caíram—e quando Philza falou novamente, sua voz vacilou.

"Me desculpa, verdadeiramente, por ter ido embora. Mas eu estou lhe pedindo, lhe implorando, para fazer isso por mim. Por meu filho. Por a amizade que um dia compartilhamos, Techno. Por favor. Por favor. Eu não sei quanto tempo os deuses irão nos dar."

"O que você vai querer que eu faça?" Techno demandou, sua própria voz desgastando nas bordas. "O que você espera de mim, Phil?"

Philza olhou para ele, seu rosto um estudo em agonia. "Fique. Fique e ajude, o quanto você puder. E juntos, talvez poderemos o ajudar, também."

As vozes pausaram. Só por um momento. Só por um respiro, enquanto todas elas consideravam o peso nas palavras de Philza. E, deuses, aquele silêncio—por mais breve que seja, por mais fugaz que seja—era a coisa mais doce que Technoblade já teria escutado.

Nós poderemos o ajudar. O que isso significava, exatamente? O que isso implicava?

Technoblade não sabia, e não ligava. Ele veio aqui em busca de um reino de paz, e ele o achou. Perdoe um velho deus por querer um pedaço disso para si mesmo, Philza tinha dito. E o que era paz senão o silêncio? Isso não era liberdade. afinal?

Então as vozes começaram a cantar novamente, um imortal caçador ofereceu um imortal rei a sua mão. O Sol escalou mais alto em direção ao coração do céu enquanto Technoblade puxava Philza aos seus pés, e eles estavam em terreno igual mais uma vez.

Ele não tinha ideia do que estava fazendo. Mas não tinha outra verdadeira alternativa. Então Technoblade encontrou o olhar do seu velho amigo e disse, "Certo. Você e eu, mais uma vez."

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