! ! ATENÇÃO ! !
O capítulo a seguir tem os seguintes possíveis gatilhos, você foi avisado.
— Ataques de pânico.
— Morte.capa feita por @/Distopiq no twitter
Wilbur não sabia o que fazer com o visitante. O viajante. O que quer ele fosse.Pai tinha descido para o jardim com ele, e Wilbur conseguia saber que ele estava triste. Ele não sabia se o visitante era a causa, ou outra coisa. Outra pessoa.
"Uma introdução formal é necessária," Pai disse a Wilbur e Tommy. "Esse é Technoblade. Um velho amigo. Ele estará o tutorando por um tempo, Wilbur."
Wilbur encarou o homem, o vendo na suave luz matinal finalmente. Technoblade. Tommy estava certo—era um nome bem estúpido. E um que Wilbur já tinha escutado antes, mas não tinha certeza onde.
Ele era alto e magro, e provavelmente alguns anos mais velho que Wilbur. Ele estava trajado como ele, também, com mangas bufantes que Tommy sempre disse que fazia ele parecer um velhote. Um brinco de esmeralda balançava na orelha esquerda de Technoblade, semelhante a que Pai usa com uma corrente de ouro em volta de seu pescoço, entocada secretamente em sua blusa social. Ele era um tipo de realeza, também, então? Algum príncipe estrangeiro ou um primo distante que Pai nunca se incomodou em contar à Wilbur sobre? Pai tinha muitos segredos; este poderia ser um de milhares.
Technoblade olhou para Wilbur, acenou com sua cabeça, e então disse, "Nós começaremos ao alvorecer," antes de deixá-los.
Wilbur o encarou, perplexo. "O que...?"
Pai estava com dificuldade para manter um sorriso fora do seu rosto. "Esse é o Techno para você."
Agora eles estavam sentados na sala de jantar, cada um preso em seus próprios pensamentos—exceto Tommy, cujos pensamentos sempre devem sair da sua boca, independentemente de quem estava ou não escutando.
"—e Wilbur me fez tropeçar mas eu me levantei muito rápido, você viu não viu, Papai? Papai? Não viu?"
"Eu vi, eu vi," Pai distraidamente disse. Ele estava encarando o seu prato meio comido como se guardasse os segredos do universo. Wilbur deduziu que ele estava fazendo isso para não encarar o assento vazio da Mãe.
Ela estava comendo suas refeições mais e mais no seu quarto. Tommy não tinha notado ainda, mas Wilbur notou. Wilbur sempre notou.
"E esse tal Techno, ele é um cara meio estranho, não é? Ele vai me treinar, também? Eu vou ter que acordar ao alvorecer como Wilbur?"
Wilbur fez careta. "Por favor não me lembre, Tommy."
Tommy mostrou a língua a ele do outro lado da mesa. "Não é como você tivesse qualquer outros planos. Eu tenho certeza que você vai passar a noite em claro lendo de novo." Ele dramaticamente gesticulou para si mesmo. "Eu, por exemplo, iria amar estar sob tutoria do Senhor Technoblade, mesmo seu nome sendo estúpido."
Ambos viraram para seu pai—um com expectativa de olhos estrelados, o outro com mórbida curiosidade.
Pai afetuosamente suspirou antes de bagunçar o cabelo de Tommy. "Desculpa, amiguinho. Talvez possamos achar outra pessoa para você. Tenho certeza que a Capitã estaria disposta em—"
"Mas eu quero a Lâmina," Tommy choramingou.
Wilbur zombou. "É, como se você conseguisse acordar cedo o suficiente. Você ainda estará na cama ao meio-dia, posso ver agora."
Pai deu para Wilbur um sorriso atrevido que ele reservava somente para seu filho mais velho. "Vou te dizer uma coisa, Tommy, se você conseguir acordar com Wilbur, então você poderá assistir ele treinar com Techno."
"Sério?" Tommy se chutou para fora da mesa, por pouco perturbando a taça de vinho do Pai. "Boa noite, então! Mais cedo para a cama, mais cedo para o prêmio, como sempre dizem!"
"Quem diz isso?" Wilbur disse, mas Tommy já tinha sumido, deixando Wilbur com seu pai e o silêncio.
Por um tempo, o único som era utensílios arranhando contra pratos e a batida do coração de Wilbur em seus ouvidos. Ele nunca admitiria para Tommy ou qualquer outra pessoa, mas sua relação com o Pai era sempre melhor com seu irmão por perto. Não era porque Wilbur não amava seu pai, ou porque ele achava que seu pai não o amava. Wilbur não conseguia lembrar acontecer, mas em algum lugar ao longo do caminho de estudar sobre guerras e política, de encarar o trono que um dia seria dele, de aprender como ser um príncipe, ele teria esquecido como ser um filho.
E às vezes, quando Pai achava que ele não conseguia ver, Pai olharia para ele com uma tristeza sem fundo, como se estivesse lamentando algo já perdido.
Deveria ser o Tommy, Wilbur pensou. Ensolarado Tommy, cujo conseguia encantar todos que conhecia, apesar de—ou talvez por causa de—sua barulhenta disposição. Não ele. Não quando Pai o olhava assim.
Wilbur engoliu o resto de seu jantar e estava pronto para ir, se não fosse por seu pai falando mais uma vez.
"Wilbur?"
"Sim, Pai?"
Pai se encostou na sua mão enquanto ponderava Wilbur. "Você quer que eu esteja lá por você amanhã?"
Wilbur zombou indiferentemente. "Eu não sou uma criança, Pai."
"É claro," Pai disse. "Mas Technoblade é ainda um estranho para você."
Wilbur franziu os lábios enquanto pensava nas palavras de seu pai. "Você confia nele?"
"Sim," Pai respondeu de uma vez.
Wilbur acenou com a cabeça. "Então eu confio nele."
Pai o encarou por um longo tempo, e então acenou com a cabeça. Não tinha mais nada para dizer, era o que parecia, então Wilbur se retirou, deixando seu pai no silêncio.
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A porta de Tommy estava firmemente fechada quando Wilbur chegou nos quartos. Sua própria porta estava entreaberta, aguardando. O luar derramado das janelas arqueadas, pintando tudo de prata: a cama bagunçada com livros inacabados, e a escrivaninha carregando cicatrizes de suas múltiplas frustrações em escrever música para o violão que estava descartado no chão. Mãe o deu aquele violão no seu décimo aniversário. Ele costumava tocar canções de ninar (ou músicas aterrorizantes, quando estava com vontade para travessuras de irmão mais velho) para Tommy, antes de decidir que era um grande homem, e se mudou para o quarto no outro lado do corredor.
Seu corpo parecia pesado com pensamentos. Technoblade—o garoto que não parecia muito mais velho do que ele, agora encarregado de o tutorar em... em o que? Pai não tinha sido muito específico com isso, entre outras coisas.
Com um suspiro, Wilbur pegou o violão do chão e o arrastou com ele até a janela. Enquanto preguiçosamente tocava as cordas, ele olhou para o horizonte através do vidro: os extensos gramados do castelo acabando nos agourentos portões, e depois disso, seu reino. Seu patrimônio.
Ele tocou uma única discordante nota. Nada tinha vindo facilmente para ele, recentemente. Música, literatura, conversação—tudo, de uma só vez, virou taxação. Até rir com seu irmão parecia uma tarefa.
Os dedos de Wilbur pairavam no que. sem dúvida, seria mais uma má nota. Algo estava se movendo, lá embaixo no gramado. Ele forçou sua vista para a figura até entrar em um foco mais nítido.
"Technoblade?"
Wilbur pressionou seu rosto mais perto do vidro, só para ter certeza que seus olhos não estavam o enganando. Não foi até que sua respiração embaçou a janela completamente que Wilbur percebeu que estava hiperventilando. Ele se afastou do vidro e tropeçou com seu violão no caminho para a cama. Ele puxou as cobertas sobre si mesmo, como se a escuridão fosse amortecer seus pensamentos.
Onde ele está indo? seguido por Ele vai voltar? Ele vai voltar? Ele vai voltar? Ele vai—
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"Você está atrasado."
Wilbur piscou na fraca luz do Sol mal rompendo o horizonte. "O que...?"
Ele piscou mais um pouco até finalmente reconhecer seus arredores: o liso piso de mármore, as quatro colunas esculpidas como deuses sustentando o telhado plano, hera seguindo por a borda do telhado como uma cachoeira, cortando-os do resto do jardim. Este era o pavilhão de treinamento—A área pessoal de treinamento do Pai, onde ele tentou ensinar Wilbur esgrima antes de ficar claro que armamento não é para ser o forte de Wilbur.
"Tudo bem, filho," Pai disse, cuidadosamente tratando o corte na perna de Wilbur feito por seu próprio espadim. "Reis não realmente precisam saber lutar. É para isso que servem os exércitos." Pai soava irritado enquanto falava isso, mas Wilbur de algum jeito sabia que não era por causa dele.
"Mas você sabe." Wilbur fez beicinho, obedientemente tentando segurar lágrimas enquanto Pai aplicava ervas ardentes em seu ferimento.
"Bem," disse Pai. "É diferente."
"Diferente como?"
"Só diferente." Pai finalizou enrolando as bandagens em volta da perna de Wilbur e sorriu para ele. "Eu irei lhe contar quando for mais velho."
Ele nunca contou.
Mas não era Pai na frente de Wilbur hoje.
"Bem?" Technoblade disse, gestionando para o pesado baú no canto. "Estamos queimando a luz do dia aqui, principezinho. Se apresse."
Wilbur piscou novamente. "Desculpe, mas como eu...?"
Technoblade o encarou quietamente enquanto ambos esperavam Wilbur finalizar sua frase. Os olhos dele são vermelhos, Wilbur distantemente notou, mesmo quando ele tinha dificuldade para lembrar qualquer outra coisa. Ele não recordava ter dormido, ou acordado, ou caminhado para conhecer seu novo tutor para sua primeira lição.
"Bem?" Technoblade incitou.
Wilbur balançou sua cabeça. "Nada, nada. O que vamos, um, aprender hoje?"
Technoblade inclinou sua cabeça para o lado, não impressionado. Seu cabelo estava puxado em uma trança tão apertada que doía o couro cabeludo de Wilbur só de estar perto. "Philza disse que você é uma merda em esgrima."
Wilbur fez careta enquanto andava até o baú, ajoelhando para filtrar por seus conteúdos. "É um jeito de dizer." Ele pegou uma das espadas, e virou para Technoblade, que aparentemente trouxe sua própria arma: uma longa espada de aparência perversa com um punho incrustado em rubi. "Eu sou um pouco melhor em armas de longo alcance, se você estiver curioso."
"Não estou," Technoblade bufou. "Fique em posição."
Wilbur se posicionou.
"Não está correto."
Wilbur suspirou. "Eu lhe disse—"
Technoblade caminhou para perto de Wilbur até ficarem cara a cara. Wilbur era uns centímetros mais alto que ele, ele percebeu, pelo menos até Technoblade o derrubar de costas com um repentino golpe no seu estômago. O ar fugiu dos pulmões de Wilbur rapidamente. Ele preguiçosamente piscou para o teto por um momento, antes da indignação se formar.
Ele se apoiou nos seus cotovelos e olhou para seu tutor, que parecia mais e mais não impressionado.
"Você conseguiria resistir se estivesse na posição certa." Technoblade falou pausadamente.
"Você poderia ter me avisado!" Wilbur cuspiu as palavras, se pondo de pé.
"Oh, é assim como uma luta é, Sua Alteza?" Technoblade o zombou. "Tá bom, então, se o satisfaz, Sua Príncipeza, eu golpearei seu ombro com a parte plana de minha lâmina agora."
"O que?"
Mais rápido que um respiro, Technoblade fez. Wilbur caiu de lado, sua própria arma voando de suas mãos.
Technoblade riu sem nenhuma ternura verdadeira. "Eu até lhe avisei desta vez e eu ainda lhe derrubei. Deuses, você é patético."
Wilbur queria dizer, Eu irei chamar o meu pai, mas se conteve antes de conseguir dar aquela satisfação para o idiota convencido. Invés disso, ele tremulante se pôs de pé, todo o seu corpo ardendo com o impacto com o chão, e pegou seu espadim do chão.
Ele ficou em posição novamente. Technoblade arqueou uma sobrancelha.
"Isso seria mais rápido se você me dissesse o que tem de errado," Wilbur resmungou.
"Isso seria bem mais rápido se você não atrapalhasse seus fundamentos," Technoblade retorquiu.
"Cala a boca."
"Fortes demandas de um garoto que não consegue nem deixar seu pé esquerdo no lugar certo."
Wilbur considerou suas palavras. Ele moveu seu pé esquerdo centímetro por centímetro, observando Technoblade até o homem finalmente o deu um curto aceno de cabeça. Wilbur suspirou.
"Vê? Não foi tão—oh meus deuses." Wilbur mal teve tempo de levantar seu espadim antes de Technoblade bater sua espada contra ele. Ferro assobiou. Os joelhos de Wilbur curvados por a força surpreendente de Technoblade—parecia como ter uma casa inteira desmoronar nele, e se ele caísse, ele seria esmagado.
Technoblade se afastou, deixando Wilbur com seu coração martelando seu peito.
"O que foi isso?!" Wilbur demandou. "Você poderia ter me matado dessa vez!"
"Eu poderia ter lhe matado múltiplas vezes desde que você colocou o pé aqui." Technoblade gesticulou para que ele ficasse em posição. De novo, de novo, de novo. "Nunca abaixe sua guarda, Sua Alteza. Sempre deduza que o inimigo está planejando atacar."
"Qual é o ponto disso?" Wilbur perguntou. "O reino esteve em paz por deuses sabem quanto tempo. Eu não preciso arriscar meu pescoço por uma habilidade que nem importa."
Technoblade o ponderou por um longo tempo, o silêncio entre os dois só quebrado por inícios de cantos de pássaros enquanto o resto do mundo finalmente começava a acordar.
"E o que você fará quando importar?" Technoblade perguntou.
"Nunca irá—"
"Mas vamos dizer que irá," Technoblade o interrompeu, dando um passo até Wilbur, seus olhos vermelhos nunca deixando o rosto do príncipe. "Vamos dizer, hipoteticamente, que um exército estrangeiro ataque nesse exato momento. O seu pai não está aqui para ajudar. Ninguém está aqui para ajudar. É só você. Você só vai ficar parado e ser dilacerado pela multidão? Você vai fugir como um covarde e deixar seu reino para os lobos?"
Wilbur hesitou. "Isso não é..."
"Ou talvez nem um exército. Considere, se puder, só uma única esperta, irritada pessoa, e ela tem o seu irmão." Technoblade sorriu de lado com qualquer expressão que estava no rosto de Wilbur. "É tudo que é necessário, sabe, para matar um reino—uma única pessoa que saiba seus pontos fracos. Então o que você precisa fazer é se livrar deles. Os pontos fracos, digo. Esse reino só é impenetrável porque Philza há muito tempo se livrou de toda vulnerabilidade. Então o que acontecerá quando você assumir o trono?"
"Isso não é verdade," Wilbur disse quietamente, parado no aguaceiro das palavras de Technoblade. "Meu pai—ele tem sim vulnerabilidades. Ele tem a Mãe. Tommy." Eu.
"Mas ele tem poder para protegê-los," Technoblade respondeu. "E você não. Essa é a diferença."
O Sol tinha escalado mais alto no céu, pintando tudo de ouro. Através das fendas das heras, a morna luz brilhou na pele de Wilbur, o aquecendo de dentro para fora. Ele imaginou a luz se infiltrando em sua pele, em seus ossos, nas rachaduras de sua alma até poder ser inteiro novamente—um garoto da luz do Sol, como Tommy. Ele queria que o Sol queimasse a exaustão, a tristeza, os pensamentos. Ele queria que o Sol queimasse Technoblade, também, com suas palavras duras tornadas mais duras por sua verdade.
Wilbur tremidamente respirou, permitindo o ar fresco entrar e o prendendo em seus pulmões por o tempo que ele conseguia. Então ele o soltou.
Ele olhou para Technoblade, e então se posicionou.
"Certo," ele cuspiu as palavras. "Faça seu pior."
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"Wilby, você parece lixo," Tommy brilhantemente disse acima de um prato de ovos.
"Tommy," Pai repreendeu.
"Não, não," Technoblade murmurou através de uma boca cheia de carne. "O garoto está certo, Phil, Wilby está sim parecendo lixo."
Wilbur resmungou com suas observações—e então resmungou mais um pouco quando o movimento fez suas costelas parecer que estavam rachando. Hematomas já estavam começando a aparecer por seus braços por causa das múltiplas vezes Technoblade o derrubou no chão. Ele nem conseguia alcançar seus utensílios sem dor amarrar seu lado, então seu café da manhã permaneceu tentadoramente fora de alcance logo em sua frente.
A chatice inicial de Tommy sobre dormir demais e "perder a Lâmina em ação" foi apenas correspondido por seu deleite absoluto em ver seu irmão mais velho tão maltratado, e então superado por sua excitação quando Pai convidou Technoblade para o café da manhã para recontar o quão terrível Wilbur performou. Era para registrar seu progresso, ou alguma desculpa assim, embora Wilbur adivinhou que Pai só queria evitar que Technoblade desapareça para onde quer que ele vá—como a noite passada.
"Ele chorou?" Tommy demandou, praticamente vibrando para fora de sua cadeira.
Technoblade, sentado próximo a ele, cortou outro pedaço de carne e ponderosamente mastigou antes de responder, "Quase."
"Perverso," Tommy respirou.
Pai olhou para Wilbur preocupadamente, observando seus hematomas. "Techno, talvez próxima vez, você poderia pegar um pouco mais leve?"
"Não," Wilbur disse apressadamente, estremecendo quando seus membros doloridos protestaram. "Não. Eu o disse para não se segurar."
Pai arqueou uma sobrancelha. "Eu duvido disso."
"Não, é sério, eu preciso disso, Pai," Wilbur insistiu. Suas pernas pareciam cordas e alguns de seus ossos estavam definitivamente fora do lugar, mas ao final da sua sessão de cinco horas, ele aprendeu onde golpear para matar e onde golpear para incapacitar, como bloquear ataques tanto quanto dá-los, e como lutar contra oponentes mais fortes—"O que, para você, seria todos," Technoblade tinha dito enquanto ele corrigia o punho de Wilbur no seu espadim.
"Deixe o garoto se machucar um pouco, Phil," Technoblade agora disse, derrubando uma taça de vinho. "É boa prática. Boa distração, também."
Distração?
Wilbur olhou para seu pai, mas ele estava ocupado tentando forçar uma tigela de legumes para Tommy. Quando ele olhou novamente, Wilbur se achou encontrando olhares com Technoblade.
O outro garoto estava o ponderado longamente. Wilbur percebeu aquela expressão várias vezes nas últimas cinco horas. Como Technoblade estava o inspecionando—menos com o escrutínio de um professor, e mais com o intenso foco de um cirurgião tentando não fazer o corte errado.
"O que?" Wilbur finalmente perguntou. "Eu tenho algo no meu rosto?"
"Sim. Derrota."
Wilbur resistiu a vontade de mostrar sua língua, como Tommy sem dúvida faria. "Você é um convidado bem rude."
"Você é um príncipe bem fraco."
"Eu não vejo o que minha destreza física—"
"Ou falta dela," Technoblade inseriu.
"—tem a ver com você ser um idiota tão irritadiço." Wilbur finalizou ardentemente.
"Wilbur!" Pai disse, se virando para seu filho mais velho. "Palavreado? Na frente do seu irmão bebê? Eu lhe ensinei melhor comportamento do que isso."
"Eu não sou um bebê," Tommy protestou. "E o que é idio—"
"Eu acho que é a minha deixa para ir," Technoblade inesperadamente interrompeu, se levantando de seu assento.
"Para onde?" Pai perguntou.
"Não é da sua conta, na realidade," Technoblade respondeu, não levianamente ou arrogantemente, apenas declarando um fato.
O punho do Pai apertou infinitesimalmente na sua colher. "Eu acho que é da minha conta, se você está morando no meu castelo."
Technoblade encolheu os ombros. "Tente e me pare, então."
Eles se encararam—o rei e seu visitante. Olhos vermelhos em azuis. Um tempo passou. Então outro. Pai não se moveu.
"Foi o que pensei," Technoblade zombou, e então desapareceu em um turbilhão de pelos e seda escarlate.
Wilbur olhou para o Pai, tentando desvendar sua reação. Pai nunca pareceu verdadeiramente velho, mas naquele momento, parecia que Wilbur estava assistindo ele envelhecer mil anos por segundo.
"Quem é ele, de verdade?" Wilbur perguntou, antes que perdesse a coragem.
Pai piscou lentamente, como se estivesse saindo de um sonho. "Um velho amigo, eu lhe disse."
"De quando? Ele não pode ser um amigo tão velho—ele só é um adolescente. Quando você o conheceu?" Wilbur repetiu.
Pai franziu e deixou de franzir seus lábios como se estivesse tentando engolir algo râncido. "Por que isso importa, Wilbur?"
"Porque você olha para ele como você olha para mim, e eu não sei o que fazer disso."
O olhar do Pai prendeu Wilbur no seu assento, mais do que a dor no seu corpo prendeu. Até Tommy ficou quieto, sentindo—do jeito que irmãos mais novos fazem—que seu irmão estava em um tipo de problema que requiria absoluto silêncio.
"E como eu olho para você, Wil?" Pai perguntou.
Como eu lhe desapontasse. Como eu fiz algo para lhe machucar e você está triste mas eu não consigo lembrar o que.
"Não importa." Wilbur reuniu o que restava de sua força e se levantou de seu assento. "Meus outros tutores não violentos estão esperando. Se me der licença, Pai. Tommy."
Tommy o encarou de volta, com os olhos arregalados.
Pai apenas suspirou. "É uma longa história, Wilbur," ele disse, com infinita paciência. Wilbur preferiu que ele gritasse. "E não uma que você está pronto para ouvir. Ambos," ele adicionou, dando a Tommy um sorriso confortante. "Mas um dia, eu irei—"
"Certo." Wilbur virou contra eles, e começou a caminhar. "Um dia. Que dia que seja."
Ele esperava uma refutação. Ou talvez queria uma.
Mas, como sempre, não havia mais nada para dizer.
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Eles continuaram assim por meses.
Toda manhã, Wilbur se puxaria para fora da cama e iria até os jardins, onde Technoblade sempre estaria aguardando—mesmo depois das vezes que ele ameaçava ir embora, e as vezes que parecia que ele realmente ia. Technoblade orientaria Wilbur em suas posições e as corrigí-las demonstrando como exatamente é virado contra ele. O tutor nunca estava completamente satisfeito, mas eventualmente eles fizeram seu caminho por as armas no baú e tiveram que solicitar mais para praticar: lanças e facas e machados. Eles nunca falaram além das instruções usuais, e Wilbur nunca reclamou novamente quando—há algumas semanas—ele quase, quase, desarmou Technoblade durante uma sessão de duelo com o espadim, antes de Technoblade inevitavelmente o derrubar novamente.
"Eu quase lhe peguei!" Wilbur sorriu, mesmo enquanto se colocava em pé.
"Quase não vai funcionar no campo de batalha, principezinho," Technoblade disse revirando os olhos. "E eu estava pegando leve com você."
"Qualquer coisa que lhe ajude a dormir de noite."
Technoblade bufou. "Eu não durmo."
Wilbur ainda estava debatendo se ele estava brincando ou não.
Eventualmente, a inveja de Tommy superou sua sonolência, e ele começou a seguir Wilbur para o pavilhão de treinamento, bocejando por todo o caminho, com seu cobertor enrolado em volta de seus ombros e arrastando na grama orvalhada. Ele sentaria no chão, gritando inúteis conselhos e rindo com as falhas de seu irmão.
"Technoblade," o príncipe mais novo disse em algum ponto. "Você irá me treinar ao lado de Wilbur?"
Technoblade olhou para Tommy e seu cobertor, parecendo tão sério que Wilbur pensou que ele realmente estava avaliando seu pequeno irmão. "Bem, você tem níveis de habilidade semelhantes—"
"Ei." Wilbur jogou um seixo perdido na cabeça de Technoblade. O seixo inofensivamente quicou em seu cabelo trançado.
"Eu quero ser forte que nem vocês," Tommy disse, estranhamente solene enquanto encarava os dois garotos mais velhos. "E como o papai." Ele levantou seus braços desengonçados para eles. "Olhe para eles, Technoblade. Eles estão pulsando com potencial."
Technoblade arqueou uma sobrancelha para ele, um sorriso divertido acomodado em seus lábios. "Pequeno príncipe, você ainda está a anos de distância de precisar aprender qualquer coisa. Seu irmão está treinando para que você não precise. Entendido?"
Tommy fez beicinho, mas acenou com a cabeça. Wilbur o encarou, sentindo como se tivesse acabado de testemunhar a domesticação de uma besta selvagem. Ele olhou para Technoblade, cujo tinha caminhado para um canto do pavilhão para se alongar.
"Como você fez o Tommy não chutar e gritar como ele faz quando ele não consegue o que ele quer de mim?" Wilbur chamou.
"Eu não chuto e grito," Tommy bufou. "Eu solto um másculo choramingo."
"Provavelmente porque ele me respeita e você não," Technoblade curtamente respondeu.
Wilbur se virou para seu irmão. "É verdade?" ele demandou, com falsa dor.
Tommy encolheu seus ombros. "Eu lhe respeitaria mais se você não ficasse lendo o tempo todo."
"Eu não estou lendo agora," Wilbur disse, ao mesmo tempo Technoblade chamou, "Eu sei como ler, também, só para avisar."
Após isso, eles tomariam o café da manhã juntos. Às vezes, só seria Wilbur, Technoblade e Tommy, indo para a sessão de prática—Technoblade. com suas correções secas e Tommy com sua entusiástica, embora muitas vezes imprecisa, entrada. Mas frequentemente Pai iria se juntar a eles, e Wilbur estaria mentindo se ele dissesse que não se sentia um pouco validado quando Technoblade o elogiava—ou o mais perto de um elogio que o homem conseguia chegar—seus avanços na frente do pai.
Mãe começou a acordar tarde, e tomar seu café da manhã no quarto. Eles visitavam ela lá, Wilbur e Tommy, mas ela muitas vezes estaria muito cansada para até falar. Tommy tentou a apresentar Technoblade uma vez, mas ela já estava dormindo de novo quando eles chegavam no seu quarto.
"Provavelmente para o melhor," Technoblade disse. "Eu fui dito que não faço boas primeiras impressões com mães, a maioria das vezes porque eu as conheci depois de chacinar suas crianças."
"Por favor reserve as piadas mórbidas para depois que Tommy for para a cama, Technoblade," Wilbur disse.
"O que chacinar significa?" Tommy perguntou.
"Eu fiz cócegas nelas," Technoblade disse.
"Oh."
"Até a morte."
"Oh."
Wilbur tinha batido no ombro de Technoblade, mas ele estava rindo, também.
Três meses depois, Technoblade finalmente cedeu em deixar Wilbur praticar com armas de longo alcance, que acabaram não sendo seu forte. A sessão teve que parar após Wilbur quase arrancar os olhos de Tommy fora com uma flecha. Tommy estava inconsolável.
"Por favor não conte ao Pai," Wilbur implorou enquanto ajoelhava na frente de seu irmão chorando, limpando as bochechas de Tommy mais rápido do que as lágrimas que desciam. "Foi um acidente, Tommy."
Technoblade gargalhava, encostado em um dos pilares esculpidos do pavilhão. "Você devia ter visto sua cara!" ele conseguiu dizer entre suas gargalhadas. "Oh, deuses, isso é muito hilário—"
Wilbur se virou para olhá-lo. "Você sabe, que se ele contar ao Pai, significa que você estará encrencado, também?"
Technoblade bufou. "Eu não tenho medo do seu pai."
Aí estava novamente. A rejeição arrogante, como se Pai não fosse nada para ele. Wilbur cerrou a mandíbula para manter as observações farpadas de derramar.
Tommy ainda estava chorando, seu pequeno rosto ficando vermelho com o esforço.
"Ok," Technoblade disse depois de um longo tempo. "Está ficando chato agora. Pare."
Tommy não parou.
"Tommy, pare," Technoblade disse mais alto.
Tommy parou, somente para limpar seu nariz na sua manga, soluçar, e voltar a chorar novamente.
"O que tem de errado com ele? Isso costuma funcionar," Technoblade resmungou, chegando mais perto deles como a cautela de um caçador se aproximando de um animal selvagem.
"Bem-vindo ao mundo da irmandade mais velha," Wilbur amargamente respondeu, ainda gentilmente limpando o rosto de Tommy. "Esperamos que aproveite sua estadia, mas provavelmente você irá sofrer."
Technoblade veio para se ajoelhar ao lado de Wilbur.
"Tommy," Technoblade demandou. "Isso é muito irritante, o que você está fazendo. Por favor fique quieto."
Tommy respondeu chorando mais alto.
"Oh, pelo amor de—O que é necessário para você calar a boca? Eu faço qualquer coisa a esse ponto."
A choradeira parou imediatamente.
"Oh, deuses." Wilbur colocou seu rosto nas suas mãos. "Você não deve dizer isso, Techno. Você nunca deve dizer isso!"
"O que? O que?" Technoblade demandou, pânico escoando de sua voz por a primeira vez desde que Wilbur o conheceu. "O que eu fiz? O que diabos eu fiz?"
Tommy fungou. "Você disse que você faria... qualquer coisa?"
Realização surgiu no rosto de Technoblade. "Bem, não qualquer coisa, assim dizendo..."
Os olhos de Tommy começaram a lacrimejar mais uma vez.
"Ok, ok, ok." Technoblade passou suas mãos por seu rosto em frustração. "Tudo bem. Uma coisa, e você vai calar a boca pra sempre."
"Eu quero trançar seu cabelo," Tommy disse de uma vez.
Technoblade piscou. "O que?"
"O que?" Wilbur ecoou. "Você uma vez me fez deixá-lo montar em mim como um pônei por todo o castelo, e você pede a ele para deixá-lo trançar seu cabelo?"
Tommy acenou sua cabeça com toda a solenidade de um juiz anunciando a sentença de morte de alguém. Wilbur e Techno trocaram olhares—Technoblade, um de perplexidade, e Wilbur, um de extrema traição.
E foi assim que eles se acharam desperdiçando a manhã, sentados juntos na grama úmida. Wilbur encostou-se nas suas mãos e levantou seu rosto para o Sol, permitindo que a luz se acomode em sua pele. Ele conseguia ouvir Tommy andando por aí, juntando flores, enquanto a brisa de primavera soprou por o jardim.
Por um momento, tudo que Wilbur conseguia sentir era uma afeição repentina, que consumiu tudo—não por algo em particular. Por tudo. Por a brilhante roda de fiar no céu transformando tudo em ouro polido. Por a terra macia abaixo de suas mãos. Por o ar em sues pulmões e o pólen na sua língua. Por o distante som dos passos de seu irmão. Por o garoto sentado ao seu lado que, contra todas as possibilidades, Wilbur descobriu que ele pode realmente gostar além da mera tolerância. Por a leviandade que tinha começado a espantar os pensamentos mais esgotantes.
Ele abriu um olho e achou Technoblade o encarando novamente, com aquele olhar sério demais.
"O que?" Wilbur perguntou. "Um homem não pode estar feliz que ele não está sendo jogado por aí por uma manhã?"
Technoblade zombou. "Não desacredite minhas habilidades de ensino desse jeito. Você vem sendo jogado por aí menos e menos esses dias."
"Isso era para ser um elogio?"
"Nenhum dos meus elogios terão intenção. Eles serão passivo-agressivos, na melhor das hipóteses. Abertamente hostis, na pior das hipóteses."
"Oh, é claro, nós temos que arrancar afirmação positiva das suas mãos frias e mortas, é isso?"
"O único jeito de conseguir," Technoblade confirmou.
Eles ficaram em silêncio enquanto outra brisa soprou por eles, soprando o cabelo solto de Technoblade no seu rosto.
Então, antes que Wilbur pudesse pensar duas vezes sobre, ele disse, "O que você quis dizer, antes, quando você disse ao Pai que nossas sessões de tutoria são uma distração? Uma distração do que?"
A expressão de Technoblade escureceu por a fração de um segundo antes ele a guiar para neutralidade cuidadosa. Ele encolheu os braços indiferentemente. "Bem, crescendo garoto como você, nós tinhamos que ter hobbies além de... tudo que você estava fazendo antes."
"Eu lia," Wilbur disse. "E tocava música. Era uma distração suficiente, eu acho."
"Não de acordo com Philza."
"Por que você fala assim, aliás?" Wilbur se moveu para olhar Technoblade diretamente nos olhos. "Você chama o rei de Philza, o que eu posso desculpar porque você é... bem, você. Mas Pai também lhe chama de um velho amigo, e eu perguntei a Mãe—porque Pai conta tudo para a Mãe—mas ela nunca ouviu falar de você antes. E você com todas essas coisas sobre armas e guerras. Coisas até demais."
"Você é de um reino que aproveitou paz por décadas, principezinho," Technoblade disse, com um mundo de exaustão em sua voz. "Além dessas muralhas, é diferente. Conhecendo guerra jovem é inteiramente incomum. Crianças só crescem mais rápido lá fora. Elas precisam."
Wilbur pegou um amontoado de grama e o jogou no rosto de Technoblade. Technoblade, desanimado, simplesmente soprou a grama de seu rosto.
"Muito maduro, Sua Alteza," Technoblade disse seco.
"Você estava sendo todo triste de novo," Wilbur murmurou, puxando seus joelhos para seu queixo. Ele olhou enquanto Tommy veio caminhando até eles, seus braços uma explosão de cores—astromélias amarelas, margaridas brancas, malvas roxas e frésias da cor do cabelo de Technoblade.
"Oh, deuses," Technoblade suspirou enquanto Tommy orgulhosamente jogou sua coleção na frente deles.
Tommy sorriu enquanto ajoelhava atrás de Technoblade. "Papai costumava trançar o cabelo da Mamãe o tempo todo, antes dela ficar cansada. Ele me ensinou como."
Technoblade virou para Wilbur. "Deveria me preocupar?"
"Muito," Wilbur sabiamente disse. "Pelo menos ele não tem tesouras dessa vez," ele adicionou, relembrando um mordomo particularmente enfurecido que tolamente se ofereceu para ser o boneco de treinamento de Tommy ano passado, e acabou com menos cabelo do que foi esperado.
Tommy virou a cabeça de Technoblade para longe de Wilbur. "Fica parado!" ele ordenou, começando a pegar punhados do cabelo de Technoblade, os colocando no lugar.
"Ai!" Technoblade disse após um puxão particularmente rigoroso.
"Desculpa," Tommy disse alegremente, e começou a trançar a sério.
Wilbur relaxou e os observou em silêncio, seu feroz tutor e seu mais feroz ainda irmão mais novo. A luz do Sol pareciam ficar nos emaranhados do cabelo de Tommy, o fazendo brilhar como uma auréola dourada. Wilbur nunca viu alguém mais focado do que Tommy estava naquele momento, trabalhando no cabelo de Technoblade, pausando somente para debater em onde cada flor deve ir. E Technoblade, por sua parte, não se moveu nem um pouco, ou deixou escapar uma palavra de reclamação, mesmo quando Tommy demorou para os educar sobre em o que cada flor significava.
Eu poderia escrever uma música sobre isso, Wilbur meditou, e então se maravilhou com o pensamento. Foi como um bloqueio que esteve carregando por anos levantado, e sua arte agora estava à centímetros de distância de suas mãos, ao menos se ele tivesse levado seu violão com ele hoje.
Amanhã, ele prometeu a si mesmo. Eu vou escrever nossa música amanhã.
"Pronto," Tommy finalmente disse, amarrando o final da trança com a fita vermelha que Technoblade frequentemente usa.
Wilbur piscou em surpresa. "Tommy, está.... mesmo bom. Muito bom."
Technoblade alcançou suas costas e passou suas mãos delicadamente por a elegante trança e as flores tecidas nela. Ele cantarolou apreciativamente, e então se conteve antes que pudesse sorrir completamente. Pois ele ainda era Technoblade, afinal.
"Decente," era seu único comentário.
"Eu ainda não acabei!" Tommy disse, e apresentou mais uma flor—uma única rosa amarela. "Essa é a minha favorita," ele adicionou enquanto acomodou a flor atrás da orelha de Technoblade, a orelha que tinha o brinco de esmeralda que Wilbur achou tão familiar, "porque ela significa amizade."
Technoblade enrijeceu. Sua boca abriu e fechou, como se ele estava tentando respirar mas esqueceu como, antes de finalmente dizer, "Nós somos amigos, então?"
Tommy se pôs em pé e limpou a grama em suas calças. "Bem, óbvio que sim."
"Óbvio que sim?"
"Oh, oi!" A inesperada animação no tom de Tommy chamou a atenção de ambos Technoblade e Wilbur. Ele começou a acenar para alguém na distância, seu sorriso tão brilhante quanto a própria vida. "É o Papai e a Mamãe!"
Mãe? Wilbur se levantou de uma vez, seu coração martelando seu peito como uma mariposa pegando fogo. Com certeza, ali estava a Mãe, fora no Sol mais uma vez, por a primeira vez em mais de um ano. Wilbur inspirou tremulamente, não ousando respirar de novo, como se a imagem em sua frente fosse dissipar como fumaça: Mãe, sorrindo para eles, enquanto ela andava de braços dados com o Pai por o jardim.
Tommy correu o mais rápido que suas pequenas pernas o conseguiam carregar e se jogou nos braços abertos de sua mãe o esperando. Wilbur não pôde ignorar o pequeno clarão de dor que piscou nos traços de sua mãe enquanto ela reunia Tommy em um abraço, mas também não conseguiu evitar o alívio ao vê-la andar.
"Bem?" Technoblade disse atrás dele. "Vá em frente, então."
Wilbur virou para seu tutor e, antes que Technoblade pudesse protestar, o pegou por o pulso e o arrastou até onde a Mãe e o Pai estavam aguardando.
O sorriso do Pai era gentil e confortante, e Wilbur quase pôde perdoar a tristeza que permanecia em seus olhos, como um fantasma flutuando nas bordas de uma celebração.
"Você deve ser Technoblade," Mãe disse felizmente, carregando Tommy em seus braços enquanto ela se dirigia ao tutor. "Eu me desculpo que tenha demorado tanto para nos familiarizarmos, apesar de Phil estar me contando tudo que tem feito para nosso Wilby."
Wilbur esperava as patadas frias de Technoblade, e estava um tanto surpreso quando ele curvou sua cabeça no que poderia passar como deferência a um olho destreinado.
"É um prazer conhecê-la, Sua Majestade. Seus filhos me contaram muito sobre você."
Mãe deu a Technoblade um sorriso conspiratório enquanto perguntava, "E eu confio que tudo que lhe disseram era ao meu favor, sim? Nada sobre o quão minha língua pode ser afiada quando estou mal-humorada?"
"Oh, eu lhe asseguro, eles lhe pintaram como nada menos do que perfeita." Technoblade olhou para o Pai. "Entretanto Philza poderia ter dito uma coisa ou duas sobre seus rígidos critérios para chá."
Pai riu. Ele pressionou para mais perto da Mãe e Tommy, mantendo um braço em volta da cintura da Mãe. Como se fosse para estabilizá-la. Como se fosse para segurá-la, só mais um pouco. "Eu lhe disse aquilo em segredo, Techno."
"Technoblade," Mãe repetiu. "É um nome um pouco estranho."
"Eu disse a mesma coisa!" Tommy brilhantemente adicionou, sempre ansioso para fazer parte da conversa dos adultos.
Technoblade somente encolheu os ombros, mais uma vez demonstrando um nível de civilidade que Wilbur nunca esperaria do mesmo homem que regularmente combatia as ordens do rei. "Eu me sentiria muito como um traidor se eu o abandonasse agora, após todos esses anos com ele. É minha constante companhia, mais leal do que a maioria."
"Lealdade é um presente um tanto precioso." Mãe suavemente suspirou. Ela transferiu Tommy para um braço e o alcançou com a outra até segurar a bochecha de Technoblade. "Eu espero, meu garoto," ela continuou, sua voz mais tranquila que um lago parado, "que você irá achar pessoas que poderá confiar mais do que seu próprio nome. Você merece isso, e mais, por tudo que fez por a minha família."
Technoblade piscou lentamente para ela, por uma vez sem palavras.
Tommy riu. "Techno está corando."
"Eu não estou," Technoblade ardentemente cuspiu as palavras.
"Sim, você está," Tommy arrulhou, se encostando nos braços da Mãe, seguro na crença de que ela nunca o deixaria cair. "Você tá tão—"
"Tommy, não torture a pobre criança," Mãe disse, mesmo enquanto ela mesma ria.
"Wil?" Pai o alcançou e bagunçou seu cabelo. "Você parece estar a cem milhas de distância."
Wilbur expirou lentamente. "Só estou... lembrando."
"Lembrando do que?"
Disso. O sorriso suave da Mãe. A risada alegre de Tommy. Os protestos indiferentes de Technoblade. A mão do Pai em sua cabeça. Tudo.
"Nada," Wilbur disse. "Esqueça que eu disse algo." Ele sorriu para seu pai, por uma vez sem limitações. Ele nunca se sentiu tão leve. Ele era quase um filho novamente. "Você quer assistir eu e o Techno duelar?"
A expressão do Pai suavizou. "É claro. Eu ficaria encantado."
Era o último dia bom.
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A batida na porta veio à meia-noite. Ela o arrastou Wilbur do conforto de um sono sem sonhos.
"Wilbur!" A voz de Technoblade. Urgente. Quase irritada. "Wilbur! Abra a porta!"
Wilbur jogou suas cobertas e correu até a porta. Technoblade estava parado fora de seu quarto, seus olhos vermelhos em chamas no escuro.
Ele disse as três palavras que irão assombrar Wilbur até o dia que morrer.
"É sua mãe."
Eles correram pelo castelo, Wilbur, pela primeira vez, ultrapassando seu tutor. Eles chegaram no longo corredor que guiava para o quarto de seus pais, já sufocado com servos.
"Movam-se" Technoblade demandou, sua voz crescendo sobre o barulho. "Movam-se, ou eu farei vocês."
Os servos correram para os lados, limpando o caminho para Wilbur e Technoblade. Wilbur não pôde registrar nenhum de seus rostos, ou suas vozes.
Tudo que tinha era silêncio, até o pior som que Wilbur já ouviu. Um angustiado choro que tornou o sangue de Wilbur frio. Tommy. Tommy está aqui.
Ele entrou no quarto e achou seu irmão enrolado em uma bola no pé da cama. A cama onde sua mãe deitava. Dormindo. Não. Não dormindo
Não dormindo. Não dormindo. Não dormindo—
Wilbur não conseguia respirar. Tommy ainda chorava, chorava por sua mãe. Por seu pai.
Pai. Os olhos de Wilbur escanearam o quarto, mas não tinha nenhum rastro do rei. Nenhum rastro do homem que acabou de perder sua esposa.
"Tommy." Technoblade passou por Wilbur e entrou no quarto. Wilbur pôde vê-lo, pôde ver tudo, mas parecia que estava assistindo a vida de outro alguém acontecer de léguas submarinas. Tudo acontecia tão devagar, tão distante. Technoblade ajoelhando ao lado de seu irmão, o tirando do chão frio. Tommy enrolando seus braços em volta do pescoço de Technoblade, enterrando sua cabeça no ombro dele e gritando.
Gritando. Tão alto. Tão alto. Alto demais.
Technoblade, virando para Wilbur, o entregando algo, pressionando isso nos dedos frios de Wilbur.
Wilbur olhou para suas mãos. Era uma carta. Amassada. Manchada com lágrimas—com suas próprias lágrimas, ele percebeu tardiamente.
Techno, dizia. Diga aos garotos que sinto muito. E diga a Wilbur que ele será um rei melhor do que eu já fui.
O mundo caiu embaixo dos pés de Wilbur, o deixando suspenso no ar. Em queda livre, sem nenhum fim verdadeiro.
"Não," ele pensou, ou talvez disse, ou talvez gritou, "não, não, não, não era para ser assim—"
Oh, disseram as vozes, mas isso já aconteceu antes.
Wilbur piscou. E piscou novamente.
"Pai... se foi?" ele disse, não tirando seus olhos da carta. "Ele foi embora?"
"Wilbur." A voz de Technoblade, crescendo acima dos soluços agonizantes de Tommy. Era preocupação na voz do outro garoto? "Eu achei a carta embaixo da minha porta, e quando cheguei aqui, era tarde demais. Sua mãe, ela..."
"Também se foi?" A carta começou a violentamente tremer. Ou, não a carta—As mãos de Wilbur. "Mas ela estava... ela estava aqui. Essa manhã, ela nos assistiu duelar. Ela estava sorrindo. Ela estava... ela estava viva. Technoblade— Techno—"
Isso era inevitável.
Wilbur tapou seus ouvidos com suas mãos. "Cala a boca!"
Era para ser.
"Vai embora!" Wilbur caiu de joelhos, pressionando suas mãos mais e mais apertadas para bloquear o som. "Eu achei que tinha me livrado de você. Você me disse que iria me deixar em paz!"
Uma dor repentina tomou conta do braço de Wilbur, e ele abriu seus olhos para achar Technoblade se ajoelhando em sua frente, sua mão um punho de aço em volta do pulso de Wilbur. Tommy tinha ido embora—quando isso aconteceu?—e o silêncio que ele deixou para trás era tão ruim quanto a gritaria.
"Volta para mim. Wilbur," Technoblade ordenou. "Quem você ouve?"
"Você," Wilbur disse hesitante.
Ele não era feito para este ato. Não para este palco.
"E as vozes."
Technoblade acenou com a cabeça, diminuindo seu aperto no pulso de Wilbur. "Eu posso lhe ajudar."
Ninguém pode.
Wilbur apertou seus olhos, mas tudo que ele pôde ver era a forma parada de sua mãe. A carta de seu pai.
"Wilbur, olha pra mim."
Wilbur balançou sua cabeça. "Eu não consigo."
"Então me escuta. Eu posso lhe ajudar," Technoblade firmemente repetiu, "porque eu tenho vozes, também."
Os pulmões de Wilbur começaram a doer com a rapidez de sua respiração. "Você tem?" Ele soava como uma criança, procurando o conforto de uma figura distante. Mas tinha muita dor para ter espaço para vergonha.
"Eu tenho," Technoblade disse. "Então respira comigo, até elas irem embora, e nós podemos descobrir o próximo passo juntos."
Foi tudo que eles fizeram. Eles respirara. Para dentro, e para fora, e para dentro novamente. A mão de Technoblade em seu pulso e o aroma doentiamente doce de flores apodrecendo o mantendo preso ao chão. Ao universo.
Para dentro, e para fora, e para dentro novamente.
E entre uma respiração e outra, Wilbur finalmente recordou de onde ele ouviu o nome Technoblade antes.
"Pai—ele..." Wilbur engoliu um soluço. "Ele me contou uma história uma vez, quando eu era mais novo. Na primeira vez que as vozes... falaram comigo. Ele me contou uma história sobre um deus imortal, que foi condenado a ouvir vozes na sua cabeça para sempre. Um deus do sangue. Technoblade. Você é um deus?"
"Não se preocupe com isso agora." Sua voz estava distante, mas gentil. "Isso não importa.""Mas eu não me lembro como a história acaba." Exaustão era um cobertor pesado, o pesando até ele estar encostando no ombro de Technoblade. Sua garganta parecia esfolada, como se ele tivesse comido vidro quebrado.
Essa história não tem fim, as vozes disseram, mas elas pareciam distantes, também."Me diga como a história acaba," Wilbur implorou, mesmo quando sentiu o que restava de sua consciência se fragmentar lentamente até ser nada. "Me diga que você ainda estará aqui quando eu fechar o livro."
"Wilbur, eu—" Technoblade murmurou algo muito baixo para ouvir, e então disse, "Ok. Eu estarei aqui."
Wilbur queria dizer mais, ou talvez não.
Lá fora, em algum lugar distante, sinos começaram a tocar, badalando a balada da morte de sua mãe. Anunciando sua ascensão.
Diga aos garotos que sinto muito. A voz do seu pai desta vez, tão quieta quanto o resto.
Entre uma respiração e outra, Wilbur era rei. Entre uma respiração e outra, ele adormeceu.
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Passerine | Sleepy Boys Inc
FanfictionTodos os créditos vão a blujamas/thcscus no ao3, estou apenas traduzindo a história dela! (fanart na capa feita por moneyoniis no twitter) _________________________________________________________________ "Eu entendo. Você ouviu que o lugar que você...