𝐑𝐄𝐏𝐄𝐍𝐓𝐄𝐀𝐍𝐂𝐄, 𝐤𝐭𝐡.

03. Ódio e Desespero

Acho que as palavras de minha mãe nunca fizeram tanto sentido. Quando somos crianças, acreditamos que tudo é para sempre, inclusive nossos pais. Familiares, amizades, relacionamentos. Temos sempre a certeza que vamos ter isso pela eternidade. Mas, o que não sabemos é que a realidade é ainda mais complicada do que quando somos pequenos gafanhotos. É muito fácil ludibriar uma criança e para não contar a verdade, precisamos omitir.

Hoje, percebo que nada dura mesmo para sempre. Meu casamento de seis anos começou quente e, aos poucos, esfriou como uma mísera xícara de café. Claro, não posso cuspir no prato que comi e dizer que não vivemos bons momentos. Meu casamento com Taehyung foi o melhor casamento que alguém pode desejar.

Vivemos bons momentos, passamos por maus momentos também. Colecionamos experiências, sensações. As melhores sensações quando se está casado. É algo muito novo, muito diferente e te faz ficar ainda mais apaixonado. Claro, nem tudo são flores. Mas, isso é apenas a pequena consequência de se envolver com uma pessoa diferente de você. Mesmo com o tempo de namoro que tínhamos, brigas no casamento eram normais. Não dá pra ser tudo sempre muito calmo e tranquilo. E se você não experimentou isso, um dia vai experimentar.

Eu aproveitei muito com Taehyung. Tivemos um bebê. Nosso pequeno e amado, Haejoon. Que veio para iluminar ainda mais nossos dias. Porém, eu não fui inocente e nem mesmo Taehyung foi inocente demais para ignorar que nosso relacionamento estava esfriando. E tornou-se ainda pior, quando sua carreira decolou.

Depois disso, foi apenas ladeira abaixo. E como dois adultos, resolvemos que seria melhor pedir o divorcio. Não adiantava forçar algo goela a baixo, que nós dois sabíamos que não funcionaria.

Não tivemos problemas com Haejoon e sempre soubemos separar os dias corretos para que cada um de nós pudesse ficar com nosso bebê. Foi algo que foi pré-estabelecido desde o início, e sempre estivermos dispostos a sacrificar qualquer pequena coisinha que fosse, pelo nosso bebê. Contudo, desde a chegada de Nara, parece que as coisas entre ela e Taehyung têm ficado ainda mais intensas e o tempo que ele deveria ter com Haejoon, tornou-se nulo. Foi como se tudo que pré-estabelecemos antes, fosse deletado de sua mente.

Eu não me importaria se ele gastasse esse tempo no trabalho. Bom, eu me importaria sim, vendo por outro lado. Mas, a questão é que a rotina que havíamos estabelecido tem ficado completamente deturpada devido aos retoques de Nara. Não que ele esteja completamente ausente na vida de Haejoon. Eu compreendo que ele tem seu trabalho, assim como eu tenho o meu. E que é tão ocupado quanto eu fui um dia. Porém, não é algo completamente estranho a mudança repentina de horários? Sem contar que eu sequer fui avisada. Meu nome sequer foi cogitado e é como se não dessem importância no fato de que eu preciso ser avisada.

Nara é assistente pessoal de Taehyung. E desde o momento que ela entrou na vida dele, as coisas que estavam completamente organizadas entre nós dois, tornou-se um caos. Choi Nara não é do tipo de mulher que gosta de conversas e pior, seu ar de superioridade mostra muito bem quem ela é. Não preciso acrescentar que além de seu ar superior, — que já existia — depois que começou a foder com Kim Taehyung — o grande, sinta a ironia — seu ego foi lá em cima.

Sinto-me uma tola, todas as vezes que preciso avisar ao meu ex-marido, que Nara não é confiável e que preciso que ele deixe ela afastada de Haejoon. Mas, é sempre a mesma coisa de sempre. Homens são sempre idiotas quando se encantam por um rabo de saia. Não me surpreendem. Porque assim como são idiotas para se apaixonarem rápido, são os mais fáceis para caírem. Principalmente caras como Taehyung.

Eu compreendo isso, porque quando ele me conheceu, fora exatamente assim. Seus olhos recaiam somente em mim e ele cuspia no chão onde eu pisava. Ficando deslumbrado demais.

Cheguei a me questionar sobre meus sentimentos. No quesito de estar com ciúmes ou incomodada com o novo affair de meu ex-marido. Mas, não há motivos para ter ciúmes. Nos separamos por causa do casamento que esfriou e tecnicamente, os sentimentos se seguiram pelo mesmo caminho. Não me sinto enciumada, pelo contrário, me sinto preocupada.

Não apenas com meu pequeno Haejoon, mas com ele.

— Ele é cabeça dura, mas vai atender seu pedido, Areum. — Jungkook sorri. Sempre tão doce e prestativo. Com um sorriso maior que o mundo.

Jungkook, por incrível que pareça, é o melhor amigo de Taehyung. Assim como Jimin. Mas, devido a desavenças — que ele recusa contar — afastou-se de Taehyung.

— Você sabe que ele tá encantado por ela, duvido muito.

— Eu sei, você sabe. Mas, a gente espera que ele tenha juízo. Acredito que além de estar encantado por ela, não vai ignorar o pedido da mãe do filho dele. Por mais que vocês não estejam mais casados, ele ainda escuta seus pedidos. — Jungkook diz.

Tenho vontade de rir de sua indagação, mas não o faço. Em partes, é um pouco verdade. Mas, em outras, não consigo acreditar tanto assim. Principalmente com tantas provas de que ele simplesmente faz tudo errado. Taehyung não é do tipo que segue conselhos.

— Ele não segue conselhos, Jun. Ele acredita que sempre está certo em tudo e que o sexto sentido dele nunca falha. — Reviro os olhos e ouço Jungkook rir.

— De fato. Mas, não permita que isso atrapalhe sua vida, ok? — Ele beija minha testa e se levanta. — Vim aqui apenas para saber como você estava. Mas, já preciso voltar para a empresa, tenho coisas para resolver.

— Ok. Mande um beijo para Jimin e Yoongi, ok? — Ele acena positivamente e se aproxima, deixando mais um beijo em minha testa.

Sua expressão parece cansada, e levemente triste. Mas, compreendo perfeitamente que Jungkook não é o tipo de cara que fala sobre os próprios sentimentos. Principalmente quando este está ligado aos seus dois melhores amigos. Jimin e Yoongi.

Ele se curva em educação e eu faço o mesmo.

— Tenha cuidado. E por favor, tenha uma noite de sono boa.

— Até você, saeng. — Ouço seus risos breves, conforme ele se aproxima da porta principal. — Vou descansar! Beije as bochechas gordinhas de Haejoon por mim, por favor!

A porta se abre. Antes que ele saia, eu lhe confirmo e assim, ele se vai. Um sorriso calmo escapa pelos meus lábios e eu volto a me sentar. Eu sei que há algo estranho acontecendo com Jungkook, principalmente pelo motivo dele sequer mencionar o que o levou a se afastar de Taehyung.

Sabe quando o mundo todo parece saber das fofocas, menos você?

Me sinto assim, em relação aos quatro. Jimin, Yoongi, Taehyung e Jungkook.

Jimin, Yoongi e Jungkook estavam em um relacionamento. Contudo, estranhamente, depois da chegada de Nara, as coisas ficaram ainda mais estranhas. No fim das contas, não sou apenas eu que sinto que há algo errado com a assistente de Taehyung.

Todas as facas apontam para essa mulher e eu farei o possível para manter meu filho longe dela.

Depois de alguns suspiros, me levanto e encaro o relógio de parede. Percebo que além de ter conversado bastante com Jungkook, Taehyung está atrasado para trazer Haejoon novamente. E ele jamais se atrasa e quando o faz, procura sempre me avisar.

E como se lesse os meus pensamentos, meu celular toca várias vezes, por causa das mensagens. Não hesito em pegá-lo da mesinha e quando meus olhos encaram o conteúdo da mensagem, o ódio e o desespero me consomem.