𝐑𝐄𝐏𝐄𝐍𝐓𝐄𝐀𝐍𝐂𝐄, 𝐤𝐭𝐡.

06. Todas as intenções

JUNGKOOK | POV — 20:40PM

— Fala comigo, Jungkook. — Jimin me chama.

Mas, opto por passar em sua frente. Não acho que eu esteja bem o suficiente mentalmente, para lhe dirigir as palavras. Principalmente depois de todos os absurdos que ouvi de sua boca, quando a mentira foi posta em suas mãos.

Yoongi estava ao seu encalço. Mas, diferente de Jimin, Yoon estava com a expressão séria. E acredito que depois do que ele disse, esteja disposto a me deixar em paz.

— FALA COMIGO, PORRA! — Jimin grita e isso me faz estagnar na escada.

Eu aperto o corrimão da mesma e deixo que o ar entre pela minha boca com calma. Minha respiração se torna descompassada, conforme meus batimentos cardíacos aceleram. Eu não quero.

Eu não quero falar consigo. Não quero olhar em seus olhos e muito menos desejo que se explique. Afinal, as coisas que eu ouvi, mostram bem a confiança que ele tem em mim. Mesmo depois de eu praticamente implorar e mostrar que eu mudei.

— Fale baixo. — Me viro na escada e cruzo meus braços. Minha voz soa dura o suficiente, assustando até mesmo a mim. Os olhos de Jimin se arregalam devido ao meu tom de voz. — Não grite comigo, não exija nada de mim, porque você perdeu esse direito depois de me dizer todas aquelas atrocidades.

— Tente entender a gente. As fotos eram convincentes demais, Jungkook. O que você queria que a gente pensasse? — Sua voz é desesperada, ao ponto de se tornar rouca. — Como você queria que a gente agisse? Hein?

— Um voto de confiança era o mínimo. — Tento manter a minha pose altiva. Mas, a tristeza que eu sinto é grande ao ponto de me desmontar inteiro. — Você pede tanto uma compreensão, mas, se colocou em meu lugar? Porra, Jimin! Eu te mostrei, eu provei para vocês dois, que eu não era mais o cara de antes. Não sou mau caráter a esse ponto!

— Tente se colocar em nosso lugar também! — Yoongi toma a vez e respira fundo. — Tente compreender nós dois, Jungkook.

— Não dá, hyung. Infelizmente não dá, porque eu nunca esperei isso de vocês. — Sinto como se tivessem jogado pimentas em meus olhos, porque eles ardem como o inferno e meus ombros se encolhem, por puro instinto de proteção. — Hoje é o último dia que eu fico aqui. Já encontrei um local para ficar.

— Espera, Jungkook, por favor...— Jimin ameaça subir as escadas, mas Yoongi segura-o.

— Deixe-o ir. — Ele pede. A voz soa baixa e aparentemente magoada. Na verdade, é mágoa que existe nela.

— Vão ficar melhores sem mim. — É a única coisa que eu digo, antes de subir as escadas e ir em direção ao quarto que eu dividia com os dois.

A primeira coisa que vejo quando entro, é a cama grande e espaçosa. Junto a todo esse complô, há nossos porta-retratos e a história contida através das imagens. Eu entendo que meu passado me condena, mas, eu não merecia ouvir todas aquelas coisas.

Eu não merecia ter passado por aquilo, não merecia. E tudo por culpa de uma pessoa, que é tão suja quanto o meu próprio passado. Ficar com várias pessoas, sempre me fez o garanhão e o quebrador de corações. Mas, depois que conheci Jimin e Yoongi, as coisas mudaram.

As pessoas mudam. E eu dei provas suficientes, durante um bom tempo de minha mudança. E mesmo com todo meu histórico triste, eu não seria capaz de tal ato. Mesmo sendo o fodido que sempre fui, traidor é um pouco demais.

Puxo da minha parte no closet, apenas meu casaco e peças separadas de roupa. Não pretendo ficar em casa, e prefiro já ir me acostumando a ficar longe deles. Se eles não conseguem confiar em mim, não há espaço para mim aqui. No fim das contas, minha intuição sempre me disse que nunca houve.

Com o casaco e uma bolsa simples em mãos, saio do quarto. Enfio as chaves da casa de Areum em meu bolso e desço as escadas. Antes de ir até um hotel, me lembro de que preciso pegar peças de roupas extras em sua casa.

Suspiros cansados escapam por minha boca, mas, eu não permito que isso me afete. E assim que eu desço as escadas por completo, tenho a visão de Jimin, sentado no sofá e de costas para as escadas. Yoongi não está consigo e pelos barulhos vindos da cozinha, ele está por lá.

Minha bota não é muito discreta e os barulhos do salto dela, chamam atenção de Jimin que olha para trás. E o fato de me ver com uma bolsa em mãos, lhe deixa desesperado. Seus olhos me passam o desespero, aflição, arrependimento e o medo que sente.

— Por favor, Jungkook, não vai. — Seus lábios tremem, pelo pedido choroso. — Eu sinto muito, eu não quis ter dito o que disse. Jun, por favor.

— É um pouco tarde para pedir desculpas, hyung. — Coloco minha bolsa nos ombros e os meus passos são ágeis para a porta principal.

— Faz qualquer coisa! Briga comigo, me xinga, grita, qualquer coisa, mas, não deixa a gente assim. Jungkook, por favor! — Pelos soluços, Jimin já chora.

Suas palavras mostram o quão desesperado está. Eu poderia fazer tudo que ele deseja que eu faça. Gritar, bater, xingar, brigar. Mas, as minhas forças já foram todas esgotadas e o que reside em mim é apenas decepção. Eu já decepcionei muitas pessoas, quebrei o coração de várias e vários.

Talvez, isso seja o karma. O feitiço voltando contra o feiticeiro. O peso de sentir o que se faz para os outros. Pessoas que você jamais espera que te magoem, acabam te magoando. Aqui fazemos, e aqui pagamos.

Sinto o gosto salgado das lágrimas, quando elas escorrem para meus lábios. Eu não consigo gritar, não consigo. Eu queria ter forças para dar o troco, para dar a ele lições de moral. Mas, eu não tenho essa capacidade.

— Eu só quero ir, Jimin. M-me deixe ir. — Peço.

Me prendi tanto a si, ao sentimento bom que não só ele me causou, mas, como Yoongi hyung me causou. Que me esqueci que eles também são pessoas e que cometem erros. Logo, mesmo tendo ciência desse sentimento bom que eles me causam. Eles também me causaram mágoa.

E essa mágoa dói.

— Jungkook, por favor...— Jimin pede e sua voz está próxima. Logo, noto suas mãos médias e cheias de anéis rodearem a minha cintura.

Jimin me abraça forte e não parece disposto a me soltar.

— Não deixa a gente. Não faz isso. Podemos tentar de novo, Jun. A gente pode, por favor. — Ele torna a pedir.

Levo minha mão até a maçaneta e destravo a porta. Mesmo com meu coração me pedindo para ficar, eu sei que preciso ir.

— Me deixa ir, hyung. — Com a mão vaga, seguro em suas mãos e afasto-as de mim. — Eu tô magoado. Preciso pensar, eu só quero ir.

Meu pedido é baixo, assim como as fungadas que dou. Jimin recua, mas, seus soluços mostram que ele está chorando. Não demoro muito até abrir a porta por completo e sair de dentro dela.

Sem olhar para trás, eu sigo até meu carro. E é depois disso, que eu sinto ainda mais raiva da pessoa que fez isso e eu sei que Jimin sente, assim como Yoongi. Depois que a verdade veio à tona e que eu provei que não fiz nada, tudo ficou claro.

Todas as intenções. Contudo, por mais que eu queira abrir minha boca e contar a verdade ao mundo, eu sei que isso me causará problemas.