𝐑𝐄𝐏𝐄𝐍𝐓𝐄𝐀𝐍𝐂𝐄, 𝐤𝐭𝐡.

09. Cinco estágios do luto

PARK AREUM | 04:00PM

Eu me sinto anestesiada. Aquela sensação que te consome dos pés a cabeça e você não sabe como reagir. Ou o que pensar, você só se sente anestesiado. Travado. Assim como seus pensamentos ficam anestesiados e seu coração, por um momento, parece que para de bater. É uma sensação reconfortante. Mesmo que em pontos, seja angustiante. É quase como o famoso colapso mental, que você entra, depois de uma experiência traumática.

Mas, eu por incrível que pareça, sinto como se tivesse passando pelos cinco estágios do luto. Tive que me centralizar em alguma coisa, para não surtar. E devido a isso, acabei percebendo que passei por isso, em um período curto de tempo.

Negação e isolamento, é um dos primeiros estágios. Neguei a todo custo que Taehyung fez o que fez comigo, por tanto tempo. Me recusei a acreditar que o cara que eu amei, foi capaz de fazer tal atrocidade comigo. E isso fez eu me isolar. Mesmo com todos os pedidos dele para me explicar, para fazer qualquer coisa. Mesmo ele chorando em minha frente, eu senti unicamente vontade de ficar sozinha. De não vê-lo mais, de não ver ninguém. Absolutamente, ninguém. Nem mesmo aqueles que estavam me apoiando com todas as forças no início. Eu precisava ficar sozinha, pensar e junto a isso, negar.

Acredito que essas sejam as piores partes. Já que aos poucos, sua ficha vai caindo e você percebe que não é bem aquilo e você tenta negar, sua cabeça cria motivos para negar aquela verdade exposta na tua cara.É a famosa autodefesa. E quando você já não tem mais motivos, você se isola muito mais.

E quando você percebe que não será mais capaz de negar para si mesmo, surge a raiva. É o segundo estágio e um dos piores. Já que o tipo de sensação que você sente é ainda mais complicada e a que eu custei a me controlar. Acredito que foi por isso que eu quebrei o quarto inteiro e rasguei boa parte das fotos que me foram dadas. Esmurrei as paredes, gritei nos travesseiros. Tudo para que eu não cedesse a vontade de quebrar a cara dele. A raiva é intensa e te faz perceber ainda mais que você não é capaz de mudar o que aconteceu. Te puxa pelos ombros e te castiga com a verdade que lá em cima, você tentou ocultar quando seu cérebro te colocou mecanismos de defesa.

E o pior dos piores, é a barganha. Que te faz implorar como um cão. E você implora, de fato, você implora para que aquela pessoa diga que não fez isso. Claro, no quesito luto, funciona de uma maneira totalmente diferente. Porque você acredita que uma cura divina poderá surgir, você se firma nisso e acredita fielmente que sairá dessa. Que ainda há chances. Mas, quando relaciono isso ao meu descobrimento, é totalmente diferente. Porque eu sei que ele me traiu. E eu sei que há um par de chifres bem lustrados em minha cabeça, que não vão sumir por um bom tempo. Não há barganha nenhuma que mude isso.

Por seguinte, é a depressão. É quando todos os momentos, todas as experiências e todas as lembranças passam pela minha cabeça e me resta a tristeza, a mágoa e o desejo de sumir. É o que te coloca no fundo do poço. Você já não tem mais lágrimas para chorar e fica remoendo tudo que viveu ao longo de sua vida. E fazer isso, dói muito mais do que sentir raiva.

No fim, vem a aceitação. Apesar de ser difícil, você precisa compreender o que aconteceu. Precisa aceitar que a traição ocorreu e que nada vai mudar esse fato. Ainda preciso me acostumar com essa última parte, para que a sanidade me volte à mente.

Depois de colocar as últimas coisas de dentro daquele quarto organizadas, voltei a me sentar na poltrona e encarar os meus dedos. O que eu poderia fazer? Não deveria me importar, não é mesmo? É de fato assustador que passei por tantas emoções, em um período curto de tempo. Mas, o que eu não sou capaz de entender, é por que eu me importo.

Eu não deveria me importar, já que não estamos mais juntos e nosso casamento já acabou. Não deveria doer tanto, quanto dói agora. Deveria doer se ainda fossemos casados, e se eu descobrisse naquele momento. Doeria até menos, mas seria curável. Apesar de entender o porque dói, ainda procuro motivos para me auto sabotar e sabotar o que sinto.