12. Tempo é o suficiente

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TIMESKIP | 21:30PM

Com alguns band-aids em mãos, panos e água morna; faço os curativos em Taehyung. Não foram grandes machucados, mas, foram o suficiente para deixá-lo com o supercílio cortado, o lábio inchado e o olho direito particularmente vermelho. Vermelho, que com toda certeza irá evoluir para um roxo.

Contudo, a todo minuto, Taehyung ficou em silêncio. Mas, seus olhos diziam muito mais do que sua boca estava sendo capaz de demonstrar para mim. Parecia aquele tipo de paralisia da morte. Mas, no caso dele, estava paralisado somente com a sua mente. Como se os acontecimentos passados, estivessem sendo bem processados pelo seu cérebro.

E de fato, eu não o julgo. Quem sou eu, não é mesmo?

Apesar de seu corpo estar reagindo, ele sequer falou algo ou mostrou interesse em esboçar em palavras como se sentia. Em partes, eu compreendia e esperaria seu momento. Naquele instante, eu só precisava aguardar e nada mais do que isso. Nem mesmo o arder de seus ferimentos estavam sendo capazes de despertá-lo. Conforme a água morna molhava as áreas afetadas, eu só conseguia ver seus olhos fechando-se. Estava sendo como um apreciar da dor. Não só a dor física, mas, como a dor interna.

Quando passamos por um momento doloroso ou chocante, ficamos assim. Mesmo com toda adrenalina presente em nosso corpo, é impossível esboçar algum tipo de reação e sequer sentir a dor física. Eu conheço cada pequeno passo, e é como se eu estivesse experimentando uma versão de mim diferenciada e ainda mais babaca do que um dia eu fui. Se a situação por si só não fosse complicada, eu riria. Mas, observando Taehyung mais de perto, não consegui rir. Por mais que eu viesse a sentir um pouco de raiva, por tudo que fez, não me cabe sentir ódio. Eu não consigo sentir ódio e muito menos pena. A única coisa que eu sei que ele precisa, nesse momento, é de apoio.

Ou, aquele surto dos risos e do choro, pode voltar e voltar ainda mais forte.

Com toda complacência do mundo, aos poucos, sequei seus dedos e sua mão. Os machucados não eram tão feios e grosseiros na área de suas mãos, então, um band-aids bastava. Fiz isso em todas as áreas de suas mãos e seu rosto. A ardência dos machucados com certeza não estava parecendo incomodar, já que nem mesmo uma careta foi esboçada. O que me deu a certeza de que ele estava se martirizando por dentro.

- Me odeia também, Jungkook? - Depois de muitos minutos quieto, ele finalmente disse algo.

Com calma, me direcionei ao banheiro para jogar água fora, e todos os curativos usados e sujos. Espero um pouco - me aproveitando desse ir ao banheiro - para pensar em minhas próprias palavras. Por estar ainda bastante chocado com o que vi e que jamais esperei que fosse acontecer. Depois de jogar a água fora e os papéis dos curativos no lixo, voltei para o quarto e sem pressa, me sentei ao lado de Taehyung, deixando que um suspiro cansado escape. Eu estava me sentindo cansado de fato mesmo, ou eu apenas estava me sentindo exausto de toda aquela situação? Provavelmente os dois.

- Se eu te odiasse, teria quebrado a sua cara no dia do hospital. Depois de toda aquela cena estúpida que você fez. Então, agora, ainda acha que eu te odeio? - Cruzo meus braços e olho para um ponto fixo a minha frente, assim como ele passa a fazer. - Você ainda tem a mim e a Yoongi, hyung. Todo o resto você perdeu e eu não vou ser bonzinho e dizer que não é sua culpa, porque é sim. E você tem consciência disso, eu espero.

- Pode dizer que me avisou, eu não ligo. Afinal, não deixa de ser uma verdade, né? - Sua voz soa rouca e baixa. E eu assinto para suas palavras. Taehyung ri baixinho, e eu posso ver de relance, suas bochechas coradas e seus olhos cheios de lágrimas.

- A gente te avisou e você dançou. - Dou de ombros. - Eu já estive na sua situação, hyung. E você como ninguém sabe disso. Acho até que fui pior. Eu não digo que compreendo tudo que sente, porque não é bem assim. Mas, eu sei que dói. Não há muito o que eu possa fazer, porque agora eu acredito que você compreendeu tudo que estávamos tentando te avisar, desde o início.

𝐑𝐄𝐏𝐄𝐍𝐓𝐄𝐀𝐍𝐂𝐄, 𝐤𝐭𝐡.Onde histórias criam vida. Descubra agora