Desperto sobre o sofá da sala ao som de vozes cacofanicas. O que diferencia este segundo despertar do primeiro, é uma dor de cabeça latente que se assoma ao quadro bizarro que se encontra minha cabeça. Percebo um toque sobre meu antebraço. Forço meus olhos a se abrirem e a luz adentra a minha retina intensificando o latejar em minha cabeça. Vejo que minha irmã está ao meu lado aos prantos, e que meu irmão tenta falar comigo algo sobre a polícia. As palavras parecem-me desconexas, dou de ombros e reteso o maxilar ao relembrar o que vi na cozinha. Uma lágrima escorre por minha bochecha, mas não me permito chorar mais. Sou o irmão mais velho e preciso resolver as questões burocráticas, afinal, nosso pai nos abandonou ainda crianças e estou acostumado.
Sempre me orgulhei da minha capacidade de agir friamente até nas horas mais complicadas, não foi atoa que optei por cursar enfermagem na faculdade; e foi dessa premissa que me vali para conversar com a polícia, que já se encontrava no interior do nosso apartamento tirando fotos e recolhendo evidências. Identifico o que parece ser o chefe e me dirijo a ele:
-Senhor...
-Gabriel- Disse o delegado. Um homem alto e forte de uns 46 anos. Barba por fazer e uma cicatriz no super cílio esquerdo.
-Bom, senhor Gabriel, me chamo Lucas. Fui em quem a encontrou primeiro, logo depois dela... dela....
-Tudo bem Lucas, tudo bem. Tudo ficará bem. Agora preciso que me conte tudo o que aconteceu noite passada ou qualquer outra informação que julgue necessária.
Por fim, eu e meus irmãos passamos toda manhã sendo interrogados pelos policiais. Mesmo em caráter "não-oficial", as perguntas que eles faziam eram difíceis de se responder devido a emoção que tais lembranças nos traziam. Entrementes, sobrevivemos e eles foram embora levando o corpo de nossa mãe para o IML.
Desabo sobre a poltrona e choro. Meus irmãos -Thiago e Diana- aconchegam-se para compartilhar minha dor. Dou-me ao luxo de chorar, pois prometo a mim mesmo que será a última vez.
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A INSUPORTÁVEL CERTEZA DO SER
Gizem / GerilimCuriosamente vivemos, dia após dia, a insuportável certeza do ser. E nesse dia em particular -19 de fevereio de 2015-, Lucas estava mais do que certo de que era alguém. Era seu aniversario de 19 anos, um dia como outro qualquer, exceto por um delici...