DEPOIS DO EPISÓDIO com Quatro, a um dia atrás, as coisas começaram a mudar. Eu podia sentir o olhar do Eric me fuzilar sempre que estava por perto, não era de um jeito ruim e, eu quase tinha certeza de que ele sabia do meu beijo com Quatro. O moreno já tinha me dito que nenhum dos dois se importava em dividir, que eles sentiam prazer nisso, mas eu ainda custava a acreditar já que não tinha conversado com Eric sobre isso. Isso era confuso pra mim porque, deveria ser estranho alguém sentir prazer em dividir uma pessoa com o inimigo, não?Suspirei, levantando da minha cama lentamente. Todos ainda estavam dormindo, então corri até o banheiro que, graças a Deus, nesse momento seria só meu. Curti a água gelada enquanto cuidava do meu corpo, passei creme hidratante roubado de Anary, e deixei o creme de cabelo por três minutos antes de retirar tudo com a ducha.
Me enrolei na toalha antes de colocar uma calça preta e uma blusa da mesma cor, andei até minha cama e peguei a bota de couro. Andei rapidamente até a porta, ignorando algumas pessoas que começavam a acordar agora.
O corredor também estava silencioso, agradeci por isso, imaginando que assim teria mais tempo sozinha. A verdade é que a audácia era barulhenta demais e, qualquer indício de que o silêncio se faria presente, eu já ficava contente.
Adentrei a cantina, roubei alguns pedaços de bolo em um bote e corri para outro lugar antes que ali começasse a encher. Andei até o terraço e sentei ali, substituindo o escuro rochoso da audácia por um céu limpo, azul.
O sol estava tão forte que, caso eu ficasse ali mais do que deveria, minha pele viraria torrada. Quase não tinha vento e nem nuvens, algo que me deixou num estado de calmaria.
Respirei fundo, aquele céu azul era como uma gigante bolha nos protegendo dos segredos do espaço e, se eu não tivesse nascido na erudição, era muito provável que eu fosse pra lá. Eu gostava da facção inteligente, de estudar o espaço e o que move as coisas, conhecimento é poder... eu entendo isso mesmo sendo apenas uma audaciosa.
Perdida em meus próprios pensamentos, quase não reparei o tempo passar e, ao levantar novamente os olhos para o céu, eles saltaram da órbita ao ver o sol do meio dia. Corri para a cantina de novo, quase magoada por deixar aquela visão azul para trás.
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Depois do almoço reforçado, todos os iniciados se reuniram em uma sala que, diferente de todo o complexo da audácia, tinha as paredes brancas. Alguns de nós de espalhavam pelas cadeiras dispostas rente as paredes, enquanto outros se mantinham no chão sem se importar com a etiqueta como as outras facções fariam.
Eric chamava um por um para fazer o teste psicológico da segunda fase e, por mais que eu já tivesse passado por aquilo algumas vezes, eu sentia minha respiração falhar como se o ar não fosse o suficiente. Eu pensei ter deixado o passado para trás, mas o mundo parecia fazer questão de me fazer reviver ele novamente, várias e várias vezes.
Quando Luke voltou da sala de simulação sendo carregado por Quatro, todos pareceram prender a respiração. Mais um não havia superado seu medo, ele teria que tentar de novo na próxima.
Em seguida Anary foi chamada, eu a abracei e disse que ficaria tudo bem mesmo ela parecendo calma. Quando minha amiga voltou da simulação, com um menor tempo de muitos ali, vi seu rosto branco. A mulher parecia que a qualquer momento teria um ataque de pânico, então saio correndo na direção do banheiro mais próximo.
Me levantei da cadeira, pronta para ir atrás dela, porém a voz profunda de Eric retumbou no ambiente e eu não fiz nada além de travar.
— Dakota!— Suspirei nervosa, deixando com que Seth fosse no meu lugar ajudá-la.
— Estou indo.— Falei baixinho para eu mesma, caminhando até ele sem muita certeza.
Passei pela porta, sentindo não só Eric me fitar, mas todos os iniciados que se faziam pelas minhas costas também. Ouvi um clique, e tive certeza que o louco tinha fechado a porta atrás da gente.
— Você vai se sair bem.— Falou convicto atrás de mim, eu sorri debochada enquanto deitava na cadeira.
— É claro que sim.
Não, é claro que não.
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Naquele momento, qualquer consciência de que aquilo era uma simulação tinha se evacuado do meu cérebro. Eu só sabia que estava ali, no meio de uma praça com um parquinho macabro.
Uma sensação de Déjà vu se vez presente, como se aquele lugar fosse familiar e eu já estivesse passado por lá em vários outros momentos. Estava a noite, escuro e eu só podia enxergar formas deformadas ao longe, não sabia o que era.
O balanço infantil chiou contra o silêncio ensurdecedor, deixando tudo ainda mais assustador. Meu coração batia forte no meu peito e eu quase fiquei com medo de morrer de arritmia cardíaca.
Soltei o ar com força, podendo ver minha própria respiração quente se chocar com o frio do lugar. Logo passei minha mão uma na outra dizendo para mim mesma que o frio era psicológico, uma mentira completamente sem fundamento algum, mas que me ajudava a me manter calma.
O lugar parecia querer me sufocar invisivelmente com sentimentos conflitantes e horrendos, mas isso não me impediu de ouvir uma voz, tão fraca e longínqua que eu quase pensei ser coisa da minha cabeça.
— Tem alguém aí?— Gritei, forçando minha voz arrastada. Parecia que eu não falava a muito tempo, minha garganta ardia e eu quase poderia sentir o gosto do meu próprio sangue.
— Por que, Dakota?— O sussurro novamente se deu pra ouvir, parecendo mais perto agora.— Dakota?
— Sou eu, mas quem é você?— Falei em voz baixa, ele não pareceu ter problemas em me ouvir.
— Quem somos nós? Quem somos nós?— Falou repetidamente, a voz parecia carregar uma loucura estranha, como se a qualquer momento ela fosse surtar. Então a mesma voz gritou:— QUEM SERÁ QUE SOMOS NÓS?
Seu grito fez com que eu colocasse as mãos nos ouvidos, minha cabeça parecia querer estourar e seja quem for não parava de repetir a mesma coisa. Grunhi com a dor insuportável, senti meu ouvido sangrar.
Em um segundo, tudo rodou e eu estava de frente para uma plantação de milharal. Era uma parte da amizade.
— O que estava acontecendo? — Perguntei em desespero.
— Não é o que está acontecendo, mas o que aconteceu, Dakota.
Eu não sabia o que tinha acontecido, mas as vozes porém, elas pareciam ainda mais furiosas. Não era só uma pessoa gritando agora, eram várias.
— O que aconteceu? O que foi?— Perguntei com dor, senti meus olhos arderem e logo começaram a chorar sangue, meu nariz sangrava e meu ouvido latejava. Com minha boca ensanguentada, eu sussurrei:— Socorro.
— Aconteceu a nossa morte, mas dessa vez, você também virá com a gente.
Meus olhos desfocaram de órbita, tudo estava estava escuro. Senti o baque do meu corpo em contato com o chão, contei até três, e assim do nada, meu coração parou.
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DIVERGENTE- Arma Letal
Фанфик• FANFIC DIVERGENTE • | Eric Coulter e Tobias Eaton| • "Eles não eram mais inimigos, agora eram apenas unidos pela garota que amavam." 🦋 Criada para ser uma arma letal, Dakota não conhecia o que era realmente...