Capítulo XXIII

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Meu coração se apertou depois de um solavanco, o ar fugiu de meus pulmões e meu corpo estremeceu. Puxei o ar com mais força ao abrir os olhos subitamente.

Logo, quase que instantaneamente, dois pares de mão seguraram meus braços trêmulos. Não olhei para nenhum dos dois, pois o choque da simulação do medo estava estagnado em mim em uma grande onda de sentimentos fortes.

Pulei da maca enquanto deixava com que o aperto dos dois ficasse para trás. Eu ainda não havia conversado com Eric sobre os acontecimentos anteriores envolvendo minha mãe e, sendo sincera, nem sabia se queria. Também não conversei com Quatro depois de sair do seu quarto na surdina, talvez porque eu apenas estivesse envergonhada.

Meu primeiro medo apareceu na minha primeira simulação, o segundo consecutivamente na vez seguinte. Depois disso não veio mais nenhum, o que havia alarmado os líderes. Apenas dois medos, os pior medos que alguém poderia ter.

Suspirei, cansada mentalmente, enquanto lançava uma olhadela para o relógio. Foram apenas 10 minutos lá dentro, menor tempo possível e o que agora eu tinha certeza que poderia me alavancar novamente para o primeiro lugar.

— Você foi bem, número um. — Ouvi Eric dizer, sua voz foi como um gatilho para me lembrar de que ele pode estar em um complô com a minha mãe.

Quatro já tinha tentado me tranquilizar, mas eu ainda tinha medo da dor da traição que eu sentiria ao ouvir a verdade da boca de Eric...então eu fiz o que mais sei fazer: adiei o inevitável, me isolei até o ponto de ser inevitável de que tudo explodisse na minha cara.

— Conversamos depois. — Caminhei até a porta e fechei a mesma logo atrás das minhas costas.

De um jeito ou de outro, minha mãe acabava afetando a minha vida.

🦋

Adentrei a sala de treinamento, lugar aberto para qualquer louco que estivesse afim de quebrar os dedos no saco de pancada que mais parecia que carregava madeira dentro ao invés de areia. Não me importei em usar luvas, eu precisava sentir minha pele arder em contato com o couro espesso e áspero do saco de treinamento duro. A verdade é que a dor era semelhante ao que eu sentia antes, quando o rosto de uma vítima se contorcia abaixo dos meus dedos e eu quase sentia que pudia lapidar seu rosto da forma que eu quisesse, era necessário apenas socar e socar até desfigurar...no final ficava tudo vermelho e irreconhecível, como uma arte abstrata.

Não que eu gostasse do que eu fazia, longe disso. Mas sentir aquela dor nos dedos era uma forma de me lembrar do que eu fiz, de me torturar.

Sem nem perceber eu já estava atacando o saco. Chute frontal, circular e um soco de direita...tudo isso me fazia lembrar do passado, quando o que eu costumava socar era vivo e era capaz de me sujar de vermelho.

Por algum motivo eu estava enraivecida.

— Você é impressionante.— Parei bruscamente de descontar a minha raiva no pobre objeto inanimado, me virando em direção a voz.

— Quem é você?— Perguntei.

— Jared, o garoto que sempre te observava de longe até encontrar coragem o suficiente para puxar assunto. — Bufei e revirei os olhos. Garoto sem vergonha.

— Bom, Jarod, eu estou ocupada. Acho que já deve ter reparado nisso.— Apontei para o saco sem me virar na direção do objeto.

— Eu reparei que você exagera nos treinos. — Franzi o cenho seguindo o seu olhar. Quase arregalei os olhos ao ver um buraco no saco do formato do meu pulso, o qual deixava a areia escorrer para fora. Como eu não havia visto isso antes?

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⏰ Última atualização: Feb 01, 2022 ⏰

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DIVERGENTE- Arma LetalOnde histórias criam vida. Descubra agora