Capítulo XXII

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A noite estava silenciosa, mas eu ainda poderia ouvir as respirações pesados dos meus colegas. Olhei para o lado onde a cama que Jeorghia costumava dormir estava e um sentimento de saudade me tomou, não dormia mais ninguém ali.

No começo da fase um, as camas estavam todos com seus respectivos donos; o banheiro estava sempre cheio e o refeitório mais ainda. Em pouco tempo, tudo ficou pacato, quieto e vazio. Pessoas morreram e outras desistiram...

Suspirei, virando o corpo para encarar a parede que, por mais cinzenta, era melhor do que me lembrar que minha amiga foi embora. Não, embora não, ela literalmente morreu.

Tentando afastar a dor, fechei os olhos por alguns segundos. Lágrimas jazem em silêncio pelo meu rosto, e eu me senti paralisada. Tudo pareceu congelar por um momento, o silêncio emergiu na minha mente pela primeira vez em muito tempo na audácia, mas isso não era um alívio porque, as vezes, o silêncio é mais frio e vazio do que qualquer coisa.

Em um solavanco empurrei as cobertas para o lado e coloquei as pernas para fora da cama quentinha, estremecendo com o chão gélido em contato com meus pés.

Em silêncio coloquei minhas botas e andei até a porta do quarto escuro. Já fazia quase cinco meses em que estávamos morando aqui, então eu sabia exatamente aonde por meus pés e não acabar caindo. O escuro não incomodava.

Eu sempre saia de noite do dormitório por não conseguir dormir e, consequentemente, isso estava me afetando. Um olhar cansado se tornava cada vez mais presente no meu rosto, e em nenhum momento eu consegui melhorar isso com uma boa e completa noite de sono. Minhas noites eram, e ainda são, momentos de descanso fragmentados, o restante era resumido em pesadelos.

Uma voz feminina me distraiu dos meus pensamentos. Franzi o cenho, pensando em quem poderia estar nos corredores da audácia a essas hora da madrugada além de mim.

Caminhei em direção da voz e me escondi por perto, de modo a ficar em um outro corredor onde eu poderia ouvir e enxergar sem ser vista por quem quer que seja.

Meus olhos saltaram da órbita, enquanto minha boca se escancarou em choque. Minha mãe estava ali, enquanto duas pessoas vestidas de preto e vermelho confirmavam com a cabeça algo que ela tinha acabado de falar. Meu coração disparou ao reconhecer Eric entre aquelas pessoas e senti minha boca seca, aproximei mais minha cabeça, colocando meu ouvido na direção das vozes.

- Está tudo correndo como o planejado. Dakota está fazendo o que eu já tinha previsto, e os divergentes estão sendo descobertos. Tudo está correndo como eu queria e não faltará muito para eu alcançar meu objetivo. Tudo isso graças a você, Coulter.

- O que pretende fazer com a Dakota? O que ela tem haver com isso? - Ouvi a voz de Eric, ela parecia confusa e preocupada. Meu coração gelou imaginando o que Jeanine poderia contar de mim para o Eric; e minha respiração parou ao pensar que Eric estava provavelmente trabalhando com a minha mãe. O que estava acontecendo? O que eu deveria pensar?

- Engraçado como sabe pouco da mulher que gosta, será por isso que ela lhe chamou a atenção?- Eu não via minha mãe, mas eu conhecia bem o sorriso maldoso pra saber que ele estava lá.

Um silêncio se formou, pude até imaginar as rugas de preocupação na testa de Eric.

- Me explique sobre isso.- Ordenou.

- Deve perguntar a ela, o fardo do passado da menina não é meu.

E então eu pude ouvir os passos da mulher loira caminhar pra longe e, consequentemente, eu fiz a mesma coisa. Com os olhos lacrimejando, corri para longe silenciosamente.

DIVERGENTE- Arma LetalOnde histórias criam vida. Descubra agora