Acordei cedo pois hoje, finalmente seria a segunda parte dos testes da audácia. Se eu conseguisse passar por esse, essa última parte, eu seria finalmente uma audaciosa completa. Tentaria me manter em primeiro lugar sempre, já que no final, quem ficasse na frente poderia escolher em qual posição gostaria de exercer na audacia. Guarda de cerca; evitar que as outras facções se matem; ou uma posição de liderança no que convém armamentos pesados. E eu queria o último porque eu poderia administrar as armas e os carregamentos dela, além de analisar sua fabricação e testá-la...definitivamente, muito mais legal do que guarda de cerca.
Depois de tomar um longo banho, passei pelas camas e fui até o correr vazio e escuro. Todos ainda estavam dormindo, então não encontrei ninguém no caminho até a cantina. Suspirei de alívio, gostando de estar sozinha.
Em menos se um segundo já havia pegado meu pedaço de bolo e suco, junto com pão de queijo quentinho. Talvez isso fizesse meu mal humor subir, já que eu não tinha dormido muito bem.
Me sentei em um mesa isolada, no lugar mais longe o possível da porta esperando que assim ninguém resolva me importunar. Eu gostava de ficar sozinha de vez enquanto, eu amava o silêncio e eu precisava daquilo. Depois da morte de Jeorghia, nenhum dos meus amigos pareceu querer me deixar respirar, talvez tivessem percebido que eu não estava bem. Fico imaginando que se eles soubessem que a culpa foi toda minha, se afastariam de mim.
- Você está sentada na minha mesa.- Ouvi uma voz, não me dei ao trabalho de levantar a cabeça para ver quem era, apenas debochei:
- Ok, me de um segundo para procurar seu nome. - Passei meu olhos por cada canto da mesa. - Não, não o encontrei.
Levantei o rosto, podendo ver um homem de mais ou menos vinte anos. Alto, um grande nariz e um porte típico de alguém da audácia. Ele riu se sentando na minha frente, subitamente interessado.
- Meu nome é Peter.
- Dakota.
- A primeira da turma? Que um imenso prazer te conhecer! - Não respondi, ele continuou:- Eu também fui o primeiro da minha turma, eu era o melhor.
Por que eu sentia que aquilo era uma mentira?
- Que legal...- Respondi sem ânimo.
- Ouvi muito falar de você, te chamam de Eric 2.0.
Revirei os olhos, cansada da conversa. Decidi naquele momento que não gostava do Peter e, nada do que ele poderia dizer, me faria confiar ou gostar dele. A verdade é que seu rosto simpático não me enganava, e talvez ele só quisesse algo de mim.
Entediada, levantei da mesa não me importando de abandonar a comida no prato. Comecei a andar para longe, sentindo seu olhar sobre mim.
- HEY! - Pude ouvi-lo, logo em seguida sentindo suas mãos rodearem meu braço esquerdo. Ele me virou bruscamente, encarei-o com raiva. - Onde você vai?
- Vou treinar um pouco, algum problema?
- Nenhum, vou com você. - Bufei.
- Solta meu braço, não quero companhia.
Peter pareceu não se dar por vencido, eu sabia que ele iria insistir e sabe se lá o que ele poderia querer comigo que fosse importante para arriscar encher minha paciência. O homem a minha frente não pareceu disposto a cooperar, ao invés disso apertou ainda mais meu braço, eu grunhi de raiva.
- Ela mandou você soltar.- Uma voz nem tão longe garantiu que eu parasse meu soco pelo meio do caminho. Não me dei ao trabalho de me virar, continuei encarando os olhos cor de lama do Peter sem vacilar, mas eu sabia que era Quatro ali atrás. Sua voz calma, fria e imponente era capaz de me fazer estremecer com o perigo eminente, mesmo que sua ameaça velada não fosse destinada a mim.
Não pude deixar de notar que, mesmo Quatro sendo mais discreto e calmo que Eric, as pessoas ainda não deixavam de o temer. Quatro era mais benevolente, mas isso não mudava o fato dele conseguir ser frio como uma pedra e ácido o suficiente para marcar uma presença sufocante para os demais. Peter provou isso ao arregalar os olhos, pasmo. Soltou suas mãos do meu braço, antes de tentar dizer alguma coisa coerente além de gaguejos indefinidos:
- Quatro...Eu...você...
- Saia daqui, Peter, conversamos depois.- Seu tom de voz deixou mais do que claro que aquilo não seria esquecido e, por mais que eu não quisesse, senti minha bochecha esquentar enquanto já podia me imaginar um pimentão.
Peter relutou antes de sair dali em passos rápidos, fiz uma careta ao ver as marcas dos seus dedos na minha pela. Senti meu rosto ferver ainda mais, só que dessa vez, foi de raiva.
- Da próxima, ele perde a cabeça. - Sussurrei para eu mesma trincando os dentes e, mesmo que minha intenção não fosse faze-lo ouvir, Quatro ouviu.
- Se ele tivesse cabeça, não seria um idiota. - Sorri, enquanto concordava mentalmente.
Fiquei grata pela ajuda, mesmo que eu já estivesse pronta para dar um jeito na situação segundos antes dele aparecer. Lembrei de nossa luta a mais ao menos uma semana atrás de repente, imagens do seu olhar orgulhoso quando eu consegui ganhar dele se fizerem presentes pela minha cabeça, acompanhada de outras lembranças sucintas: Eu, quase sendo jogada do abismo, ele aparecendo na hora certa para me ajudar...e agora, de novo ele estava ali.
Isso havia criado uma conexão com ele que eu não tinha parado para reparar até aquele momento. Parei, por um momento embasbacada.
- Quatro, eu...- Ele arqueou as sobrancelhas, esperando que eu continuasse. Mas eu não sabia o que dizer, não sabia continuar com aquela conversa por mais que eu quisesse sua presença. Falei a primeira coisa que me veio a cabeça:- Acho que vou treinar...
Ele concordou com a cabeça, colocando as mãos nos bolsos da calça preta enquanto indicava para que eu fosse logo. Não, eu não queria ir.
Sentimentos conflitantes se remexiam igual o mar em uma tempestade revolta porque, por mais que eu me considerasse uma mulher independente e bem vivida, eu não sabia lidar com aquilo. Não sabia lidar com aqueles dois líderes, e o que mais me dava medo era que esses sentimentos estavam ligados à eles, duas pessoas e não uma. Eu me sentia tão errada.
Suspirei e parei de andar logo antes de passar por ele, sentindo a impulsividade que poucas vezes se fazia presente na minha personalidade queimar o medo e a dúvida que eu sentia, não pensei em nada, só falei:
- Quer treinar comigo? Pode me dar mais algumas dicas, isso se não apanhar primeiro. - Sorri, praticamente o desafiando.
Eu era só uma iniciada e talvez isso pudesse realmente trazer problema para nós dois, alguns poderiam alegar favoritismo. Preferi apostar na sorte, já que na sala não havia câmeras e eu torci mentalmente, para que ele pensasse a mesma coisa.
Sem dizer nada, o moreno começou a caminhar na minha frente. Sorri comigo mesma antes de apertar o passo para alcança-lo, ele tinha aceitado sem sequer pronunciar uma palavra e eu respeitava que ele gostasse assim. Eu também amava o silêncio.
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DIVERGENTE- Arma Letal
Fanfic• FANFIC DIVERGENTE • | Eric Coulter e Tobias Eaton| • "Eles não eram mais inimigos, agora eram apenas unidos pela garota que amavam." 🦋 Criada para ser uma arma letal, Dakota não conhecia o que era realmente...