Capítulo XII

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Quando o homem preparou o próximo chute, outra pessoa surgiu do nada, empurrando ele tão forte que ele caiu no chão desmaiado. O idiota provavelmente tinha batido a cabeça.

Os outros dois tentaram ir pra cima da pessoa que agora era meu herói, mas logo foram nocauteados. Foi tudo tão rápido, que seria perda de tempo narrar aquela briga...se é que dá pra chamar assim. Tentei me puxar pra cima, mas nem pra isso eu tinha forças.

Meu braços pareciam gelatina e eu me perguntei como ainda não tinha caído. Um segundo Herói me puxou pra cima, era Eric.

Quatro ainda socava um dos meus agressores, isso só conseguiu me acalmar um pouco. Tremi, enquanto encarava a água lá embaixo.

Suspirei, sabendo que se levantasse do chão minhas pernas cederiam tão fácil quanto uma gelatina. Virei meu rosto para o lado, querendo esconder que estava chorando.

Ouvi Quatro caminhar até nós dois, não me importei. As mãos de Eric apertaram meu ombro e pude ouvi-lo dizer:

— O que eu disse sobre se cuidar? — Meus lábios tremeram e eu pensei numa forma de debater.

— Você disse que seria depois do caça bandeira.

— Não pensamos que eles tentariam algo assim tão cedo.— Quatro murmurrou, agora agachado ao meu lado junto com Eric.

— Mas...por quê?— Perguntei perdida, sentindo minhas lágrimas em cada canto do meu rosto. Encarei o chão acinzentado.

— Porque você é a melhor deles. Não pode confiar em ninguém.

Era tão fácil ser a assassina, que nunca pensei no quão difícil era ser assassinado. Estremeci novamente, me sentindo uma hipócrita.

— Vamos, vamos te levar para o seu dormitório.— Quatro me pegou no colo.

— Posso andar sozinha.— Ele riu.

— Não sem tombar pro lado.

Virei, vendo Eric revirar os olhos logo atrás da gente. Uma dúvida passou pela minha cabeça e, juntada com a vontade que eu sentia de esquecer o que ocorreu segundos atrás, não pude me negar em perguntá-la:

— Vocês não se odeiam?

— Eu odeio ele.— Eric disse, sincero. Quatro concordou com um movimento de cabeça.

— Então por que não estão se provocando como antes?

Eric se aproximou ainda mais das costas de Quatro, ficando mais perto de mim para podermos conversar.

— Você logo ficará sabendo, mas por enquanto, deve focar em seu treinamento. Você deve continuar sendo a melhor, não se esqueça disso.

— Eu não vou...

🦋

Acordei para mais um dia, sabendo que hoje, seria o dia do caça bandeira. Não sabia o que esperar sobre essa atividade, o melhor que eu podia fazer por enquanto era me preparar mentalmente. A verdade é que, talvez, eu precise machucar alguns amigos.

Eu torcia para que Jeorghia e Anary ficassem no mesmo grupo que eu, não gostaria de lutar contra elas e muito menos seria tão divertido ganhar delas. Queria que festejassemos nossa vitória juntas, mas sabia que talvez isso não fosse acontecer.

Depois de ontem, quando tentaram me matar, nada mais foi a mesma coisa. Mikey era um dos que estavam lá naquela noite, ele que tinha pisado na minha e, agora, ela esteja todo enfaixada. Ainda estava doendo mas, depois de uma breve passada na enfermaria tudo pareceu melhorar consideravelmente.

A traição seria maior se fosse outra pessoa, mesmo eu gostando de Mikey. Me peguei imaginado que se fosse Jeorghia ou Anary, eu teria realmente me sentido mal. O que acontece é que, em pouco tempo, a companhia dessas duas meninas faziam do meu dia algo bem melhor. Eu as considero boas amigas e se depender de mim, nossa amizade será verdadeira. Foi pensando nisso que acordei a Jeorghia ás cinco horas da manhã, duas horas antes do treino oficial acontecer.

— O que você quer? — Disse sonolenta.

— Vamos, vou te preparar para o caça-bandeira.

— Como assim?— Ela acordou por completo, confusa. Se apoiou na cama com os antebraços e me encarou esperando a resposta.

— Jeorghia, você está em penúltimo lugar, precisa vencer esse caça-bandeira se quiser permanecer na audácia.

Ela finalmente pareceu entender. Seus olhos verdes e sonolentos me avaliaram por completo, então ela sorriu.

— Você vai me treinar?— Seu sorriso era tão doce, que acabei sorrindo junto com ela.

— Sim, garota. Agora levanta a bunda daí, vai.— Ela prontamente me obedeceu.

Esperei ela na porta do dormitório, já que eu já tinha me arrumado enquanto ela dormia.

— E a Anary?— Perguntou enquanto andava até mim prendendo o cabelo.

— Não é ela que está quase sendo desclassificada.— Ela concordou comigo:

— Verdade, segundo lugar.

Mandei com que ela ficasse quieta enquanto caminhávamos até a sala de treinamentos. Eu não queria chamar a atenção e Jeorghia não era muito silenciosa, ela trombava em tudo o que via pela frente e muitas vezes falava mais alto do que um quero-quero. Fofa e irritante, e eu realmente não sei por qual motivo ela escolheu a audácia, não parecia ser o estilo dela.

Já na sala de treinamento, pude perguntar:

— Por que escolheu a audácia?

— O que? — Pareceu confusa. Suspirei, subitamente sem paciência pra sua lerdeza:

— Todo mundo sabe que você não se encaixa aqui, você é delicada, fofa e não gosta de nenhum tipo de agressão.— Espero que não ter sido grossa.

Seu sorriso morreu, ela se encolheu e pareceu pensar sobre o que dizer.

— Sabe que pode me contar a verdade, não vou sair espalhando.— Olhei nos olhos dela.— Sou sua amiga, estou te ajudando, não é?

Ela pareceu ceder, soltou os ombros que estavam tensos e suspirou:

— Meu irmão, vim pra ficar com ele.

— Quem é seu irmão?

— Matthew.— Arregalei os olhos, surpresa. O mesmo cara que me ensinou a maioria das coisas que sei; o cara que antes trabalhava com a minha mãe, era o irmão da minha amiga.

— Você conhece?— Perguntou vendo meu espanto.

— A muito tempo, conheci.

Ignorei a expressão curiosa da menina, mandando ela subir no ringue.

Ficamos o dia todo treinando. Ela já estava bem melhor, mas ainda duvidava que fosse ganhar alguma coisa...mas mesmo assim eu apostava nela. Algumas horas antes do anoitecer, deixei com que ela fosse descansar com os outros (que tinham passado o dia todo de folga).

Me senti bem por tentar ajudá-la e se ela ganhasse, eu me sentiria bem do mesmo jeito...mesmo que isso fosse significar a minha derrota. E não, eu não facilitaria pra ninguém, nem mesmo pra ela.

DIVERGENTE- Arma LetalOnde histórias criam vida. Descubra agora