Jeon
Outra vez eu estou irritado por ver ele beijando aquele garoto. Porque eu estou me sentindo assim? Eu não gosto de homens mas sempre que eu veja ele beijando alguém, eu quero experimentar o gosto dos lábios dele.
Isso está totalmente fora de controle. Como eu vou simplesmente dizer que quero beijar ele quando já disse que não faria isso nem que me pagassem? Eu sou um hipócrita então?
Uma risada estranha escapa da minha garganta e eu aperto o volante, eu devo estar enlouquecendo de tanto que ele diz que não tem nada errado em beijar um homem. Será mesmo que não tem nenhum problema? Eu não estou afim de andar na rua e receber olhares tortos e ouvir da minha mãe que eu vou para o inferno se fizer isso.
Respiro fundo e tento ignorar a sensação horrível que preenche meu corpo. Desde aquele dia em que minha mãe me viu tudo mudou, se ela não tivesse dito nada e não tivesse feito eu me sentir sujo por seguir meu coração.. eu seria feliz por ser quem sou?
Afinal, quem eu sou? Eu me moldei tanto para caber na imagem perfeita que minha mãe queria que eu seguisse que já nem sei o que eu realmente sinto. Se ela ficou daquele jeito só por me ver beijando um menino, imagina quando descobrir que eu não acredito que Deus realmente exista.
Eu não sei porque eu continuo preso ao que ela quer que eu seja mesmo não morando mais com ela ou sequer mantendo uma boa comunicação. Acho que eu fiquei tanto tempo repetindo a mesma coisa que minha mente já se acostumou com isso, se acostumou a esconder o que eu realmente quero.
-Droga. -murmuro respirando fundo outra vez.
Eu preciso ir para casa, Milly deve estar me esperando. Pelo menos ela me entende, de seu jeito estranho mas entende.
~×~
18:30.Acabei de descobrir que um banho quente não consegue relaxar os sentimentos mais profundos de seu coração. Milly sobe em cima da cama e se aconchega entre minhas pernas, miando preguiçosa.
-Pois é, seu pai está ficando louco. -falo acariciando o pelo macio dela e olho o sol se pondo pela janela.
A verdade é que todas as vezes em que eu disse para Taehyung que não gostava de homens e que ele deveria fazer o mesmo, eu só estava tentando tirar o peso que é esconder a verdade. Lá no fundo da minha alma, bem no fundo mesmo, eu ainda sinto que eu estou sendo um imbecil por não me permitir ser eu mesmo.
Taehyung não sabe mas todas as flores e cartas que ele me deu estão guardadas em uma caixinha, as flores já estão mortas mas eu não vou jogar fora, elas tem um significado importante para mim mesmo que eu não saiba o que exatamente elas significam.
Eu me pergunto se Sana está bem, desde o divórcio eu não falei com ela. Minha mãe encheu minha cabeça quando descobriu que eu não estava mais com ela, disse que eu estava voltando a ser o menino "afeminado" que era quando tinha quatorze anos.
Mesmo que minha mãe me machuque eu não quero magoar ela, não quero ouvir outra vez que eu estou fazendo ela morrer aos poucos e muito menos quero ser levado á igreja para "me curar". Então talvez eu continue mentindo para mim mesmo e para todos sobre o que realmente sinto.
Talvez eu continue na mentira até o meu corpo se esgotar e morrer. Mas ao mesmo tempo em que eu quero seguir isso e morrer de tristeza, eu não quero ficar preso a algo que eu não sou. Eu quero descobrir meu verdadeiro eu.
Mas eu tenho medo. Tenho medo do que as pessoas vão falar sobre meu jeito, sobre as pessoas com quem eu vou me envolver. Eu tenho medo de acabar sozinho e triste como aconteceu com meu pai.
Meu telefone toca e o número da minha mãe aparece na tela, ótimo. Respiro fundo e atendo a ligação, tentando não deixar que minha voz demonstre o quão cansado estou.
-Oi mãe. -falo e ela suspira do outro lado.
-Jungkook, você esqueceu que tinha que vir para a missa ontem? -sua voz é grosseira e eu engulo em seco.
-Ah, a missa -olho para Milly e tento pensar em uma desculpa- Mãe, você sabe que eu sou professor então eu tive que trabalhar até mais tarde. Acabei esquecendo. Me desculpe. -falo brincando com as patinhas de Milly e ela ri irônica do outro lado da linha.
-Como você pode esquecer algo tão sagrado assim? Você está desrespeitando as leis de Deus, Jungkook. Já faz mais de três meses que você não aparece em nenhuma missa e sempre dá a mesma desculpa de que ficou trabalhando até tarde.
-Mãe, você não pode me obrigar a ir á missa. Por favor, eu já tenho vinte e seis anos. -falo um pouco irritado e ela tosse.
-Você está se afastando de Deus como fazia na sua adolescência. Eu já disse que se você voltar a ser como antes você vai queimar no inferno como seu pai.
-Mãe, não seja estúpida. -falo um pouco exaltado e respiro fundo- Nem todo mundo se importa com essa coisa de céu ou inferno, eu sinceramente não acredito que isso exista.
-Você oque? Jungkook você está duvidando da existência daquele que criou você? Quem está colocando essas coisas na sua cabeça?
-Mãe, eu preciso desligar. Tchau. -falo e encerro a ligação antes que ela comece a falar sobre meu pai como sempre faz.
Eu não estou afim de ouvir ela citando versículos bíblicos que segundo ela "me condenam ao inferno". Eu estou cansado de ouvir sempre a mesma coisa e de sempre me sentir mal por tentar me sentir bem, se ela realmente me amasse e quisesse meu bem ela não diria coisas tão horríveis sobre mim.
Se eu estou condenado ao inferno por ter tatuagens ou não ser "masculino", ela também vai por falar mal das pessoas que frequentam a mesma igreja que ela. Onde já se viu falar mal do próprio líder religioso?
Por mais que eu tenha medo de me libertar, eu quero sentir o que Taehyung sempre fala. Quero saber como é amar alguém que te faça bem, alguém que te aceite como você é independente da sua sexualidade.
Mas será que ele me mostraria que realmente não tem nada errado em amar livremente depois de tanta coisa estúpida que eu já disse para ele? Ele estaria disposto a me mostrar todo o amor que ele diz sentir por mim?
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• Se Eu Tivesse Dezessete Vidas • [TaeKook]
FanfictionTaehyung desde que se entende por gente sempre foi apaixonado pela literatura e a arte, respirava isso, usava disso para aliviar o peso de carregar tanto sofrimento nas costas. Sendo mais específico, o peso de nunca ser correspondido pelo cara ao qu...