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 Observo o relógio e vejo que já é 12:00, entro no carro e dirijo de volta para a escola de Bela pois já está na hora de ir buscar a pequena. Assim que chego para o carro em frente a escola e desço, encosto no carro e pego meu maço no bolso, coloco um cigarro na boca e procuro pelo meu isqueiro, mas percebo que esqueci.

- Aqui - A mesma mulher de antes se aproxima e me entrega um isqueiro

 Pego e arqueio a sobrancelha sem entender...o que ela quer?

- Você é lésbica? - Pergunta e eu dou risada depois de ascender o cigarro

- Sutil como um cavalo - Falo baixo e ela sorri leve

- Desculpa, é que escutei Bela te chamar de papai e...- Antes que ela continue, eu respondo

- Não me rotulo - Respondo e ela me olha confusa - Nasci intersexual, então tenho uma aparência, mas minha genital é outra- Falo dando de ombros - Não gosto de rotular, apesar de sentir atração por mulheres - Termino de responder e ela me lança aquele olhar que eu conheço bem

 O olhar de curiosidade, aquele olhar que me vê como se eu fosse uma experiência ou um ratinho de laboratório.

- E como você transa? - Pergunta e eu dou risada

- Você da o cu? - Pergunto e ela me olha ofendida

- O que? Isso é pergunta que se faça? - Ela pergunta assustada e eu dou reviro os olhos

- Ah minha senhora, vai se foder né - Falo irritada e ela me olha espantada - Não era você que queria compartilhar intimidades? Então, como você transa? Você gosta de dar seu cu? - Pergunto novamente e ela sai irritada

 Escuto o sinal da escola tocar, apago o cigarro e espero minha pequena aparecer, e não demora para eu ver ela. Ela parece curiosa enquanto observa um garoto, eu arqueio a sobrancelha e arregalo os olhos.

O que? 

 Ela gosta dele?

 Assim que a pequena me vê, ela corre em minha direção e me abraça, eu abro a porta do carro e a ajudo com o cinto de segurança. Quando entro no carro começo a dirigir enquanto em minha cabeça passa mil formas de puxar esse assunto.

- Querida, aquele garoto que você estava olhando...você gosta dele? - Pergunto e ela me olha vermelha

Ó CEÚS...MINHA GAROTINHA

- O que? Não! - Ela diz assustada - Eu só estava olhando para ele porque as pessoas da minha sala ficam chamando ele de veado - Ela diz envergonhada - O que isso significa papai? - Pergunta e por um momento sinto ódio, raiva...

- Chegamos! - Falo estacionando o carro no estacionamento

 Desço do carro e ajudo Bela, assim que descemos eu penso durante o caminho como vou começar essa conversa e uma grande ideia vem em minha cabeça.

- Meu amor, vem aqui - Falo e levo ela até a praça de alimentação, onde está sempre tão lotado

Sento com ela em uma cadeira e ajudo ela a sentar em uma posição onde a garota pode ver a todos.

- O que você vê? - Pergunto e ela me olha sem entender

- Pessoas - Responde simples

- E como essas pessoas são? - Pergunto e ela tenta analisar a todos

- Depende - Ela diz confusa - Todas são diferentes, posso escolher apenas uma? - Pergunta e eu dou um leve sorriso com sua inocência

- Exatamente meu amor, todas são diferentes - Falo e aponto para uma mulher na fila - Aquela mulher é diferente daquela mulher, e é diferente daquele homem. Ser diferente é o que nos torna únicos e ser diferente não é algo ruim, pelo contrario, é muito bom - Falo e seguro sua pequena mão - Bela, está vendo aqueles dois garotos de mãos dadas? - Pergunto e ela assente - Eles são um casal, igual eu e a mamãe. Eles são dois garotos que se gostam e não tem problema nenhum nisso, se eles não estão fazendo mau a ninguém, então eles podem fazer o que quiser da vida deles, eles podem se amar livremente. Só que nem todos aceitam isso - Tento explicar, só que consigo ver seu olhar confuso - Ok, vamos recomeçar... - Penso um pouco e suspiro

Desde que te vi pela primeira vez Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora