O real
não é
concreto.
A solidão desespera
as certezas absolutas
e a amargura sorri
de braços abertos.
Essa angústia
é mais terrível
do que ser jogada
numa noite escura
em alto mar.
Nós crescemos
no conflito vivo
de (não) ser e existir,
de nos desfazer
e resistir
dos nossos
(tão nossos, mas
tão alheios)
desejos
e
sofrimentos.
A modernidade
é líquida,
mas não liquida
os medos só lidos,
sólidos
como rochas.
Freud cheiraria o pó que minha alma se torna
– migalhas
de estudos
cristalinos –
embora não queira
partir
dos meus alicerces
mais profanos
e de meus instintos.
A caixa preta
confronta
a de pandora
e desenrola
o silêncio
que desabafa
meus momentos
mais obscuros.
A sanidade nada seria
sem os surtos
– a loucura
está presente
no absurdo que é
a essência do controle –
equilíbrio e caos
são indissolúveis
e indissociáveis.
Meus eus
acreditam em verdades
distintas e dicotômicas
e veem o mundo
de formas secantes.
É difícil ser
réu, júri,
defesa, promotoria, juiz
e cúmplice
de meus atos,
apenas me calo
ao perceber
t o d a s a s v e z e s
em que fui VÍTIMA
de mim.
Minhas faces
se trancam em quartos
e lutam em atos
buscando
a aniquilação,
sem perceber
que,
infelizmente,
fazem parte
da mesma parte
de um todo.
Inconsciente tolo.
Eu sou uma piada!
Uma guerra ao som
de música clássica,
provas reveladas
com pena já consumada,
mentiras e máscaras
descobertas
no juízo (último
e desequilibrado
embora nunca)
final.
O pulso já não pulsa.
A consciência pesada
observa, pálida
a brutalidade que nos rodeia.
Há crueldade em minhas veias.
O coração, solitário,
convulsiona, dispara
e mesmo sem entender,
assumo:
sou culpada.
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Calabouço - Poesia
ПоэзияPeço desculpas pelas loucuras, depravações e amarguras contidas neste livro. Este é o diário de uma jovem refém do tempo, aprisionada em sua própria mente.