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O    E n t e r r o

Depois de quase seis anos juntos, Draco podia dizer com certeza que conhecia todos os humores de Harry Potter. Ele sabia exatamente quando o brilho de seus olhos se tornava raiva ou quando sua expressão distorcia-se em algo triste e pesaroso. Era um talento, realmente, saber com apenas um olhar o que o menino estava sentindo. Foi sempre assim, para ser sincero. Mesmo quando Harry usava seus sentimentos como uma luva, ainda era fascinante assistir a transição de uma coisa para outra.

Naquele momento, porém, ele - pela primeira vez - não tinha ideia o que Harry estava pensando ou sentindo.

Era fato que todos seus amigos estavam esquisitos, mas não era necessário ser um gênio para adivinhar porquê. Ele sabia que estavam com medo - possivelmente desesperados. Era um sentimento familiar para ele a esse ponto. Eles nunca mostravam na sua frente, mas Draco podia apostar que cada um deles estava tendo pequenos ataques de pânico toda noite.

Harry, porém, era diferente. Ele não estava apenas escondendo seus sentimentos de Draco... Ele estava escondendo de si mesmo. Não estava se permitindo sentir absolutamente nada, e Draco até mesmo suspeitava que não estava dormindo. Tudo isso o aterrorizava.

Era como se Harry focasse na marca, ela iria desaparecer e tudo ficaria bem. Estava obcecado e Draco nunca o viu lendo tantos livros na vida. Nem mesmo a partida de quadribol contra a Corvinal pareceu mexer com ele - não que Draco tenha ganhado permissão para jogar. Snape o suspendeu indefinitivamente do campo por conta de seu estado.

"É estranho não estar lá." Murmurou Draco enquanto ele, Pansy, Hermione e Ron abriam espaço na arquibancada da Sonserina.

"E lá vai Blaise roubando a goles." A voz sonhadora de Luna ultrapassa o estádio. Draco tinha que admitir que adorava escutar sua prima narrando, era uma experiência muito divertida. Na semana anterior, no jogo Grifinória e Lufa Lufa, ela passou cinco minutos falando sobre o quão bonita Ginny estava, até que McGonagall a parou. Draco nunca havia visto a ruiva tão corada antes, e ela até mesmo se perdeu uma ou duas vezes no campo. "Ele é bom. É meu amigo, gosto dele. Fomos no baile de Inverno juntos no meu terceiro ano, foi divertido. Ah, ponto para a Sonserina!"

"O time pode se virar sem você por um tempo." Falou Pansy, entrelaçando seu braço com o de Draco - aquele sem a marca.

O resultado do jogo provou que Pansy estava de fato correta. Era visível a diferença que Draco fazia no time, mas a sintonia de Blaise e Astória compensava. Os dois pareciam mais próximos desde a volta dos feriados, e o desempenho de ambos mostrava isso claramente. Nem mesmo discutiram tanto ao voltar para o chão, apenas trocando um sorrisinho e seguindo em frente.

Mas Harry... era como se ele não estivesse verdadeiramente ali, mesmo depois de apanhar o pomo. Seu olhar era distante, e ele nem mesmo se juntou à comemoração pós-jogo. Também não deu a Draco uma chance de conversar quando o loiro tentou, apenas se escondendo atrás das cortinas de sua cama.

A única razão que o menino sequer continuou suas aulas com Dumbledore foi porque Draco insistiu. Ele estava satisfeito, porém, porque o tempo em que Harry estava fora lhe deu momentos para se preocupar com outras coisas.

"Não está nada bom, está?" Ele murmurou quando Snape fez sinal para que ele fechasse sua camisa.

Ele estava em uma de suas consultas semanais com Sev, onde o professor analisava o progresso do veneno em suas veias e fazia mais poções para conter os sintomas. Pela expressão de seu padrinho, suas suspeitas haviam sido confirmadas. Draco não tinha mais tanto tempo quanto acreditava ter no início.

"Mais alguns meses, talvez. As poções estão ajudando." Mas não estão curando, pensou Draco. Ele não precisava que Sev falasse essas palavras que pairavam silenciosamente no ar entre eles.

Draco Black e o Enigma do PríncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora