Inimigos Do Amor

22

Tharn

Estou fazendo carinho no rosto dele, ele está dormindo abraçado ao meu corpo fazendo beiço, estava tão fofo, parecia um bebê.

Tinha trazido ele para o quarto — e a minha surpresa ao notar que ele já estava usando o meu quarto —, continuo o carinho em seu cabelo.

Droga como sou tão gado dele.

Suspiro já conformado, senti tanta saudade dele. Um ano, um ano inteiro eu consegui ficar longe, mas ele deu o primeiro passo, lembro de cada detalhe do que aconteceu.

Abraço ele com certa força trazendo ele para mais perto de mim, ele resmunga, mas se aninha ao meu corpo todo manhoso. Às vezes ele parecia um gatinho.

Me afasto devagar, indo até o banheiro, tomo um banho e vou atrás das minhas roupas que estavam jogadas na sala de forma despretensiosa. É tão estranho que eu esteja aqui novamente. Olho ao redor, tudo estava como antes, nem parece que tem tanto tempo que eu não vou ali.

Ando até a cozinha e penso que talvez poderia fazer alguma coisa, mas lembro que não sei cozinhar, me ajeito animado e decido ir comprar algo para o almoço. Não demora muito o percurso de ida e volta, mas assim que entro no apartamento o Type está sentado no sofá todo encolhido.

— Type, — chamo e assim que me aproximo dele, ele me olha por alguns segundos e logo depois pula em mim. Seguro ele e ele cruza as pernas em minha cintura, escondendo o rosto em meu pescoço todo manhoso. — o que houve? — pergunto preocupado.

— Eu pensei que tudo tinha sido um sonho — ele fala quase que em um sussurro. É tão estranho ver o Type assim, normalmente ele está falando tantas coisas e me responsabilizando sobre tudo de ruim que aconteceu em sua vida, e tantas outras coisas. Type fofo e carente é novidade.

— Calma, eu só fui comprar algo para que pudéssemos comer — digo e ele respira fundo, se afasta de mim e murmura que irá tomar um banho. Arrumo a mesa e logo o Type estava ali de novo, comemos em um silêncio um tanto quanto confortável apesar de tudo.

Assim que terminamos, quando eu ia me levantar para ir embora, Type segura o meu braço com uma expressão decidida no rosto.

— Precisamos conversar — ele diz e morde o próprio lábio. Me recuso a pensar coisas que não devo, não é momento para isso.

— Ok, — digo e respiro fundo indo me sentar, ele se senta ao meu lado, ficamos em silêncio por um tempo, isso era tão estranho, isso eu tenho que admitir. — o que quer falar?

— Nós dois erramos naquele dia, eu não devia ter falado aquelas coisas para você, eu fui... um idiota, desculpa — ele fala baixo, não estava olhando em meus olhos. Suspiro, passo o meu braço ao redor do Type e o trago para o meu colo, ele me olha assustado e acanhado.

— Desculpa por ter te marcado sem a sua permissão, eu não devia ter feito aquilo — falo e ele faz beiço.

— Isso é o de menos, — ele diz e eu suspiro. — você me ignorou por um ano inteiro e quando apareceu foi com a lambisgoia do Long. Se eu pegar ele, quebro-o em quatro — ele diz e começo a rir com o que ele disse.

— Você é tão fofo. — digo e beijo a bochecha dele. — Quando eu era criança algo aconteceu, por isso que eu não me lembrava.

— Não precisa contar se não quiser, Tharn — Type diz e eu suspiro, sorrio dando um selinho nele.

— Eu quero contar. — falo baixo. — Minha infância era normal, tirando o fato que eu nunca consegui me afetar com qualquer outro lobo... seja Alfa, Ômega ou Beta. Quando fiz 13 anos, o cheiro dos meus fenômenos mudaram, um Alfa com cheiros de morangos. Me levaram para refazer os testes ABO, e ainda assim dava Alfa. Acharam que era por eu ter uma personalidade dócil, nunca fui alguém muito difícil de lidar, mas... começaram a fazer bullying comigo, eu devia ter contado a alguém..., teve um acidente, — olho para o Type e ele estava quieto, respiro fundo. — eu perdi o controle e ataquei uns Alfas que estavam mexendo comigo.

— Tharn — Type sussurra e faz carinho em meu cabelo, passa a mão em meu rosto.

— Era estranho, estavam acontecendo tantas coisas comigo, que eu não podia controlar. O ataque a aqueles Alfas me geraram algumas punições — paro de falar.

— Punições? Tharn, o que fizeram com você?

— Não muita coisa, meus pais chegaram antes que algo pior pudesse acontecer, mas quase morri naquele dia. Eu fiquei algum tempo no hospital e quando acordei tinha esquecido algumas coisas, você foi uma delas. Meus pais ainda tentaram me dizer sobre você, mas nunca consegui processar. Meus pais, eles... eles me mudaram de escola e passei a estudar em uma escola só para garotos com o meu irmão mais velho — mordo o lábio sem olhar para o Type.

— Desculpa, — ele diz tão baixo que se eu estivesse longe não conseguiria entender. — tudo aconteceu no período que eu tomava os meus supressores.

Respiro fundo e abro um sorriso divertido.

— Não tem problema, Type. Isso aconteceu a muito tempo, não tem por que ficar remoendo o passado, você começou a tomar seus supressores por causa de várias coisas que aconteceram com você. — digo e ele me abraça ainda manhoso. — Não iria servir de nada te culpar por algo que você nem sabia.

— Mas eu fiz isso com você — ele diz e começo a rir.

— Então vou te punir por isso. — ele me olha, parecendo chateado. — Vai ter que ficar comigo para sempre, até ficarmos bem velhinhos. Você pode fazer isso?

— Posso — ele diz e me abraça, retribuo o abraço — e você volta a morar aqui, tá bom?

— E vai me devolver o meu quarto? — ele ri com a minha pergunta.

— Vai ser nosso quarto agora — ele responde.

— Gostei da ideia.