5. É um mal dos Young

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- Mamãe vai nos matar.

Eu falo para o meu avô quando entramos no Pesque e Pague.

- Até ela descobrir que trouxemos o almoço. - Ele arqueia as sobrancelhas para mim, em olhar cúmplice.

- Tem certeza de que não estou cometendo um crime? - indago, preocupada, refletindo sobre o fato de que ele provavelmente deveria estar em casa.

- Apenas se o seu crime for me deixar feliz, querida. - Vovô toca meu ombro de modo reconfortante. - Um velho homem precisa de um pouco de diversão.

- E veio fazer isso no lugar mais perigoso do mundo? - indago, de modo irônico, entregando uma vara de pescar para ele.

- Muitas vezes o simples é o mais importante, Genevieve - responde ele, como em uma bela lição de moral, e eu assinto com a cabeça, mesmo não concordando de fato.

Porque, bem, embora esteja me acostumando a morar em Cherrysville, eu ainda prefiro mil vezes Nova York com toda a sua agitação, as incontáveis e uma luzes e, obviamente, o meu apartamento no centro. É, eu sei o quanto isso soa mimado e superficial, mas é a verdade. E eu não consigo imaginar a Gen do futuro em nenhum outro lugar além das ruas lotadas de Manhattan e dos corredores da Serenity Magazine.

- Eu juro o que não entendo o que há de tão especial aqui, vô - comento, tentando me manter estática para não balançar muito o barco.

- Nós ainda estamos falando do Pesque e Pague? - brinca ele, me fazendo rir. - Foi onde eu conheci sua vó, Genevieve, onde construímos nossa família e onde vivemos bons longos anos. Não é exatamente sobre o lugar, mas sobre todas as memórias que tenho aqui. - E me encara, sério.

- Se gosta tanto daqui, talvez devesse reconsiderar o tratamento, vovô - elucido antes que posso perceber e me arrependo em seguida, porque sei que não é da minha conta.

Meu avô levanta o olhar para mim e esquadrinha meu rosto fixamente e eu vejo suas linhas de expressão se tornarem evidentes.

- Não quero passar o resto dos meus dias em um hospital, querida - pondera ele, com cautela, enquanto ajeita o boné na cabeça.

- E eu só não quero te perder por agora - murmuro, endireitando o corpo e olhando para a imensidão azul à minha frente, incapaz de encara-lo.

- E você acha mesmo que isso vai acontecer? - indaga meu avô, em tom animado, cortando todo o clima pesado entre nós. - Eu ainda tenho muitas coisas para fazer aqui, Genevieve. Aliás, tenho que esperar um Corvette ficar pronto, hum?

Então vovô e eu passamos a manhã toda pescando. 

Com isso, eu quero dizer que não pescamos absolutamente nada.

Eu não sei se foi o fato de não termos parado de conversar por um segundo sequer ou se eu quem quem era péssima nisso, mas, no fim das contas, nós tivemos que acabar comprando o peixe.

- Eu achei que você tivesse ganhado um concurso ou algo do tipo - comento para o meu avô, me lembrando de uma das milésimas histórias que ele contava sobre quando era adolescente.

- Eu acho que posso ter omitido algumas informações. - Ele comprime os olhos e abre um sorriso divertido. - Sabe como é, é um mal dos Young. - Cochicha, como se fosse um segredo.

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