11. Seremos os primeiros

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O bolo.

É a primeira e grande coisa que vejo no jardim. Tem três camadas e mais glacê do que meus olhos são capazes de identificar. No centro, bonecos de minha mãe e Richard brindando felizes. Hoje é o dia da renovação de votos de casamento deles e mamãe organizou uma pequena festa nos fundos de casa. Há algumas mesas distribuídas de forma simétrica e forros de cetim dourado tomam conta da decoração. Também tem uma banda, que toca os mais diversos estilos musicais, e vovô dança animado com uma das nossas vizinhas.

A minha mãe está bonita. Ela usa um vestido rosa com flores estampadas e o penteado no cabelo envolve tranças que deixam à mostra seu busto iluminado. A maquiagem é leve e combina perfeitamente com o clima de fim de tarde, assim como os sapatos brancos de salto baixo. Richard e ela estão de mãos dadas, sendo fotografados em frente à mesa do bolo, e ele parece muito feliz a julgar pelo sorriso estampado no seu rosto durante toda a semana. São cinco anos desde que a minha mãe disse ''sim'' no altar e esse é o relacionamento mais longo que ela já teve desde o meu pai, então agora sei que é definitivo. Assustador, eu diria. Não que eu não goste de Richard (ele é um dos caras mais legais que conheço e adoro tê-lo como padrasto, especialmente se eu levar em conta o quão bem ele sabe fazer ovos com bacon no café da manhã), mas me dá medo de pensar que é um compromisso para uma vida inteira e que algum dia será a minha vez.

O fato é que eu não consigo me imaginar dizendo ''eu te amo'' ou, sequer, amando alguém. Parece um sentimento tão forte e verdadeiro que eu penso se algum dia irei chegar a senti-lo de verdade. Porque, até agora, tenho certeza de que nunca cheguei nem perto de gostar de um cara com tamanha intensidade, então, com quase vinte e um anos, começo a pensar que eventualmente me tornarei uma idosa com vinte e cinco gatos e espero que isso não seja tão ruim assim.

- Sejam bem-vindos, senhor e senhora Wilson! - Eu abro um sorriso convidativo para um casal que mamãe conheceu no supermercado outro dia. Ela tem essa personalidade super simpática capaz de agradar até o carteiro da rua.

- Olá, querida! - A mulher de cabelos grisalhos toca minhas bochechas e e eu torço o nariz, incomodada com o grau de intimidade que as pessoas dessa cidade possuem. - E onde está o seu namorado, aliás? Não me diga que deu um pé na bunda dele, uh? Vocês formavam um casal tão fofo...Daqueles de novela, sabe?

- Ele não é meu namora... - começo a dizer, sabendo que provavelmente se trata de Callum, mas logo sou interrompida.

- O rapaz que trabalha na oficina? - O marido dela ajeita os óculos redondos no nariz e me encara, confuso. - Eu sempre achei que vocês formassem mesmo um belo casal e olha que eu nunca gostei de caras muito altos. - Ele ri, como se estivesse contando uma piada muito engraçada, e eu solto um risinho também.

- Ele tem inveja, querida Gen. - A senhora Wilson murmura para mim, como se me dissesse um segredo. - O sonho dele era ser jogador de basquete na infância.

- Não diga uma barbaridade dessas, Nora! - repreende o senhor Wilson, entrelaçando o braço ao redor do da mulher. - Agora vamos nos sentar logo porque as minhas costas estão me matando.

- Obrigada por virem e fiquem à vontade. - Eu maneio a cabeça em direção a uma mesa vaga na lateral.

-Oi, loira

A voz de Callum me pega de surpresa, fazendo com que eu dê um pulo para trás quase que imediatamente. 

Ele está mais arrumado do que eu jamais vira, usa um smoking azul marinho escuro e gravata preta. Seu cabelo está perfeitamente penteado e a barba feita. As sobrancelhas grossas se unem quando ele dá um passo na minha direção e o os olhos azuis me fitam demoradamente quando alcançam os meus.

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