17. Parece vazio demais

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Aperto as mãos no volante do Corvette quando noto a placa para Nova York em letras garrafais.

Apenas alguns quilômetros e logo estarei na minha antiga casa. O que é estranho porque não me sinto da forma que achei que estaria. Pelo contrário, um aperto invade meu peito e a sensação de que estou fazendo a coisa errada toma conta da minha cabeça à medida que sigo em frente na rodovia.

Eu sei que deveria estar pulando de alegria, porque depois de um ano longo eu finalmente estou voltando ao que sempre quis, mas a verdade é que acabei me acostumando demais com tudo o que eu tinha. Em Cherrysville.

De qualquer forma, sei que não há motivos para que eu continue lá. O meu avô morreu e eu me formei na faculdade, então não tem outra alternativa a não ser levantar a cabeça e voltar para a vida real.

Além disso, eu tenho menos de uma semana para terminar o meu artigo para a Serenity Magazine e, embora eu não ache que ele esteja bom o suficiente, o enviarei de todo jeito.

Quarenta e cinco minutos depois, arrasto as malas até o meu antigo quarto, que está do mesmo jeito que eu o deixei: as paredes brancas, as persianas cinzas e a minha velha escrivaninha. É como se eu jamais tivesse me mudado, exceto pelo fato de que algo dentro de mim está completamente diferente.

- Esqueci de comprar o açúcar. - Minha mãe entra pela porta do meu quarto, com um olhar direcionado a mim. - Se importa de ir no mercado da esquina? Deixo você pegar donuts.

Seu olhar é mais uma ordem do que um pedido e eu passo por ela, pegando o cartão de seus dedos. Alguns minutos depois e estou voltando com uma sacola nas mãos quando um fantasma do meu passado alcança o meu campo de visão.

Maddison Gray está parada em frente ao meu prédio e tem um capuz sobre os grandes fios vermelhos. Usa calça moletom larga e botas de esquimó. Ela está mais magra do que a última vez que eu a vira e o rosto pálido, sem nenhuma maquiagem. Parece até outra pessoa e, se eu não tivesse convivido com ela por toda a minha vida, muito provavelmente não a reconheceria.

- Sua mãe disse que você tinha saído.

A voz da garota ruiva é trêmula, quase como se tivesse medo de mim, mas ela esboça um sorriso em seguida.

- O que você...

- A Alisson encontrou com Verena no parque há alguns dias - interrompe Maddison, como se lesse meus pensamentos. - E ela disse que você chegaria hoje. Eu tentei te ligar e tudo mais, mas nem sequer chamou. - Ela dá de ombros por fim.

- É o que acontece quando se bloqueia alguém - respondo e ela ri, quase como se ainda fôssemos velhas amigas. Eu, no entanto, ainda estou ponderando sobre o que diabos ela está fazendo aqui.

- Eu sinto muito, Gen. - A ruiva dá um passo na minha direção, os olhos fixos nos meus beirando ao arrependimento explícito.

- Por ter insinuado que eu queria roubar o seu namorado ou, hum, sabe, por ter acabado com a nossa amizade por causa de um cara?

- Ele terminou comigo - Maddison declara, engolindo em seco, e pela forma como seu peito se move de forma descompassada, sei que está prestes a chorar.

Então eu não consigo fazer outra coisa além de ir na direção dela e puxa-la para um abraço demorado. Talvez haja uma voz no meu interior dizendo o quanto sou idiota por isso, mas há outra bem maior que deixa claro que não posso virar as costas para uma amiga. Maddison Gray e eu nos conhecemos durante toda a nossa vida e isso não é algo que simplesmente some, não quando ela está precisando de mim.

- Foi há alguns meses - explica ela enquanto estamos deitadas na minha cama, os pés para o alto, e donuts nas mãos. - Acho que perto do dia dos namorados ou coisa assim. Uma mensagem, dá para acreditar?

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