7. Então significa que tenho que ficar com a sua gelatina?

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Eu estava no terceiro tempo quando o meu celular tocou.

Era a minha mãe, para a minha completa surpresa - isso porque ela jamais me ligava, nem mesmo quando encontrou Taylor Swift em uma cafeteria. Eu tive que esperar um dia inteiro para ficar sabendo disso, aliás.

No entanto, dessa vez, não se tratava de algo bom, já que sua voz estava embargada e, entre palavras apressadas, ela disse que eu deveria ir para o hospital o mais rápido possível.

O meu avô havia desmaiado. Ponto. Foi tudo o que consegui entender.

E não pensei duas vezes quando passei correndo pela porta de entrada de Cherrysville College, com meus cabelos volumosos e frisados devido ao clima seco chicoteando as minhas costas. Eles andavam muito rebeldes ultimamente e, não importava quantas vezes passasse a chapinha, não conseguia conte-los, então simplesmente optei por deixa-los ao natural. O que tinha sido uma péssima ideia, obviamente.

Agora, enquanto digo ao taxista para onde estou indo, tudo o que consigo fazer é me concentrar para conseguir respirar direito. Estou afobada e meus dedos estão tremendo, mas não quero sequer pensar na mínima possibilidade de algo ter acontecido, então analiso a cidade que passa como um borrão no vidro da janela do carro.

É quase meio dia, logo, o centro está lotado. Há comerciantes na rua vendendo bijuterias, artefatos e até mesmo peixes. O que me lembra instantaneamente de quando fui com o meu avô pescar há algumas semanas e mamãe e eu tivemos uma briga horrível. Agora, tudo parece tão insignificante que, assim que meus sapatos batem contra o piso do hospital, a primeira coisa que faço é procurar por ela.

Mas não a vejo de primeira, uma vez que Callum Fisher está com as costas curvadas em uma das cadeiras da sala de espera. Estou curiosamente confusa pela sua presença aqui, já que sempre achei que a relação entre vovô e ele envolvesse apenas carros para consertar e conversas cordiais. 

Mas, pelo visto, não. 

Suas mãos se unem no meio das pernas, enquanto ele usa os cotovelos para apoiar o peso, o olhar vago para a frente e os cabelos pretos terrivelmente bagunçados.

Ele não nota a minha presença num primeiro momento.

E, à medida que caminho em sua direção, é como se as memórias da festa de Halloween me atingissem em cheio. Me sinto com raiva e, ao mesmo tempo, há uma dose de culpa que invade meus pensamentos. Porque, bem, embora eu tivesse plena convicção de que ele agira feito um cretino por querer tomar conta da minha vida, talvez eu tenha dito coisas horríveis. Horríveis demais. Até mesmo para Callum.

- Onde está ele? - pergunto para o rapaz à minha frente, observando seus olhos azuis adquirirem um aspecto surpreso assim que encontram os meus.

Ele não diz nada, apenas maneia cabeça em direção à sala à direita e eu giro meus calcanhares numa tentativa de adentrar o cômodo, que se encontra fechado.

- Ainda estão fazendo alguns exames - explica, mas dessa vez não me encara de fato. É como se estivesse falando para quem quer que quisesse ouvir e não para mim exatamente.

- E a minha mãe? - Torço o cabelo de lado, nervosa.

- Foi buscar um café.

- Certo - eu murmuro, me sentando ao seu lado, enquanto finalmente sinto as lágrimas tocarem as minhas bochechas.

Eu aguentei exatos vinte e sete minutos antes de desabar. Vinte e sete antes de abaixar as minhas barreiras e chorar na frente de um cara que provavelmente me odeia.

- São só exames, Genevieve. - Callum se vira para mim, o tom sereno. - Ele vai ficar bem.

- Você não sabe - rebato, arisca, porque o modo como sua voz exala tanta certeza me deixa tremendamente irritada.

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