13. Talvez possa abrir uma exceção essa noite

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Não choveu no Natal.

Embora vovô tenha dito que, se eu tivesse sorte, choveria, não choveu.

Então talvez Cherrysville seja mesmo uma daquelas cidades em que quase nunca chove e simplesmente não dá para você ficar esperando que um milagre aconteça.

Na verdade, acho que hoje é o dia mais quente de todos e passei a manhã inteira ajudando Piper a estudar para um teste de teatro. Ela vai tentar o papel em um musical da cidade e eu  estou realmente empolgada, já que ela é boa para caramba. Tipo, incrível mesmo.

- Ok. Eu acho que você com certeza será a nova Barbra Streisand. - Estendo o balde de pipoca para ela, que zapeia os canais da tevê.

- E perder toda a diversão? - Piper arqueia as sobrancelhas para mim. - Eu quero viajar o mundo, Gen. Sabe, fazer uma turnê por vários lugares e não ficar presa em um set o dia inteiro.

- Isso significa que vai me levar à Paris?

- Definitivamente - conclui ela, me lançando uma piscadela.

E talvez possa parecer repentino demais, mas tenho a sensação de que Piper e eu teremos uma amizade longa e duradoura, porque não há nada complicado sobre nós. É sempre leve e divertido quando estamos juntas, não há mentiras, provocações e nada do tipo. Simples assim. E isso é algo que quero levar para o resto da minha vida.

- Por que não convida Callum? - interroga ela, de repente, enquanto vamos para o boliche.

- Hmmm. Acho que ele está trabalhando - respondo, vagamente, porque é a primeira coisa que vem à minha mente.

- Não está, não. Eu o vi no píer mais cedo e ele estava sem camisa. Ok, essa pode não ser a informação mais relevante de todas, mas, ainda assim, é sempre bom frisar - comenta ela, franzindo o cenho. - Mas, bem, se você não está a fim, é só dizer.

- Não é isso. - Mordo a parte interna da bochecha. - É só que temos passado muito tempo juntos ultimamente.

- E isso é ruim? - indaga, confusa.

- Não sei ainda - murmuro, sincera, e ela assente com a cabeça, encerrando o assunto.

A verdade é que eu tenho medo.

Nos últimos meses, não houve uma dia sequer em que nós não nos vimos. Seja para dar uma volta no píer, assistir a um filme ou conversar sobre qualquer coisa banal. Nós sempre estamos juntos. E é divertido, obviamente. Mas tenho medo de chegar a um ponto em que eu não consiga separar as coisas mais. O que seria horrível, já que eventualmente um de nós sairia com o coração machucado dessa história.

E, nesse momento, meu celular vibra no bolso com uma mensagem de Callum, perguntando o que vou fazer mais tarde.

São aproximadamente sete da noite quando nós paramos em frente ao píer. O sol está quase se pondo e um punhado de amarelo e azul se funde no céu acima do mar. Callum está usando o boné vermelho carmesim, blusa de mangas longas da mesma cor e tem uma das mãos ao redor da minha cintura.

- Achei que tivesse dito que iríamos comer alguma coisa - comento com ele quando atravessamos a orla, caminhando diretamente para uma das bordas do píer.

- E nós vamos. - Assente com a cabeça, continuando a me guiar.

- Você não pode estar falando sério... - Eu encaro Callum pular dentro de um grande barco e me estender uma das mãos.

- Eu sei que você disse uma vez que jamais sairia em um encontro comigo, mas acho que talvez possa abrir uma exceção essa noite. - Ele sorri na minha direção timidamente e é impossível não fazer o mesmo quando os olhos azuis me encaram de forma tão profunda.

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