Capítulo 3 - Adoro finais felizes

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- Ok, agora você já sabe tudo. - Dediquei um breve olhar para ele, apreensivo. E, a julgar pela cara estranha dele, eu não estava tão certo assim de que ele sabia de tudo mesmo. Respirei fundo e tentei lhe passar confiança através de um sorriso singelo. - Pode começar, Kacchan. - Larguei o lápis sobre o livro de física aberto na página 137, me espreguicei em cima da cadeira de rodinhas, apoiei meu cotovelo sobre a escrivaninha e, por fim, esmaguei minha bochecha cheia de sardas contra a palma da mão.

Bocejei logo na hora que meus fios verdes caíram sobre meus olhos. Explicar era cansativo demais, minhas pálpebras vacilavam vez ou outra, mas eu ainda tentava fingir animação para apoiá-lo e fazê-lo continuar, afinal, eu me importava com seu desempenho escolar e suas notas, talvez até mais do que ele próprio. E eu nem gostava muito de física, só entendia da matéria porque era um requisito obrigatório para passar de ano. Tsc, chatice.

Queria que Katsuki me pedisse ajuda em filosofia, seria tão mais legal.

Ser ou não ser, eis a questão.

Falando no Katsuki, me concentrei em observá-lo, esperando ansiosamente que ele pegasse o bendito lápis e botasse em prática tudo o que lhe ensinei nos tediosos últimos quase quarenta minutos.

Porém, ele só ficou lá, fitando os exercícios em branco com as sobrancelhas franzidas e os lábios apertados numa linha reta, numa clara expressão de quem não tinha entendido porra nenhuma.

Aquilo me fez soltar um berro interno de frustração.

Suspirei pesarosamente, fechando os olhos por um breve momento.

Eu não estava surpreso, aquilo era típico dele. Eu só estava cansado, eu fazia o favor de lhe ajudar e ele não dava a mínima! Certo, não serei tão mau, ele até prestava atenção até um certo tempo, no entanto, depois, ao constatar que não conseguiria aprender aquilo nem se os deuses lhe ensinassem, ele tacava o dane-se total e já nem entendia se eu estava falando japonês ou uma língua alienígena – o próprio Bakugou já tinha me dito isso.

Eu já sabia a matéria, poderia resolver as questões até se as palavras estivessem embaralhadas. Poderia estar jogando Overwatch, assistindo o último episódio que lançou do anime que acompanho ou fazendo qualquer outra coisa, mas não, resolvi sacrificar meu domingo para ajudar meu namorado burro.

E bota burro nisso.

Tá, ele não é tão burro assim, ele até que é bem inteligente para determinadas coisas – tipo matemática, porra, o cretino é bom. Às vezes eu acho que ele só se faz de burro, sério. Qual é, em física tem cálculos que nem em matemática, por que as duas coisas parecem tão distintas dentro da cabeça dele?! Grr.

- Kacchan, o que eu te disse? Você não vai passar de ano desse jeito. - Repreendi, por mais que meu tom manso não pusesse muita força na mensagem que eu queria transmitir, não deixando muito claro que minha verdadeira vontade era de descê-lo na porrada.

Ele bufou, revirando os olhos.

- Cala a boca, Deku. - Rosnou. - Não fale comigo como se eu fosse uma criança, que merda. - Estalou a língua no céu da boca, rangendo os dentes e virando a cabeça na direção contrária da minha. Não pude conter uma risada baixa; Katsuki sempre foi tão infantil, seu orgulho não deixava que ninguém lhe dissesse o que fazer. Ele é do tipo que sabe o que é certo e às vezes faz o errado só para contrariar. - Virou minha mãe agora, maldito? - Ainda resmungava, bufando.

- Não quero ser sua mãe, deve dar muito trabalho. - Brinquei, recebendo seu olhar enraivecido de imediato, o que me fez cair na gargalhada. Logo me recompus, apesar de continuar com o rastro de um riso na minha cara. - Vai, Kacchan, faz logo. Podemos ver um filme quando você terminar. - Tentei barganhar.

Motivos para ser solteiroOnde histórias criam vida. Descubra agora