Capítulo 2 - Eu deveria ouvir mais a Uraraka

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Acho incrível que, quando ligo para a Ochako dizendo que tô doente, mil desculpas são inventadas para não ter que passar a tarde cuidando de um peso morto.

Agora, quando eu ligo e digo que reencontrei meu ex no supermercado, a campainha toca na hora.

É aí que você vê a verdadeira face das pessoas.

Tá tudo errado nessa porra.

- Eu quero morrer. - Foi a primeira coisa que eu disse ao girar a maçaneta e dar de cara com a cabeleira castanha da baixinha.

Ela riu e logo tampou a boca com uma de suas mãos finas, como se, assim, a risada fosse magicamente cessar.

Retardada maldita.

Dei uma risada forçada, em seguida revirando os olhos e bufando.

- Não é engraçado, porra.

Senti vontade de bater a porta na cara da desgraçada, porém, me controlei. Já parou para pensar na quantidade de merdas que faríamos se não tivéssemos autocontrole?

Costumo divagar sobre essas coisas. Desde o porquê de cadeira se chamar cadeira até a existência de vida em outros planetas.

Tudo piora mil vezes mais quando tô chapado.

Fico me perguntando se há dimensões paralelas e o que meu eu dessas outras dimensões estaria fazendo.

Torço para que a resposta seja transando pra caralho.

De qualquer forma, me pergunto o que aconteceria se fizéssemos a nossa verdadeira vontade, sabe? Sem ninguém para nos impedir.

Eu definitivamente já estaria preso.

Deixei a porta aberta e me virei, dando passos preguiçosos até me atirar de cabeça no sofá e começando a resmungar coisas que nem mesmo eu entendia.

- Eu quero morrer.

Eu havia perdido a conta de quantas vezes já repeti aquilo só naquela meia hora.

- Quanto drama, Deku. - Uraraka disse entre risos baixos, claramente tirando uma com a minha cara. Puta merda. - Não deve ter sido assim tão péssimo, não exagere. - É, ela realmente estava se divertindo muito com aquela situação. Pude escutar seus passos ficando mais próximos de mim e eu só queria sumir.

Ah, é. Eu já contei do Katsuki para a Ochako algumas vezes – óbvio que foram pouquíssimas vezes, tão poucas que quase não existiram – e, numa dessas conversas desagradáveis – não há como algo ser agradável quando o nome de Bakugou está incluso -, acabei comentando que ele costumava me chamar de Deku.

A retardada, por algum motivo retardado, simplesmente pegou uma tara por esse apelido fedido e agora não me chama mais de outra coisa.

Agora eu já até me acostumei com outra pessoa que não seja o Katsuki me chamando assim, contudo, confesso que foi um processo árduo até eu finalmente aceitar que ela não pararia.

Me recordava da voz grossa, rouca e rude de Bakugou proferindo este maldito apelido, enquanto Uraraka pronunciava o mesmo apelido de um jeito completamente doce.

Tinha sido uma dor de cabeça do cacete. Simplesmente porque a maldita imagem do meu ex-namorado sempre aparecia na minha cabeça quando ela me chamava de Deku.

E eu sentia vontade de tacar uma privada na cara dela e dar descarga.

Mas agora eu tô só foda-se mesmo.

- Foi. Foi péssimo. Mais do que péssimo, foi terrivelmente péssimo. - Minha voz desolada e carregada de melancolia foi abafada pela almofada, enquanto eu ouvia mais risos irritantes ao fundo. Desgraçada, sei que ela adora ver o circo pegar fogo. - Ele tá mais gostoso do que antes, Uraraka. Eu quero morrer. - E choramingava como uma criança, chegando até a espernear e me debater contra o sofá. - Minha vida é uma droga, porra.

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