67. Feysand and Nyx - Come little child...

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Nada daquilo parecia real. Era como uma miragem.
O quarto estava em silêncio. O mais puro silêncio. Aquele que era repleto de medo e angústia...
Havia também o cheiro de sangue.
Suor.
Fogo criptante na lareira e mãos de Feyre.

"Por que.... Porque ele não está chorando?"
A voz rouca da Grã-Senhora soou.
Ela apertava as mãos e mordia os lábios.
O parto fora prematuro.
Ela insistira, querendo uma chance do filho viver...

Rhysand caiu. Como se as pernas não o aguentavam mais. O peito do homem subia e descia, uma crise de pânico evidente. Ele não conseguia chorar, apenas segurar o chão e o apertar. As sombras o dominavam, mostrando a mágoa.

"Porque ele não está chorando?!"
Feyre gritou, olhando para todos na sala.
Amren chorava. Amren... Chorava e tentava fugir dali.
Cassian não fazia mais piadas.
Azriel não estava envolto das sombras.
Morrigan não sorria.
Elain e Nestha... Não conseguiam respirar.
"Porque?"
A Archeron mais nova começou a balbucear, tentando se sentar para olhar a Madja.
"Minha senhora..."
A curandeira não conseguia falar. E apenas olhava para o pequeno corpo ensanguentado nas mãos.

Feyre gritou e gritou... E gritou quando aquilo observou.
O relógio soou com um badalar enquanto ela gritava.
Olhou para Rhysand em desespero.
Negando com a cabeça.
Tremia em desespero e repetia a frase:
"É mentira! Não! Por favor! Não não não!"

Mesmo com as incríveis dores pós parto, além da forma que foi forçada a ter a criança, se esticou mais próxima para poder pega-lo.
"Diga que é mentira..."
Implorou a Madja quando tirou a criança nas mãos da mesma.

Os dentes batiam, as mãos tremiam quando tocou com delicadeza a cabeça do filho.

Nyx estava repartido.
As asas estraçalhadas.
O braço estava sendo segurado pelas veias.
Ele não chorava.
Não estava remexendo os dedinhos.
Não estava vivo.

"Me perdoe..."
Madja repetia.
Se afastou da cama, caindo ao chão em prantos.
Feyre não falava.
Não quando se recostou na cama e abraçou o pequeno pacote que levou consigo durante alguns meses.

Poucos meses.
E não chegará ao fim.
Estava perto.
Mas não chegará ao fim.
Ela havia matado o próprio bebê. Pelo menos, achava isso.
Ele deveria estar dentro do ventre da mesma. Onde seria protegido e guardado, até estar pronto para sair.
Porém, ela não cunpriu com a natureza. Ou a Mãe não cumprirá com ela.

Não tinha tamanho o suficiente para parir.
Não havia espaço o suficiente para Nyx sair sem ser morto.
Estraçalhado pelo corpo da pessoa que o gerou.
Morto pela própria mãe.

"Eu matei meu filho."
Impulsionou o corpo para frente levemente.
"Eu matei meu filho."
Levou o corpo para trás.
"Eu matei meu filho..."
Falou baixo, repetindo isso. Um movimento de ninar.
"Eu matei nosso filho..."
Ela se virou para Rhysand, que agora vinha para o lado da mesma, e a abraçava.
"Me perdoe..."
Ele preferia que ela gritasse. Que esperniasse. O xingasse e batesse em todos. Que explodisse ao invés de ficar assim, se culpando.
Mas também, sabia como a reconfortar.

Rhys não conseguia respirar.
Não vendo o filho sem asas.
Nem o vendo quase sem braço.
Ele queria ouvir o choro.
Queria ver os olhos do seu pequeno.
Queria poder o sentir apertando o dedo do pai.

"Não.."
Ele puxou Feyre para si. Mordendo o lábio e beijando o topo da cabeça da amada. Se recusando a olhar para a pequena cria e olhando para os irmãos.
"Você não o matou.."
Sussurrou, para Feyre. Para si mesmo.
"Nenhum de nós fez isso."
Acariciou a cabeça, tocando os fios ondulados da mulher.
"Você o amava. Eu o amava. Nós o amávamos mais do que tudo. Não machucamos quem amamos. Você não o matou. Nunca o mataria."
Segurou o rosto dela.
A obrigando a olhar para o mesmo.
"Nós nunca faríamos isso."
Beijou rapidamente os lábios.

O fogo aumentou.
Assim como o vento.
A água das bacias e garrafas tremiam.
Até o solo particularmente estremecia.

"Não merecemos isso..."
Feyre disse, baixinho.
Rhysand concordou com a cabeça.
Tudo aquilo ficou mais intenso.
Cassian e Azriel saíram para avaliar.
Amren tinha o Livro dos Sopros na mão.
Devia ter algo.
Para que conseguisse reverter isso.
Para que eles conseguissem ser feliz.
Ela tentaria de tudo.

Morrigan pegou o pequeno sobrinho que seria seu, com permissão de Feyre.
E o curou o suficiente para que não ficasse desmontado.
O banhou com cuidado. O vestiu. E enrolou no lençol.
Mas ele ainda não chorava.
Não se mexia.
E agora, não tinha o rosado ou o quente da vida, apenas o frio e cinza da morte.

Nestha e Elain odiaram o vermelho. E o limparam.
Colocando os panos para queimar.
Limpando o chão.
Apenas sumindo com o sangrento.
Até mesmo Mor fora trocar de roupa porque odiara vestir o vermelho ali.

Mesmo com essas tarefas.
A terra.
O fogo.
A água.
O ar.
Nada disso se acalmou.

"Não merecíamos isso!"
Feyre gritou.
Olhando para o neném nos braços do marido.
Tentará se levantar.
Caindo no chão de fraqueza.
Ainda sangrava. Nenhuma limpeza ajudava quando tinha o tecido da virilha rasgado por uma criança morta.

Ela socou o chão.
Gritou.
Com ódio.
Com tristeza.
Angústia.
Ansiedade.
Todos os sentimentos sufocantes possíveis.

Socou e socou novamente.
Odiando o mundo.
Odiando o Caldeirão.
A Mãe.
A si.
A qualquer deus.

"Eu faço um trato..."
Sussurrou, tão baixo que nenhum feerico conseguiria ouvir.
As janelas batiam.
O fogo aumentou ainda mais.
A garrafa de água explodiu.
O vidro voou.

Um animal.
Uma besta.
No interior de Feyre...
Se libertou.
E o rosnado de odio.
Misturado com o urro de tristeza da perda de uma mãe por seu filho.

Ela estava pronta para atacar.

"Eu ofereço um trato! Veja! Me veja! Me veja, Mãe!"
Agora gritava. Ainda irritada.
Apenas querendo o filho de volta.

Amren parou o que estava fazendo, avançando a Feyre.
"Cale a boca, menina!"
A segurou, olhando no fundo dos olhos da mesma.
"Ele morreu! Morreu! Não a nada que possamos fazer!"
Gritou.
Feyre gritou de volta com a verdade recaindo.
Não havia mais raiva.
E ela foi abraçada pelo Monstro.
"Não a nada que eu possa fazer... Por favor. Me perdoe.."
Amren pediu. A abraçando com força.
Acariciando as costas da outra.

Feyre gritava ainda.
A dor da perda.
A dor do parto.
A dor de tudo isso a deixava instável.

A fazia ouvir as garras da própria besta arrastando no chão.
Mas ela amava aquele bicho dentro de si, nunca o deixaria sair, mas amava.
Conseguiria lidar.
Conseguiria sobreviver.

Apenas com o filho. Mas conseguiria.

Fechou os olhos. E implorou.
Por atenção.
Chamou por qualquer ritual existente.
A respiração era descontrolada, por causa dos gritos.
Sentiu o ar ficar tranquilo.
Talvez fosse a escuridão de Rhysand.

Rhys não sabia o que fazer.
Estava igualmente devastado.
Segurava o que criou.
Apertando contra si.
Também estava longe de todos.
No mesmo estado de Feyre.

Misturando a negação do luto com a barganha.

"Nós fazemos um acordo..."
Falou, olhando para o filho.
Falou em nome de Feyre.
"O traga de volta, Mãe..."

O mundo parou.
Tudo se calou.
O choro cessou.
O silêncio era a esperança.

Mas nada adiantou.
Nyx não voltaria. Nem a Mãe o devolveria.
Nunca. Nunca...

◕݂ࣨ  𝐃𝐄𝐒𝐈𝐑𝐄 𝐎𝐅 𝐓𝐇𝐄 𝐒𝐓𝐀𝐑𝐒.Onde histórias criam vida. Descubra agora