1. Feysand - Dance to ward off the pain

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  Os pensamentos de Feyre vagavam pelo seu próprio ateliê. A cada pincelada, respiração e troca de cores, um peso se aumentava em seu peito. Nunca soubera que feito era aquele, mas este sempre voltava em situações apertadas como a atual. Isso sempre se dava após uma discussão com sua irmã, Nestha. Neste ponto, não sabia mais o que pintava e o que estava fazendo, apenas sentia a culpa dominar seu corpo e algumas lágrimas caírem de seus olhos azuis acinzentados, depois de tanto segurá-las.

 Se perguntava brevemente sobre tudo.
Por que Nestha sempre a colocava como errada?
A Archeron mais nova sempre tentava de tudo para ajudar e isso a matava aos poucos, a preocupação e a autocrítica em si por não conseguir cuidar de sua mais velha.
O que ela tanto fazia de errado? Será que faz algo de errado realmente?

  Parou tudo o que estava fazendo quando ouviu uma batida na porta. Cheirou, abrindo um mínimo sorriso ao reconhecer quem era.
O cheiro de mar e algo cítrico por baixo invadiu suas narinas, tranquilizando seu coração. Olhou de relance para a pintura. Apenas figuras confusas estavam representadas ali, tal como sua mente. Verificou-se de seu escudo mental, não gostaria de deixar o parceiro preocupado agora.

  Deixou novamente de estar alheia quando sentiu os braços quentes a envolvendo, fechou os olhos, relaxando os músculos contra ele. Abrindo outro sorriso. Colocando os pincéis em seu devido local, se virou para ter aqueles olhos violetas focados nos seus.
— Então era aqui que minha parceira estava se escondendo? - Murmurou, abrindo um sorriso felino e se aproximando dos lábios dela. Tomando-os em um beijo calmo. Descendo para o pescoço e soltando a respiração quente ali.
— Oh, estou aonde você me deixou na semana passada. - Brincou, o puxando para um abraço, encostando a cabeça no coração do mesmo, apenas para se certificar de que tudo era real. Mesmo tantas semanas depois, ainda sonhava com tudo aquilo. A falta da respiração de Rhysand, seu coração tão silencioso, o brilho dos olhos desaparecidos e claro, os próprios gritos de desespero.

  Rhys notou o que ela fazia e afastou, para poder observa-la melhor. Não era difícil notar que ela estava mal. Feyre deixava obvio em seu próprio rosto as emoções. Perto dele, não conseguia esconder.
— Eu estou aqui, Feyre. Não irei lhe deixar. Nunca. Já prometi isso, querida...- Um beijo no topo da testa foi deixado. — Agora, o que acha de me dizer o que tanto te aflinge?
  A risada dele ecoou quando viu a indignação no rosto da outra. A mulher se perguntava como pode notar tão rápido. O peso no coração de Feyre diminuiu um pouco ao poder ouvir novamente o som daquela gargalhada que tanto amava, mas logo retornou quando abaixou os escudos mentais e o deixou passar.
  Seus olhos se encheram de lágrimas quando tudo retornou. Rhys sabia como cada um desses momentos a destruía e sempre tentava evitar. Infelizmente, ele não estava em Velaris durante este último. Feyre desviou o olhar, fazendo com que o coração de seu companheiro se apertasse, ele odiava vê-la tão vulnerável. E o motivo sempre era o mesmo.

  Com dois dedos firmes em seu queixo, trouxe o mirar novamente para si. Ela achava que talvez fosse ser julgada, todavia, ele sabia como ela se sentia. O surgimento de um sorriso tranquilizante no rosto, fez aquelas lágrimas presas caírem. Rhysand desceu as mãos para a cintura de sua amada, puxando-a levemente para se levantar. Se aproximou e a tomou em seus braços, fazendo o máximo para que tirasse o peso do peito.
— Eu me sinto tão pesada de novo. - Suas pernas tremeram quando a voz falhada de sua parceira dançou no ateliê. Apertou um pouco mais contra seu peito. Não falou nada. Deixando que o silêncio reconfortante ficasse em meio a sua escuridão tranquilizadora. Permitindo que ela chorasse em si, enquanto lhe acariciava os sedosos cabelos.

  Feyre estava se destruindo novamente, por remorso próprio, por dores passadas e lembranças amargas. Uma lembrança se chocou contra Rhys, provavelmente enviado sem querer. Aquele que ela estava escolhida na cama em sua cela Sob a Montanha. O corpo tão pequeno e frágil, tipicamente humano, como seu antigo antes de ser Feita. O olho que usava, a observando chorar, com tristeza e pesar por não poder fazer nada. Então...a musica que Rhysand levou de casa para ela. Vendo ela agora mudar, as lágrimas de felicidade invadindo seu corpo diante a bela melodia das composições da Corte dos Sonhos...
  Isso o deu uma ideia. Rhys afastou Feyre, apenas poucos centímetros, beijando suas lágrimas, acariciando suas bochechas e por fim, colocando a música para rodar o salão. O fino do violino, o tocar mais grave do violão e o vibrar de outros instrumentos envolveram os dois.
— O que...- Parou relaxando levemente e sendo guiada para o centro do ateliê. Suas pinturas agora, estavam no canto das paredes. Tintas devidamente guardadas, pincéis limpos e secos dentro das gavetas, bancos e armações na pequena despensa. — está fazendo, Rhysand? - A curiosidade que ele tanto amava despertou.
— Vamos dançar, Feyre querida. Dançar para afastar a dor. - Com uma mão, envolveu os dedos firmes na cintura da feerica, puxando-a para mais perto. A outra, se passou por seu braço direito, tocando sua pele macia e chegando a mão, onde entrelaçou os dedos e apertou levemente.
— Irei pisar em seus pés..- Foi-se calada antes de terminar, com um beijo mais intenso e ainda mais apaixonante. Rhysand moveu os dois junto com o ritmo, deixando pequenos selares pelo seu pescoço, a ouvindo arfar. Mas ele não queria a tomar naquele sentido, queria acalmar sua amada, ter um momento delicado que ela precisava.

  A música se agitou e com isso, eles também. Feyre girava para fora dos braços de seu parceiro, retornando logo depois, rindo um pouco quando tropeçava as vezes. Rhysand a fazia se inclinar para trás, como uma donzela indefesa que quase cairá, sendo resgatada pelo incrível herói. A pegava no ar e girava, tomando seus lábios, fazendo cócegas na mesma quando distraída. As melodias iam mudando, nas lentas, eles se juntavam, olhando fixo um para o outro, guardando cada detalhe do rosto um do outro, memorizando e eternizando esse momento de calma. Durante as agitadas, se animavam, giravam um contra o outro. Pulavam, gritavam e cantavam outros aleatórias, não se importava se estivessem testemunhas sobre isso. Apenas riram e relaxaram, deixando a dor sumir em meio a uma bela composição.

  O sol estava se pondo quando pararam, os pés já doíam, as bochechas também, de tanto sorrir. Em poucos instantes, a noite iria pairar sobre o local, então se arrumaram. Saindo de mais dadas, conversando com o peito mais leve dessa vez. Iriam ter sua noite pacífica, juntos, abraçados e descansando em sua cama após tanta dança em uma só tarde. Não se importariam com as contas para pagar hoje. Apenas com a companhia um do outro. Iriam compensar a distância dessa semana que se passou. Precisavam do toque um do outro, de qualquer jeito. Deitariam ao final, inspirando o cheiro de suor um do outro, discutiriam sobre planos futuros e adormeceriam. A dança e a música realmente acalma a dor quando se precisa.

◕݂ࣨ  𝐃𝐄𝐒𝐈𝐑𝐄 𝐎𝐅 𝐓𝐇𝐄 𝐒𝐓𝐀𝐑𝐒.Onde histórias criam vida. Descubra agora