Capítulo 21 - FLUTUA

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J: Eu não fui sempre tão segura quanto eu sou hoje, Val. Na verdade eu demorei bastante pra alcançar algum tipo de segurança... Tua família é simplesmente incrível e me tratou com tanto amor e tanto carinho, que... não sei... só me recordou de um tempo da minha vida que eu achei que já tinha esquecido totalmente.

V: Mas tu sempre me disse que tua família sempre foi super de boa. Que sempre te apoiaram. Não tô entendendo...

J: Sim. E é verdade. Nunca tive problema com isso.

V: Então...?

J: É que... a família da Isa... - Juliana suspirou mais uma vez como se naquelas poucas palavras toda uma história do seu passado viesse à tona.

V: E... Isa seria...? - Valentina não conseguiu esconder o tom surpreso na fala, ao se dar conta pela primeira vez de que estava há tão pouco tempo com Juliana, que nunca parou para pensar em quantas coisas ainda não sabia sobre sua vida.

J: Hm... Meu primeiro grande amor, eu acho. - Juliana respondeu naturalmente como se não significasse grande coisa, apesar de perceber o olhar surpreso de Val.

V: Ah... - Valentina deixou ainda mais evidente a surpresa e o desconforto que aquela descoberta tinha lhe causado, mas queria ouvir toda história com atenção e sentia que Juliana precisava contá-la.

J: A Isabela era uma grande amiga. A gente vivia muito juntas. Eu, ela e a Fernanda também. E... bom... ela tinha virado praticamente uma irmã pra mim. Eu frequentava muito a casa dela, e ela a minha. Os pais dela me consideravam quase como uma segunda filha. E eles também eram uma segunda família pra mim. - Juliana começou contando tudo, ainda um pouco desconfortável, enquanto mexia com um punhado de areia as mãos, olhando para o mar.

V: Hm... até virar paixão...?

Juliana se virou e continuou a falar naturalmente olhando diretamente para Valentina, agora um pouco mais confortável.

J: É... mais ou menos... Não dá pra dizer exatamente quando virou algo. A gente só... se gostava, tanto, e foi acontecendo, e era... maravilhoso. Só que a gente tinha medo de como os outros iam reagir, claro, então a gente achou que era melhor não contar nada. Principalmente pros pais dela. E aí a gente foi levando por muito tempo, e era meio cansativo às vezes, mas era incrível ao mesmo tempo. E tava tudo ok, até o dia que eles descobriram...

V: E não reagiram muito bem né? - Valentina perguntou inclinando levemente a cabeça para o lado.

J: Sabe que... eu sempre tive muito orgulho por nunca ter tido problema com minha família, sabe? Eu tinha minhas questões, minhas inseguranças, mas foi sempre de mim comigo mesma. E eu nunca consegui imaginar como era esse sentimento de rejeição que tanta gente passa. Até esse dia... Porque eles eram como uma segunda família pra mim. Eu era como uma segunda filha pra eles. E... foi surreal como todo o amor que eles sentiam por mim se converteu num ódio de uma hora pra outra. - continuou Juliana com os olhos um pouco marejados.

V: Foi tão terrível assim? - Valentina perguntou franzindo a testa, angustiada por enxergar uma fragilidade em Juliana que não conhecia ainda.

J: Foi um dos piores dias da minha vida. Justamente quando eu tava tranquila comigo mesma, eu tava feliz, eu tava segura, e de repente eles fizeram eu me sentir a pior pessoa do mundo, ao mesmo tempo em que doía porque eles também significavam tanto pra mim. E numa única noite eu perdi todo o carinho deles, perdi a minha amiga, meu grande amor na época, e perdi a segurança que eu tinha demorado tanto tempo pra encontrar, sabe?

V: Mas... ficou por isso mesmo? Vocês nem tentaram conversar com eles?

J: A gente tentou, mas era em vão.

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