Capítulo 2 - O CONFORTO DO TEU OLHAR

660 64 13
                                    

A competição foi um sucesso. Miguel tinha mesmo um talento nato, não recebia tais elogios só por educação. O garoto conseguia competir em alto nível e se divertir com a mesma intensidade, amava estar na água, e não teve muita dificuldade de chegar com folga na primeira colocação, levantando a torcida de pais e acompanhantes que estavam lá para vibrar com a vitória de todas as crianças.

Juliana, claro, comemorou com maior euforia a conquista do pequeno, e correu para ser a primeira a abraçá-lo.

M: Madrinha!! A senhora viu que incrível?! - saltou no pescoço de Juliana para abraçá-la

J: Claro que sim! Parecia até um peixe! - correspondeu o abraço forte do menino com um largo sorriso.

Logo em seguida, sem se dar conta, ela estava olhando ao redor, como quem esperava encontrar com alguém naquele momento. Inconscientemente se viu procurando esbarrar nos mesmo olhos azuis que lhe transmitiram tanta energia mais cedo, e que só agora tinha percebido que não sabia nem o nome. Sem sucesso. Teria sido imaginação dela? Tinha praticamente virado a noite acordada, depois de algumas tantas taças de vinho. Aquele breve diálogo de horas antes pode ter sido apenas fruto do seu cansaço.

M: Vou falar com os meninos! - avisou enquanto já ia na direção dos colegas que ainda iam competir.

J: Vá querido, vou voltar pra arquibancada.

Embora não fosse o lugar mais confortável do mundo, Juliana se acomodou num cantinho da arquibancada em que podia se encostar na parede, e sem fazer muito esforço para lutar contra o cansaço, adormeceu. Seu corpo pediu tanto por algumas horas de relaxamento que foi incapaz de acordar com os gritos das torcidas de tantas outras provas que ocorreram ao longo daquela manhã. Aparentemente a responsabilidade e a ansiedade de ver o afilhado competindo foi a única coisa que a manteve acordada por um tempo.

Caiu num sono profundo de alguns minutos - que pareceram horas - tão tranquilo que não sobrou espaço para nenhum dos pesadelos que comumente lhe atormentavam nas últimas noites.

Não ouviu as comemorações nas arquibancadas, muito menos a saída dos pais e responsáveis com seus pequenos atletas, pouco a pouco esvaziando o centro aquático. Só despertou quando sentiu mais uma vez alguém tocar seu ombro.

V: Ih Miguel... parece que alguém tá querendo ficar pra competição da noite - disse Valentina sorrindo enquanto segurava o futuro aluno com uma mão e tocava no ombro de Juliana com a outra.

J: Ai meu Deus! Cadê todo mundo? Minha nossa, eu caí no sono, me desculpem. - levantou agitada olhando em volta e percebendo que restavam praticamente só eles três por ali.

Após um breve silêncio os três caíram na risada, eliminando um pouco o constrangimento que Juliana sentia depois do cochilo público e inevitável.

M: Madrinha Juh, o tio Carlos quer levar todo mundo pra tomar sorvete e comemorar, eu posso ir também?

J: Hum... é... sim. Claro. Onde eles estão? - questionou Juliana ainda um pouco sonolenta e de certa forma surpresa de como aquele lugar ficou vazio tão rápido - Vamos logo querido, não quero que você se atrase de novo.

V: Vamos todos pra Lagoa, alguns já foram na frente, mas ainda tem muita gente aguardando lá fora. Você parece muito cansada, se quiser eu posso ficar de olho no Miguel e ligo pra você buscá-lo no final, o que acha? - sugeriu Valentina sorrindo gentilmente, como na verdade parecia ser a única forma com que conseguia se expressar.

J: Ah, não precisa. Eu agradeço, mas... esse longo cochilo meio que renovou minhas energias - respondeu tentando disfarçar o quanto ainda estava envergonhada.

É mais que um poemaOnde histórias criam vida. Descubra agora