Capítulo 5 - LUA NOVA

505 53 26
                                    

Já estavam na terceira música e elas simplesmente não conseguiam se largar. Dançavam na varanda como se não houvesse mais nada em volta. Nem o som alto do bar que ficava em frente ao prédio, com as pessoas conversando e se divertindo, ou até mesmo a festa que o vizinho do lado parecia estar dando naquele momento, eram capazes de distraí-las ou desconectá-las. Dançavam as suas músicas, no seu ritmo, naquele universo particular.

Começou a tocar Hard Place (H.E.R), quando Juliana não estava mais conseguindo disfarçar o nervosismo que a proximidade de Valentina lhe causava.

As duas sabiam o que estavam sentindo. Podiam não saber exatamente nomear aqueles sentimentos, mas agora sabiam exatamente o queriam. Cada vez que a mão de Valentina deslizava suavemente pela cintura de Juliana, e seus rostos ficavam cada vez mais colados, parecia praticamente impossível esconder as faíscas que saíam daquele encontro. Juliana estava definitivamente atraída por aquela mulher que segurava sua cintura de uma forma tão sutil e forte ao mesmo tempo, e Valentina estava completamente entregue à tudo que Juliana lhe fazia sentir.

Juliana já tinha sentido o impacto do brilho espetacular daqueles olhos azuis, da energia singular daquele sorriso, já tinha até sentido arrepios com o toque sutil daquela pele, e, naquele momento, o que mais queria era sentir o sabor daqueles lábios.

Valentina já tinha se encantado completamente por todas as facetas daquela mulher, que parecia tão frágil e insegura, mas que seus olhos transmitiam tanta força e magnitude, como a mulher que cantava divinamente sem medo horas atrás. Ela queria descobrir qual das facetas de Juliana ela encontraria naqueles lábios tão perfeitamente desenhados.

Seus rostos foram se aproximando cada vez mais, e de frente uma pra outra, suas respirações se misturaram numa só. Elas sabiam o que queriam, mas ainda estavam receosas de que não fosse recíproco, e, antes que seus lábios pudessem ficar perto demais a ponto de não ser mais possível evitar que se encostassem, Juliana se afastou e interrompeu toda aquela tensão que pairava no ar.

J: Eu...eu vou na cozinha pegar mais vinho. - disse saindo da varanda antes mesmo de terminar a frase.

Enquanto vasculhava a cozinha à procura do vinho, os pensamentos de Juliana estavam paralisados em Valentina. "Como é que ela consegue mexer tanto assim comigo? Como é que eu posso tá sentindo tudo isso se eu acabei de conhecer essa mulher? Só pode ser carência! É isso. Eu tô fragilizada, tem um milhão de coisas acontecendo na minha vida... Ela tá sendo super gentil comigo, e é isso. Qualquer pessoa que tivesse sido gentil comigo hoje me atrairia né? Ela só tá sendo gentil. Eu tô confundindo as coisas... e isso pode dar em merda... Ela parece ser assim com todo mundo né? É só o jeito dela, aquele sorriso... Ai... aquele sorriso..." - suspirou Juliana em meio aos agitados pensamentos que lhe consumiam naquele momento.

Valentina se manteve na varanda, com os pensamentos igualmente agitados. "Valentina, te orienta mulher...tu tá misturando as coisas. Tá na cara que tu tá enxergando coisa demais onde não tem...ela só tava precisando de algum suporte agora. É claro que qualquer pessoa que oferecesse alguma ajuda ela ia aceitar de bom grado. Ela tá tão sozinha... só queria uma companhia. Não posso misturar as coisas. Isso pode dar ruim... mas ela é tão incrível, meu Deus, ela transborda uma força... eu não quero estragar nada, eu... só quero ela na minha vida, ouvir ela cantar mais vezes, com aquela voz...ai... aquela voz"- suspirou Valentina na varanda, fechando os olhos, enquanto tentava reconstituir na sua mente cada pedacinho da cena de Juliana cantando na cozinha

J: Não tinha mais vinho. - Juliana chegou na varanda interrompendo os pensamentos de Valentina, e sem saber se realmente não tinha mais vinho ou se não tinha achado porque sua cabeça estava totalmente em outro lugar.

É mais que um poemaOnde histórias criam vida. Descubra agora