A volta

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3ª feira, 09 de março.

E aí, Comp?!!! Que saudade! Minha semana de castigo demorou um montaço pra passar. Maior falta! Preciso contar logo tudo!

Então eu voltei pra escola, entreguei o papel da suspensão assinado pra esclero da diretora e fui pra sala de aula.

Esperava ver um Sasuke menos tímido, uma Sakurola mais Sakura, um tudo todo diferente, porque achava que a vida tava melhor e pronto, mais nada. Mas nada. A Sakura continuou a maior friaça; o Sasuke ficou lá no canto dele; a Ino veio querer ficar mesmo eu não querendo... E o Kimimaro-comedor-de-bolinho-de-papel me olhando torto. Eu?... Fui pro meu canto, assistir às aulas, porque não queria encrenca ou outra suspensão, né? Tudo um saco!

Mas no final das aulas fui até a Sakura e falei de uma vez:

— Pô, Saky, não tô te sacando nada! Cê não me ligou? A gente não tava bem de novo?

— Naruto, eu disse que tava preocupada com a sua suspensão e que iria pro teatro pra ver o Sasuke com você, mas não que a gente tava ou tá bem.

— Ah, é?... Pô... Falô, então... Desculpa aí. Vou ficar na minha... - Virei as costas e fui saindo fora. Puto!

— Peraí, Naruto, eu não quis...

Eu nem ouvi, saí. Só "quis sim" na minha cabeça. Só.

Foi aí que vi que o Sasuke não tava indo embora. Que tinha ficado no cantinho mais escondido da cantina: tirou um saquinho com lanche da mochila, depois uma garrafa com suco e começou a comer e a beber. Logo que acabou, como se o tempo tivesse sido cronometrado, alguns grandalhões do Ensino Médio chegaram e cumprimentaram ele com apertos de mão, abraços, porradas de brincadeira no braço... As minas com beijo no rosto, beliscão na bochecha vermelhinha...

Quer saber?... Não gostei. Não gostei mesmo.

Então entraram na sala do teatro e fecharam a porta. Eu?... Fui à biblioteca e fiquei lendo sem ler gibis do Homem-Aranha até que resolvi ir pra casa.

Quando saí da escola, dei de cara com o Kimimaro e mais seis de seus camaradas, todos se dizendo skatistas como ele, que, quando me viram, foram logo largando seus shapes e vindo pra cima de mim. Acho que o cagão do Kimimaro, que nunca teria coragem de me pegar sozinho, resolveu trazer os amiguinhos pra ajudar ele a tirar a forra da bolinha-de-papel-malpassada.

— Qualé! Vamos resolver esta parada na conversa, Kimi... – Eu disse, tentando pelo menos atrasar a minha surra; já sabendo que a resposta não viria por palavras e, claro, mais que já me preparando pra correr. Mas, nisso, vi o Sasuke saindo: notando o que tava acontecendo, nem teve dúvida, correu e correu que só. Vazou de novo pra dentro da escola.

— Aí, Kurama, hehe, cê olhô pro Morfa com uma cara de desespero... Cê num achô que ele vinha te ajudá, né?

— Fica esperto que eu nunca fui de me desesperar, Kimi, cê é que é amarelão de nascimento! Briga que nem homem, meu, vem sozinho! – E fui me afastando, buscando uma brecha pra zarpar, mas acabando por me colocar ainda mais acuado contra o muro. Encurralado.

— Não, Kurama, meu negócio é trabalho em equipe, mora? – E vieram todos pra cima, me cercando... Cara, eu empedrei! Uns dois daqueles cabeçudos eu até enfrentava, mas sete?! Eu nem sou bom nisso, véio, mas comecei a rezar, cê acredita? Encarando os covardões, dando uma de durão, e rezando.

Foi aí que o Sasuke reapereceu, e agora com dois carinhas do Ensino Médio que davam quase três de nós em altura e largura. Meu, eles nem precisaram dizer nada, a turma do Kimimalino se mandou! Amarelos que só. E, mais um pouco, ²⁴deixavam até os skates!²⁴

Sakura: Bem-feito pra eles! Nossa, Naruto, quase, hem?... Puxa, que covarde que é o Kimi! Ai, que ódio, viu!

— Tudo bem aí, carinha? Eles te machucaram? – Falou um dos grandões, que na escola todos chamam de Pequeno.

— Tudo, tudo legal. Valeu aí, meu, brigadão mesmo. Fico devendo essa. Se vocês não tivessem chegado, eu tava frito, ia virar pista pros skatistas passarem por cima.

— Hehe! Tava mesmo, mano! Bando de cagões, ter que juntar mais de meia dúzia pra bater em um só. Vontade de descer a mão nas orelhas deles e depois pendurar tudo pelado, só de capacete, e de cabeça pra baixo, naquela árvore mais na vista ali, e depois chamar as minas pra rir e trazer meu pitbull pra mijar nos skates deles. – Disse o outro grandão que quando começou a falar não parava mais... – É, véi, cê teve sorte. E cê não tem que agradecer a gente, não. Agradece o nosso Puck aqui, que quando viu você na lama foi correndo pedir ajuda.

— Pô, brigado, Sasuke. – Eu agradeci, meio sem graça de tudo. – E me desculpa, quando eu te vi correndo, achei que cê tinha amarelado. Cê é um amigão, cara.

As bochechas do Sasu ficaram mais vermelhas que tomates, ele limpou a garganta pra poder falar. O cara estava uma pilha de nervos. Eu não tava muito diferente...

— Não precisa agradecer, não... Tenho certeza que cê faria o mesmo por mim.

— Tem?... É... Claro. Valeu.

Foi estranho. A gente ficou se encarando, e eu senti umas coisas na boca do estômago, só podia ser nervosismo. Mas por quê? Talvez porque eu tava perto demais do Sasuke. Se os outros caras não tivessem se intrometido, eu teria o beijado. Acho.

Os carões, legais que só, ainda perguntaram se eu não queria que eles fossem comigo até em casa: "Como guarda-costas, morô!".

Eu disse que não, não precisava, obrigado. Então disseram que eu podia ficar tranquilo que naquele dia mesmo iam espalhar que "quem é amigo do Puck é também amigo nosso". Eu agradeci de novo. E já tava tranquilo mesmo, afinal, quem ia arriscar?!

"Que papéis será que esses dois farão na peça?" – Pensava, enquanto ia pra casa.

Essa Tal TimidezOnde histórias criam vida. Descubra agora