Call 666 • Billie Eilish

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— Está pronta? — Finneas adentra o meu quarto, que, apesar de não ter escurecido estava com as janelas e persianas fechadas sendo a única fonte de iluminação, ali dentro, do abajur.

— Não vou ir. — Nego após pausar um vídeo na For You do meu TikTok e  encará-lo.

— Ah qual é Billie! Você sempre amou o natal. — Diz tentando me convencer. — Além do mais Claudia vai estar lá, você e ela se dão bem, não vai ser tão ruim. — Continua.

— Finn, eu nunca gostei de fato do natal gostava era dos presentes, não sou mais criança e isso não faz a menor diferença agora. E apesar dos apesares, natal é união ou pelo menos deveria ser. A nossa família está em crise não tem clima algum 'pra mim estar lá, e, eu realmente não quero ficar mais chateada. Manda um beijo 'pra Claudia, se divirtam. — Explico sem vontade.

Finneas suspira frustrado e encara o chão por alguns instantes.

— Tudo bem então, se precisar de algo é só mandar mensagem. — Se despede e manda um beijo no ar, sorrio fingindo o pegar e levar ao coração. — Te amo. — Sussurra antes de fechar a porta não me dando tempo de responder.

Minimizo o TikTok e abro meu aplicativo de mensagens envio um "eu te amo" abreviado junto à um emoji de coração para o ruivo antes de fechar o app e retornar ao anterior.

Tinham se passado boas semanas, talvez quase três meses, estava em uma rotina chata de ir para faculdade de manhã e voltar ao final do dia. Não via muito Charlotte pelos corredores, ela estava lá pois a via distante, raramente, fazendo o percurso natural de suas aulas. Tentava fazer um caminho diferente do dela quando não dava apenas passava ao longe, não nos falamos mais depois daquele dia e acredito que não nos falaríamos.

Ou sim, eu não sei, faz pouco tempo. Perdão é uma coisa que não passa pela minha cabeça, apesar de não passar 100% do meu tempo pensando sobre o que aconteceu e sim sentindo falta dela. Sentia saudades de sua companhia e tudo que a mesma trazia mas não tinha nada que pudesse fazer.

Estava focada na faculdade, nunca tirei notas ruins, sempre fui mediana e estava conseguindo subir essas notas ainda mais. Isso me fazia ter noites de sono mais tranquilas e longas, estava gostando dessa sensação e não queria abrir mão disso. 

O inverno chegou e trouxe com ele as famigeradas festas de fim de ano. Dessa vez a única coisa positiva que o natal e o ano novo me trouxeram foi a pausa de duas semanas da universidade, usei os dois primeiros dias para fazer tudo que poderia me atrapalhar quando retornasse e o restante do tempo queria pôr meus seriados em dia e dormir.

Minha família estava uma droga e parecia que só eu enxergava isso, Maggie colocou panos quentes e Finneas concordou e ignorou todo o resto, papai nem faz ideia de nada disso. Não conseguiria sentar na mesa e o encarar sabendo de toda aquela palhaçada, não sou criança e por isso não podem me obrigar a ficar encenando uma família perfeita. Não sou um fantoche.

Entretanto mesmo se tudo estivesse bem, sabia algumas coisas de Charlotte, coisas que ela havia me contato no inicio quando ia no Call 666 vê-la. Charlotte aparentemente não tinha família, ou, não convivia com eles. Por isso sabia que passaria as festas de fim de ano sozinha provavelmente no dormitório e trabalhando nos dias em que a lanchonete estivesse funcionando.

Me preocupava com ela, dela estar se sentindo sozinha, me perguntava se essas datas a deixavam emotiva. Me questionava se sentia muito frio ao sair do seu turno tarde da noite e torcia para que chegasse de volta ao campus em segurança. Às vezes pensava em mandar uma mensagem perguntando como estavam indo as coisas mas não queria agir como se tudo estivesse bem assim como não queria me aproximar e agir igual uma babaca por não ter processado todas as mentiras.

Talvez seja melhor deixar ela ir... Deixar com que ela se forme, abra seu círculo de amizades, arrume um emprego e quem sabe ela até decida mudar para uma cidade e reconstruir uma vida equilibrada como sempre quis. Deixá-la partir para outras vivências, experiências, sozinha ou acompanhada pode ser meu maior ato de amor.

{···}
Notas da autora:

Hey,
Capítulo novo, tem bastante coisa subentendida, uns spoilers futurísticos...

Espero que gostem, apesar que se quisessem "mistérios" era melhor ter entrado na turma do Scooby-Doo...

Vejo vocês à noite.

Cuidem-se.