4. E o sino tocou

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A manhã de segunda tinha tudo para ser tranquila.

Mas não foi.

Wendy e eu nos perdemos no caminho para o café e só não chegamos atrasadas porque eu insisti que saíssemos de casa bem mais cedo que o normal. Eu sabia que esse tipo de coisa aconteceria com a gente.

A nossa nova chefe, Karen, foi transferida de Seattle, então ela não estava tão feliz assim, já que foi uma mudança drástica em sua vida, e parecia que havia sido repentina. Ela foi receptiva conosco, mas não era tão legal quanto Bella, com certeza. Wendy, constantemente, me lançava olhares de desespero como se dissesse "vamos pedir demissão porque ainda dá tempo", mas eu respondi que era tudo uma questão de se acostumar com a nossa nova vida e isso incluía nos adaptarmos à nova chefe.

Eu conheci mais dois funcionários hoje, Liam e Molly que não foram transferidos de lugar nenhum, eram apenas recém contratados. Ambos foram bem legais conosco e assim eu tive esperança de que seria um ambiente agradável de se trabalhar.

Isso até descobrirmos que Karen era a maluca da limpeza. Eu pensei que a inauguração do café seria hoje, mas todos os funcionários descobriram que aquele era o dia da faxina de pré inauguração. E isso até fazia sentido, até Karen nos fazer limpar a cafeteira com uma escova. Não era uma escova de dentes, mas o tamanho chegava perto.

Lavamos todo o salão e cozinha com água e sabão. Passamos vários produtos de limpeza nas mesas, nas cadeiras e nas máquinas, e até nas portas dos armários de equipamentos. Ao final do dia, todos estavam mortos, encostados na parede da dispensa para não sujar as cadeiras de suor, segundo Karen. Até ela parecia cansada apesar eu não ter visto ela pegar em um pano sequer.

Karen era uma mulher de mais de quarenta anos, com certeza, mas que, obviamente fazia de tudo para esconder a idade. Era muito provável que seus cabelos loiros, exageradamente artificiais, fossem uma tentativa de esconder os fios brancos que começavam a nascer. Além, é claro, dos dois quilos de maquiagem que ela passava.

Quem faz uma maquiagem tão pesada assim às sete da manhã?

- Vocês foram ótimos na limpeza, queridos. - ela sorriu simpática, mas eu tive a impressão de que aquele não era um sorriso sincero - Vocês estão liberados, vejo vocês amanhã duas horas antes do usual, pois precisamos nos preparar para a inauguração. Todos vocês já conhecem as receitas da casa, certo? - todos concordamos com a cabeça - Ótimo! Quem de vocês sabe preparar melhor as receitas veganas? Quero investir nesse cardápio nessa nova unidade do StarCoffe.

Olho para os outros três funcionários que abaixam a cabeça e desviam os olhares. Eu suspiro e levanto a mão.

- Eu tenho bastante experiência com as nossas receitas veganas... acho. - respondo incerta.

- Ótimo! Eu irei supervisionar seu trabalho de perto amanhã. Podem ir. Até amanhã, queridos! - ela força um sorriso mais uma vez e sube as escadas com uma postura onipontente demais para uma gerente de um simples café.

- Ela é tão... - Molly começa.

- Vaca? - Wendy complementa é todos rimos.

- Eu iria dizer falsa, mas vaca também serve.

Molly era uma garota asiática, de cabelo curto até os ombros, muito pequena e que não aparentava sua idade de 20 anos. Eu diria que ela tem 16 anos, facilmente. Ela naturalmente tinha uma voz fina, o que significava que mesmo que você a ouvisse xingar por horas ainda sim pensaria "awnn, que fofa". Eu sei disso porque foi o que pensei ao longo do dia quando descobrimos vários palavrões em coreano graças a ela.

O único garoto entre nós era Liam. Ele tinha 19 anos e parecia alto demais para a idade. Tinha um corpo musculoso, mas nada exagerado, graças aos anos trabalhando fazendo pães na padaria de seu pai que veio à falência no ano passado. Os cabelos de Liam eram loiros de um tom bem claro e seus olhos eram de um verde tão brilhante que quase cheguei a perguntar se ele usava lentes de contato.

Lost In Los Angeles - Aidan GallagherOnde histórias criam vida. Descubra agora