Vamos ser uma família!

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Os pequenos flocos de neve bailavam despretensiosamente pelo ar, os sons oriundos da natureza, tal qual o assovio do vento transitando por entre as árvores, compunham uma bela e singular sinfonia acalentadora de corações.

Um jovem Alfa solitário corria pela neve espessa, seguindo por pura curiosidade o pequeno rastro de sangue deixado pelo caminho, deparando-se no fim com um lobo de pelos negros e brilhantes como uma espetacular noite estrelada entre uma pequena concha de pedras, sem saída.

– Ei, não precisa ficar assustado, não quero te machucar. - Portando um pequeno sorriso simples nos lábios, o Alfa fez questão de suprir sua dominância o máximo que podia para não assustar ainda mais o Ômega que recuava assustado, evidentemente em modo de defesa para proteger da sua ferida e a si de uma possível opressão que a criatura desconhecida poderia lhe causar. – Está tudo bem, vê? Não vou fazer nada.

O moreno em pé havia visto as manchas de sangue e rapidamente avistou o lobo correndo com dificuldades, tratou de segui-lo para ajudá-lo, porém logo que sua presença foi notada, recebeu em resposta hostilidade do outro. Estava irritado, seja lá qual fosse a razão, não gostava de ver a sua espécie, ou qualquer outra, se sentir daquela forma, machucada e oprimida ao ponto de atacar quem quer que se aproxime, mesmo demonstrando boas pretensões. 

Ainda portava um sorriso apesar do que sentia, numa tentativa de transmitir calma para que pudesse ajudá-lo, mas o lupino, por sua vez, se viu encurralado, ferido e ao alcance de um desconhecido, a sua mercê. Guiado pelos instintos tentou usar a última opção que tinha e se virou irritado, rosnando numa vã tentativa de afastá-lo – uma postura hostil que indicava que deveria se afastar não era o suficiente para que o outro acatasse o pedido.

Contudo, assim que o lobo se virou, sua posição hostil dissipou-se ao encarar ainda irado os olhos negros do outro. Todos os sentimentos que existiam até então extinguiram-se para dar espaço a uma nova avalanche que os atingiu.
Os pares de íris âmbar e ônix transmutaram-se para tons fulvos e curéleos no mesmo instante que se encontraram, um sentimento distinto e intenso se instalou em seus peitos onde os corações entravam em um perfeito descompasso, harmonicamente unidos.

Era como se a cortina que os permitia vislumbrar a paisagem externa houvesse sido fechada e além da escuridão existisse apenas seus corpos inertes, perdidos um no outro. Um sentimento quente e aconchegante instaurou-se à medida que suas almas reconheciam uma a outra como partes de um todo, e a necessidade de proteger, cuidar e aproximar-se era internalizada.

Inevitavelmente o prelúdio da união sucedeu-se, e a partir daquele momento estavam ligados.

Todavia uma interrupção inesperada de passos trouxeram-nos de volta ao mundo. O Ômega se virou assustado por onde viera, seus instintos entrarem em conflito, porém o mais intenso se sobressaiu, guiando seu corpo de volta, afastando as novas presenças do Alfa que não deveria estar ali e muito menos poderia ser visto.

A besta interna do Alfa brandiu para que ele fosse atrás do outro, mas o receio o fez recuar, afinal, as suas atitudes impensadas como aquelas que o havia feito perder tudo.

E, para ambos, protegerem um ao outro já era uma necessidade intrínseca, como se precisassem disso para viver. Porque suas almas, mesmo que eles ainda não soubessem e apenas tivessem uma pequeno vislumbre daquele encontro, conversaram e, em doces e sutis sussurros, haviam confessado que se amavam.

[...]

A casa da família D. estava silenciosa, as mentes dos presentes era uma profusão de inúmeros sentimentos, sobretudo a confusão.

O lupino da floresta proibidaOnde histórias criam vida. Descubra agora